Opiniões

Bipolar, eu?

É sério, gente.
Vamos falar de Transtorno Afetivo bipolar.

O que é

É a alternância entre estados depressivos e maníacos como tônicas da patologia.
Muitas vezes o diagnóstico correto só será feito após muito tempo de investigação clinica.
Desdobremos esses dois estados de humor.
O termo mania é popularmente entendido como tendência a fazer várias vezes a mesma coisa. Já mania, em psiquiatria, significa um estado exaltado de humor que será descrito mais detalhadamente adiante.
Por outro lado, a depressão, presente no transtorno bipolar, é muito semelhante à depressão recorrente. Os tratamentos é que são diferentes.

Características

O início desse transtorno geralmente se dá em torno dos 20 a 30 anos de idade; o que não descarta as situações mais raras, que podem começar mesmo após os 70 anos.
A manifestação do distúrbio emocional pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase maníaca, iniciando-se, gradualmente, ao longo de semanas, meses ou, abruptamente, em poucos dias, já com sintomas psicóticos. E é isso o que muitas vezes se confunde com síndromes psicóticas.
Além dos quadros depressivos e maníacos, constatam-se também os quadros mistos (sintomas depressivos simultâneos com os maníacos). O pior é que, nessas hipóteses, não raras vezes confunde os médicos do paciente, retardando o diagnóstico da fase em atividade.

Fase maníaca

Tipicamente, leva de uma a duas semanas para começar e, quando não tratado, pode durar meses. O estado de humor está elevado, podendo isso significar uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva.
Junto a essa elevação encontram-se alguns outros sintomas, como a exacerbação da autoestima, sentimentos de grandiosidade, a ponto de chegar a manifestações delirantes de superioridade, como que se considerando uma pessoa especial, dotada de poderes e capacidades únicas, como as telepáticas.
É comum o aumento da atividade motora, externada em grande vigor físico e que, apesar disso e por isso, ocasiona uma diminuição da necessidade de sono.

O paciente apresenta uma forte pressão para falar ininterruptamente, de modo que as suas ideias correm rapidamente, levando-o a não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma ideia não concluída em outra sucessivamente. A isto denominamos fuga-de-ideias. O paciente apresenta um exagero da percepção de estímulos externos, que fazem com que se distraia, constantemente, com pequenos ou insignificantes acontecimentos alheios à conversa em andamento.

Aumento do interesse e da atividade sexual. Perda da consciência a respeito de sua própria condição patológica, tornando-se uma pessoa socialmente inconveniente ou insuportável.
Envolvimento em atividades potencialmente perigosas sem manifestar preocupação com isso.
Podem surgir sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia; o que não significa uma mudança de diagnóstico, mas que mostra um quadro mais grave presente.

Fase depressiva

É, de certa forma, o oposto da fase maníaca. O humor está depressivo, a autoestima em baixa, marcada fortemente por sentimentos de inferioridade.
A capacidade física esta comprometida, pois a sensação de cansaço é constante.
As ideias fluem com lentidão e dificuldade, a atenção é difícil de ser mantida e o interesse pelas coisas, em geral, é perdido, bem como o prazer na realização daquilo que antes era agradável.
Nessa fase o sono também está diminuído. Porém, ao contrário da fase maníaca, não é um sono que satisfaça ou descanse, uma vez que o paciente acorda indisposto.
Quando não tratada, a fase maníaca pode durar meses também.
A qualidade de vida se vai.

Como se trata?

O lítio é a medicação de primeira escolha.
Não que seja, necessariamente, a melhor para todos os casos. Frequentemente, torna-se importante acrescentar os anticonvulsivantes, como o tegretol, o trileptal, o depakene, o depakote, o topamax.
Nas fases mais intensas de mania, podem-se usar, de forma temporária, os antipsicóticos.
Portanto, havendo sintomas psicóticos, é quase obrigatório o uso de antipsicóticos.
Nas depressões resistentes, pode-se usar antidepressivos, com muita cautela. Há pesquisadores que condenam o uso de antidepressivo para qualquer circunstância nos pacientes bipolares em fase depressiva, por causa do risco da chamada “virada maníaca”, que consiste na passagem da depressão diretamente para a exaltação em um curto espaço de tempo.

O tratamento com lítio ou algum anticonvulsivante deve ser definitivo, ou seja, está recomendado o uso permanente dessas medicações, mesmo quando o paciente está completamente saudável, e mesmo depois de anos sem ter problemas.
Esta indicação se baseia no fato de que tanto o lítio como os anticonvulsivantes podem prevenir uma fase maníaca, poupando, assim, o paciente, de maiores problemas.
Infelizmente, por respeito à dignidade do paciente e também das pessoas de seu círculo familiar e social, devemos enfatizar que o uso contínuo não garante ao paciente que ele não terá recaídas, e, sim, apenas diminui as chances disso acontecer; o que já é um ganho inestimável para uma existência mais feliz.

Théo Maia Pedigone Cordeiro

Médico de Família e Comunidade pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

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