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Reflexões sobre transição de carreira e crescimento profissional

Nossa sociedade atribui importância fundamental à profissão e à trajetória profissional. Muito pode ser dito sobre alguém baseado nos caminhos trilhados, nos locais trabalhados, nos projetos empreendidos e sobre o resultado alcançado em cada um deles. Se sucesso e fracasso podem – e devem – ser entendidos como conceitos individuais, variáveis de acordo com o entendimento de cada um de nós, a sociedade, de modo geral, costuma atribuir peso ou relevância a cada profissional de acordo com suas próprias conquistas particulares. Isto não necessariamente será compatível com o próprio senso de valor que o indivíduo atribui a si mesmo, contudo, seu branding construído diante da sociedade inevitavelmente virá de suas ações atuais e construções passadas.

Ainda que sob as melhores circunstâncias, e mesmo que se esteja inserido em uma carreira dita de sucesso ou mesmo de prestígio, é possível que em algum momento de sua trajetória o profissional perceba uma ausência recém-chegada (ou talvez nem tanto), uma urgência de algo ainda sem nome, uma espécie de falta de apetite para o trabalho, cada final de jornada diária se tornando simplesmente “mais um dia”, onde algo incomoda sem que fique claro exatamente o que é. Com o passar do tempo, o próprio local de trabalho vai como que esfriando, arrebentando os vínculos de afeição e de satisfação que algum dia podem ter estado ali. De repente, um divórcio emocional foi feito e a relação entre o profissional e sua profissão se mostrou abalada. Naturalmente outros fatores menos subjetivos podem estar envolvidos: dificuldades financeiras, pouco campo para aplicação de seus conhecimentos na região em que vive, algum sonho antigo que fora deixado de lado, sede por novos conhecimentos, etc.. Finalmente o indivíduo conclui que uma mudança na vida profissional é necessária. Muitas vezes, uma mudança de profissão, não apenas um novo trabalho, mas um novo caminho.

Fazer uma transição de carreira não é de modo algum algo simples ou rápido. Demanda tempo, esforço, dedicação e escolhas assertivas e honestas. Deve-se ter em mente que é um processo relativamente dolorido. Implica em “soltar a corda” quanto a projetos e esforços que não trouxeram o resultado esperado (ou que em algum momento deixaram de trazer o resultado esperado). Isso não invalida suas competências particulares. Apenas mostra que seus talentos podem não estar sendo aproveitados adequadamente, seja pela profissão em si, seja pelo local em que trabalha ou mesmo pelo público-alvo a quem vem destinando seu trabalho.

Trago abaixo alguns pontos para reflexão, recomendáveis para quem esteja pensando em mudar de profissão:

  1. Faça uma escolha honesta com você mesmo (a). Se a insatisfação mostrou que é melhor mudar a rota e seguir por um novo caminho, escolha o caminho apontado pelo seu verdadeiro eu. Não se concentre muito em ideias limitantes do tipo “escolherei tal profissão por ser bem vista socialmente” ou “minha mãe, se estivesse aqui, teria orgulho”. São aspectos até interessantes de serem considerados, porém, se for um caminho que não faça seu coração bater mais rápido ou que não lhe traga muita alegria ao imaginar-se exercendo, esta não será a melhor escolha pra você. Opte por um caminho em que sua voz interior diga “eu verdadeiramente gostaria muito de exercer isso”.
  2. Não permita que seu emocional escolha por você. Pense com a cabeça, por assim dizer. Se a beleza não se põe na mesa, os sonhos também não. Ao menos não os sonhos desprovidos de muito planejamento e esforço. Isso pode soar contraditório com o primeiro item, reconheço. Na verdade estou propondo que a escolha seja feita de modo responsável. A depender do que se decida seguir, esta nova carreira pode ser tentada como uma “segunda opção”, por um tempo, até que se mostre rentável o bastante. Por ex. imaginemos um engenheiro civil que decide ser digital influencer nas redes sociais. Isso é totalmente possível atualmente, dentro de certas – muitas – condições. Talvez iniciar o trabalho na internet falando sobre sua profissão primária (a engenharia civil) tanto para colegas quanto para estudantes da área poderia fazê-lo (a) ganhar terreno para, aos poucos, ir produzindo novos conteúdos sobre outros assuntos e assim construir uma nova carreira, para além da carreira anterior.
  3. Pesquise sobre a profissão que escolheu. Procure dados sobre as condições atuais do mercado, média salarial e as prospecções para o futuro a curto e médio prazo.  Fale com pessoas da área e pergunte suas opiniões, se fossem ingressar neste meio hoje, manteriam suas escolhas ou se buscariam outros caminhos?
  4. Procure por formações ligadas à sua nova área de atuação. Nem tudo precisa de faculdade, porém, quem se prepara sai na frente. Há muitas opções de cursos profissionalizantes, técnicos, graduações, pós-graduações no Brasil, muitos podendo ser realizados virtualmente, sem sair de casa e com preço acessível. Pense enquanto empresário: imagine que você irá contratar alguém para exercer esta profissão que você está buscando. Quem você preferiria contratar: alguém que tem apenas boa vontade e muita motivação para aprender ou alguém que além de ter isso também já possui um conhecimento prévio, vindo de uma (ou mais de uma) formação já realizada?
  5. Prepare-se para a luta na selva. Caso não seja possível utilizar sua nova profissão em seu trabalho atual e se você não está pensando em ser um profissional autônomo, prepare-se para brigar no mercado pela sua recolocação. Trabalhe seu autoconhecimento, prepare-se para entrevistas de emprego e pesquise os locais onde é possível aplicar a profissão escolhida.
  6. Não se esqueça: um degrau por vez. E cada um é importante para chegar ao topo da escada.
  7. Não menospreze nem abandone os conhecimentos conquistados em trabalhos anteriores. Sua profissão antiga sempre fará parte de quem você é. Trata-se muito mais de agregar mais valor e conhecimento à construção que já vinha sendo feita. Além disso, não se sabe quando você precisará de alguma habilidade extracurricular que poderá, inclusive, ser vista como um diferencial seu.
  8. Caso a transição seja muito dolorosa e difícil, recomendo que procure uma psicoterapia. Nossa vida profissional é parte do nosso senso particular de identidade e de autovalor e a psicoterapia poderá ajudar e muito a refletir sobre seus desejos, suas necessidades e a encontrar a força interna para tomar decisões e reparar as férias internas.

Não devemos nos esquecer, também, que não há idade limite para mudar, para aceitar as próprias dificuldades e buscar ajuda, para aprender, para reaprender algo, a partir de técnicas mais modernas, etc.. É sempre tempo e sempre há tempo. O importante é permitir-se ser o protagonista de sua vida e avançar, mesmo que com algum medo do que o futuro reservará. Tenhamos em mente que nossa biografia já está sendo escrita; o que você está escrevendo na sua?

Douglas Marcel da Silva Buzoni

É graduado em Psicologia (Unifran/2016) e pós graduação em MBA – Gestão em Marketing e Recursos Humanos (FCETM/2020), Direção de Arte (Anhnaguera/2024) e MBA em Engenharia de Produção (Anhanguera/2025). Autor do livro “Desenvolvimento da Personalidade: Teorias e Técnicas” pela editora Autografia. (http://lattes.cnpq.br/3581407845341281)

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