Os Gregors Samsas
E se eu,
Depois de um sono intranquilo,
Acordasse metamorfoseado um inseto?
Não estou brincando, é sério!
Eu rastejaria pelo chão
E me sobrariam apenas restos.
Dormiria sobre algo úmido
Num lugar deletério.
Homens tentariam me aniquilar,
Ou, no mínimo, espantar para longe: Sai!
Mulheres subiriam em cadeiras:
Mata!, com gritos histéricos.
Eu imploraria: “me dê comida!”.
E receberia olhares de asco.
Eu gritaria: “quero ser gente!”.
Mas meu cheiro é fétido.
Me reprozuria em encontros casuais,
Num acasalamento cheio de fluídos.
Depois, deixaria a fêmea com os ovos
E voltaria ao meu eremitério.
No entanto, não tenho pesadelos,
E nem Samsa sou.
Durmo, quiçá hiberno,
Num lugar asséptico.
Somos homens e ignoramos nossos insetos.
Eles estão por aí, em cada esquina, cada metro,
Implorando por ser gente,
Esperando vaga em um abrigo, ou num cemitério.
Primeiro somos convidados a mergulhar na história, depois, já ambientados, mergulhamos na reflexão. Muito bom!!!