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A Mata Atlântica de São Paulo

Consta que a Mata Atlântica, uma das florestas mais ricas em biodiversidade do mundo, ocupava 15% do território nacional ao tempo do descobrimento. Nessa mesma época correspondia a quase 70% do território do Estado de São Paulo. A sua destruição no País começou logo após o descobrimento, pela exploração do pau-brasil, que passou a ser exportado para a Europa. Explorado até à beira da extinção, e com ele a Mata Atlântica litorânea onde se situava, foi gradativamente dando lugar à plantação de cana-de-açúcar, principalmente na região Nordeste. Hoje restam 12,5% desse bioma original, distribuído por dezessete Estados do Brasil.

A porção situada no Estado de São Paulo ainda resistia quase intacta até o início do século passado, quando teve início o ciclo do café na região. Hoje, embora distinguida pela Constituição Federal como patrimônio nacional, a Mata Atlântica continua recuando, ainda que em menor proporção do que outros biomas. Em São Paulo ela é responsável pela “produção” da água que serve grande parte dos centros urbanos, inclusive a capital e seus arredores, mas continua encolhendo. Até mesmo a cidade de Franca se serve de águas captadas do rio Sapucaí, cujas nascentes se situam em fragmentos de Mata Atlântica do Sul de Minas Gerais.

Monteiro lobato nos dá informações sobre algumas espécies que compunham a Mata Atlântica da nossa região e as razões da sua destruição no começo do século passado: a expansão agrícola, principalmente da cafeicultura, a partir de Campinas. Em “A Onda Verde” descreve a derrubada da floresta nativa até com certo lirismo: A região era todo um mataréu virgem de majestosa beleza… o bandeirante moderno, machado ao ombro e facho incendiário na mão, vinha agora, não para penetrá-lo, mas para destruí-lo” … nunca lhes amolentou o pulso a beleza augusta dos jequitibás de frondes sussurrantes como o oceano, nem o vulto grave das perobeiras milenárias… sua ambição feroz preferia à beleza da desordem natural a beleza alinhada da árvore que dá ouro.

Em outra crônica do mesmo livro relata uma experiência realizada pelo chefe do Horto Florestal de Rio Claro, especializado no plantio de eucaliptos, com objetivo de comparar a resistência mecânica do “guarantã”, uma espécie nativa da Mata Atlântica, de grande porte, madeira dura e pouco elástica, com o eucalipto teriticonis. Como era do seu feitio, ridicularizou a espécie nativa que “perdeu” o desafio para o eucalipto, uma espécie australiana aclimatadas em São Paulo a partir do ano 1900, com o objetivo de fornecer combustível às caldeiras das locomotivas, compor os dormentes e postes de iluminação das estradas de ferro. A visão das floresta de Monteiro Lobato é consentânea com sua época, em que não havia preocupação com a preservação ambiental.

Robin L Chazdon, bióloga norte americana, no livro “Renascimento de Florestas – regeneração na era do desmatamento”, esclarece queas florestas tropicais são ecossistemas altamente frágeis e vulneráveis pela sua complexa estrutura vertical, alta diversidade de espécies e intrincada rede de interação entre as espécies. E que, em condições naturais, quando a degradação não atinge a estrutura do solo, a regeneração pode levar mais de um século. Quando os obstáculos à regeneração prevalecem, deve haver intervenção humana.

Percebe-se que a questão em matéria de meio ambiente já não é apenas preservar o que resta, mas permitir a regeneração das florestas. Todos os especialistas alertam que passa da hora de replantar florestas em todas as partes do mundo se quisermos evitar o aquecimento global e suas consequências. Quanto à Mata Atlântica, que demora um século para se regenerar integralmente, requer de todos nós não atuação urgente, mas urgentíssima!

Um dos problemas da Mata Atlântica, principalmente no Estado de São Paulo, é que o que resta são pequenos fragmentos espalhados em milhares de propriedades privadas. Falta um plano de governo para que sejam criados os corredores ecológicos, ligando esses fragmentos, para que se possa dar uma chance à grande diversidade da fauna que perambula entre esses nichos. Aí está uma ideia para o Governo do Estado de São Paulo – e por que não ao de Franca? – criarem corredores ecológicos ligando fragmentos de Mata Atlântica enquanto replantamos florestas…

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

2 Comentários

    1. Estamos empolgados pelo que conseguiriam produzir, sustentável e sustentadamente, as virtuais reflexões sobre o Ambiente Inteiro, aliás, o Meio Ambiente, propiciadas por colaboradores denodados e entendidos nesta Folha de Franca, bebezinha como meio eletrônico noticioso, que pensa como adulto responsável, parceiro ativo e proativo do Supremo Criador.
      Muda ou semente, passa da hora do urbanóide fechar parceria com o naturista, que seja por arrendamento, para plantar, replantar, recuperar, … porque um caipira sábio gosta de pronunciar que ‘quando está pegando fogo na mata, o leão dá a mão pro macaco’! Obrigado a todos os articulistas. A vida lhes agradece.

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