A linguagem conceitual nas informações institucionais de Responsabilidade Social

Por Edna Maria Campanhol
Está na moda falar de Responsabilidade ESG – Environmental, Social, Governance para as empresas. O empreendedor na concepção de seu negócios deve partir da visão global de sustentabilidade nos campos ambiental, social e de gestão.
A reflexão nesse artigo é sobre a necessidade de dominar conceitos ao comunicar informações de Responsabilidade ESG pelas instituições sob pena de descrédito ao divulgar palavras vazias e desconectadas com a realidade.
Ainda não existe um padrão único obrigatório que permita ao leitor-consumidor fazer comparativo “Responsabilidades” e optar por produtos e serviços mais comprometidos com a vida em seus diversos aspectos – social, ambiental, cultural, educacional, econômico, financeiro, ético etc.
As empresas ao escolherem quais informações divulgar, instintivamente, podem omitir aspectos negativos de suas operações. Isso dificulta a comparação entre empresas e setores. Muitos relatórios ESG focam em boas práticas isoladas ou projetos específicos, os “casos de sucesso”, mas não mostram de forma clara os impactos gerais das operações da empresa, como emissões totais de carbono, condições de trabalho ou impactos nas comunidades locais.
“Greenwashing” é a palavra mágica ao se criticar práticas empresariais de divulgação de informações pouco precisas. Muitas empresas são acusadas de “greenwashing”, ou seja, de exagerar ou até inventar práticas sustentáveis apenas para melhorar sua imagem pública. Elas investem mais em marketing do que em mudanças reais em seus processos ou impactos.
O discurso de sustentabilidade muitas vezes é usado para esconder práticas ilegais e altamente poluentes. Ou, no mundo da moda pode haver divulgação de ações simbólicas de “Responsabilidades” para mascarar modelos de fast fashion (moda rápida), que é estruturalmente insustentável.
O que se sabe é que ainda há pouca coerência na comunicação social da prática real e das externalidades do processo de produção de produtos e serviços. Isso pode gerar danos muito sérios à reputação das empresas, além de impactos negativos para a sociedade e o meio ambiente.
Muitos dados são superficiais ou difíceis de auditar, com informações muito genéricas, sem métricas claras, metas quantificáveis ou dados auditáveis. Isso gera desconfiança sobre a veracidade e seriedade dos compromissos anunciados.
Por outro lado, têm sido dada prioridade ao investidor, não à sociedade. Com a popularidade dos investimentos ESG, muitas empresas passaram a moldar seus relatórios pensando em atrair capital — focando no que é interessante para o mercado financeiro, mas nem sempre no que é relevante para a sociedade ou o meio ambiente. O mercado financeiro muitas vezes “pinta” de verde produtos tradicionais para atrair investidores preocupados com ESG.
Há uma desconexão entre discurso e prática, um “gap” de implementação. Mesmo empresas que assinam compromissos internacionais ou publicam relatórios vistosos, às vezes, mantêm práticas internas incoerentes — como exploração de trabalho precário, lobby contra legislações ambientais, ou operações que degradam o meio ambiente.
A discussão sobre as “Responsabilidades” mal começa, é um imperativo para todas as instituições – órgãos públicos, assistenciais, empresas privadas – comércio, indústria, serviços, universidades, lares.
Em 2024 estive em uma Conferência em Milão sobre a temática. Nos últimos anos, surgiram novas regras e padrões que tentam exatamente atacar esses problemas de informação imprecisa, greenwashing e falta de comparabilidade em ESG.
Para a União Europeia entrou em vigor em 2023, aplicável a partir dos relatórios de 2024, o CSRD – Corporate Sustainability Reporting Directive – Europa. O objetivo é tornar os relatórios de sustentabilidade tão rigorosos quanto os financeiros. As empresas precisam seguir padrões claros e obrigatórios do ESRS – European Sustainability Reporting Standards. As informações ESG precisam ser verificáveis, há necessidade de auditoria externa obrigatória. As empresas devem usar o conceito de “dupla materialidade” – como o ambiente afeta a empresa (risco financeiro) e como a empresa afeta o ambiente/sociedade (impacto real). A aplicação será progressiva: primeiro grandes empresas, depois médias e pequenas.
Para o mundo, criado pela IFRS Foundation – International Financial Reporting Standard – a mesma dos padrões contábeis internacionais, o ISSB – International Sustainability Standards Board lançou seus primeiros padrões em 2023. O objetivo foi criar um padrão global único para divulgação de informações de sustentabilidade relevantes para investidores. Estudamos em Milão os principais documentos: IFRS S1 (Disclosure of Sustainability-related Financial Information) e IFRS S2 (Climate-related Disclosure).
Para o Brasil foram lançadas as Normas Brasileiras de Contabilidade (*NBC) equivalentes a IFRS S1 e S2, no mesmo dia em que estávamos em Milão, outubro de 2024. O foco é em informações consistentes, comparáveis e auditáveis, alinhadas com o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) e Integração de riscos ESG no planejamento e nas demonstrações financeiras.
A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) propôs novas regras para obrigar empresas públicas a divulgar riscos climáticos e dados de emissões e está em andamento. Trata-se de divulgação obrigatória de emissões de carbono. Os riscos climáticos precisam ser integrados nos relatórios financeiros.
Outros Padrões Complementares estão em processo de desenvolvimento contínuo, como: o EFRAG (European Financial Reporting Advisory Group); o TNFD (Task Force on Nature-related Financial Disclosures); o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures), voltado para impactos sobre a biodiversidade e a natureza; GRI (Global Reporting Initiative) – que continua importante, especialmente para empresas que focam mais no impacto social e ambiental do que apenas no financeiro.
Enfim, a CSRD foca na Europa, com um olhar mais amplo (impactos + riscos financeiros); a ISSB tenta criar uma linguagem comum global, mais focada nos riscos relevantes para investidores; a SEC e outros reguladores nacionais também estão apertando as regras. Tudo isso quer tornar as informações ESG mais transparentes, auditáveis e comparáveis. E, combater de frente o greenwashing.
Quando as empresas comunicam sua responsabilidade social, ambiental e de governança (ESG), é importante que compreendam os seguintes conceitos:
Responsabilidade Social: Refere-se ao compromisso das empresas em agir de maneira ética e contribuir positivamente para a sociedade. Isso inclui práticas que beneficiem os funcionários, comunidades locais e a sociedade em geral, além de minimizar impactos negativos.
Responsabilidade Ambiental: Envolve a gestão responsável dos impactos ambientais das operações da empresa. Isso pode incluir a redução da pegada de carbono, conservação de recursos naturais, uso sustentável de energia, gestão de resíduos e adoção de práticas ecológicas.
Responsabilidade de Governança: Refere-se às práticas de governança corporativa que garantem a transparência, integridade e responsabilidade na gestão da empresa. Isso inclui políticas contra corrupção, divulgação de informações financeiras precisas, estruturas de liderança eficazes e respeito aos direitos dos acionistas.
Além dos conceitos, as empresas precisam entender a importância de comunicar essas práticas de forma transparente e autêntica, demonstrando seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social perante os stakeholders e a sociedade em geral.
Franca é uma cidade privilegiada. É uma das melhores cidades para se viver. E precisa inserir em todas as suas instituições uma discussão ampla de suas “Responsabilidades” e da divulgação honesta dessas “Responsabilidades” para que sejam retrato fiel da prática vivida pelos seus cidadãos. Não se trata de mais “ismo” – modismo, ambientalismo. Trata-se de amadurecimento ao encarar os problemas decorrentes da existência humana em suas relações éticas com os mundos – animal, vegetal e mineral.
* Normas Brasileiras de Contabilidade:
NBC TDS 01 – Requisitos gerais para divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade
NBC TDS 02 – Divulgações relacionadas ao clima
Edna Maria Campanhol é professora do Unifacef e integrante do Fórum Franca Sustentável