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São Paulo de volta ao centro da cidade

São Paulo está colocando em prática o mais ambicioso plano de revitalização urbana de que o País já ouviu falar. Depois de lançar o programa para devolver ao centro da cidade as secretarias e órgãos estaduais – mudados para o Morumbi (Palácio dos Bandeirantes) nos anos 60 – o governo do Estado faz o chamamento para a compra de 5,8 mil imóveis destinados à moradia de famílias com renda de um a três salários mínimos. Para as faixas de maior poder aquisitivo, já funciona o sistema retrofit (termo que designa a modernização ou atualização de equipamentos, sistemas ou edifícios para adaptá-los às necessidades atuais). Alguns prédios foram revitalizados nos últimos anos e a Prefeitura acaba de aprovar mais 16 projetos nesse sentido. Independente da destinação original, tais imóveis são reformados para ser ir de residência e hotelaria de diferentes níveis. Há, na capital, mais de uma centena de edifícios fechados ou sub-utilizados, passíveis desse empreendimento.

Diz-se no meio político que o então governador Adhemar de Barros mudou o governo dos Campos Elíseos para o Morumbi para ficar distante do centro da cidade, onde era incomodado por visitantes ao seu gabinete. Queria trabalhar em paz e não conseguia. Mas, além disso, são vários os fatores que provocaram o esvaziamento do centro das cidades – São Paulo e muitas outras de diferentes tamanhos, em todo o Pais. – sendo o principal deles a urbanização desordenada e até irresponsável, que levou equipamentos urbanos, moradias e outros empreendimentos para pontos distantes do centro, deixando este ocioso e o mapa municipal repleto de vazios urbanos. O resultado mais perverso daquela opção é obrigar a população a enfrentar longos períodos de transporte para ir e voltar ao trabalho, seja ele no centro ou em bairros. Estudo que leva em consideração os diferentes, meios que o paulistano utiliza – ônibus, metrô, trem, carro e até bicicleta – revela que cada indivíduo emprega, em média, 2 horas e 25 minutos por dia para se deslocar e cumprir seus compromissos

Da forma que o novo centro administrativo estadual está em formatação, dificilmente haverá o abandono futuro de prédios, fato comum na administração pública contemporânea. Isso porque eles serão construídos e administrados pelo sistema de Parceria Público Privada (PPP) em que o investidor aplica seus recursos e o Estado é o inquilino por prazo determinado (normalmente 30 anos). O próprio investidor administra o imovel, tem lucro com isso e terá interesse em dar-lhe um aproveitamento se um o governo decidir parar de utilizá-lo.

Para os imóveis residenciais, o Estado empregará seus programas habitacionais para garantir o acesso dos trabalhadores conforme a sua faixa de renda e com as vantagens e descontos do sistema. Já no retrofit, os investimentos serão das incorporadoras e fundos imobiliários, dentro das regras de mercado.

O propósito do governo é recuperar o centro paulistano para que volte a ter a potência econômica de outrora. Além dos investimentos imobiliários cujo propósito é modernizar a infraestrutura, ainda se encontram em andamento os esforços para a solução e remoção da cracolância e de outras atividades consideradas ilegais desenvolvidas pelo crime organizado. Um sistema aplicável em todas as localidades onde a zona central se encontram sub-aproveitadas e até sucateadas. Poderá ser a solução para centenas, talvez milhares dos 5570 municípios brasileiros. Evidentemente, muitos deles podem ter apenas problemas estruturais e ainda não padecer da criminalidade, devendo aplicar apenas as providências que ali sejam necessárias…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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