No lugar de direita, da esquerda e de suas intermediárias, o debate das soluções para o País. A proposição é do empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Movimento Brasil Competitivo que, entre outras atividades, lidera a luta para baixar o chamado “Custo Brasil” que, segundo estimativas, drena anualmente R$ 1,7 trilhão da economia nacional para os cofres públicos e atividades burocráticas, tornando nossos produtos menos competitivos no mercado. Essa deve ser a. maior ou uma das maiores unanimidades dentre os brasileiros, já que os militantes de direita, esquerda, centro e outras orientações intermediárias não devem somar mais do que o número de brasileiros não militantes.
Direita e esquerda são conceitos políticos vindos da época da Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional, os partidários do imperador sentavam à direita e a oposição se posicionava à esquerda. Os da direita foram denominados conservadores e os das esquerdas chamadas progressistas, rótulos que perduram até nossos dias. Apesar de insistirem na definição, tanto conservadores quanto progressistas não guardam a mínima semelhança com os do passado. Suas práticas os transformaram em figuras praticamente iguais, com os mesmos predicados e fraquezas cujo maior resultado foi enfraquecer o viés ideológico do eleitorado. Prova disso é a alternância nos resultados eleitorais, onde a determinante da vitória vem de fatores de campanha ou acontecimentos fortuitos, nunca dá opção ideológica.
É essa constatação que nos leva a atentar ao que diz Gerdau, inclusive sua queixa da falta de diálogo entre o presidente da República e o empresariado. Longe de pretender orientar Lula, experiente político, pensamos que não deve desperdiçar a disposição de diálogo ainda presente nos titulares de negócios e dela tirar proveito para a tarefa de governar.
Devemos considerar que o País vive um momento tenso. A eleição presidencial, mercê da polarização política e de acontecimentos anteriores e posteriores, deixou fraturas expostas que precisam ser pacientemente curadas. O entendimento com as classes produtoras é uma importante ferramenta para a atuação em busca de soluções, tão significativo quanto o relacionamento com a classe política e a atuação harmônica dos poderes constituídos.
O empresariado é o grande responsável pelo desenvolvimento nacional do último século, quando saímos da condição de nação eminentemente agrícola, adquirimos tecnologia e tivemos a competência para não abrir mão de continuar sendo grande produtor agrícola, através das estruturas montadas pelo agronegócio. O governo, se quiser viver um mandato de paz e desenvolvimento, não pode abrir mão de ouvir esses “players”, na medida do possível atender as suas reivindicações e, quando não puder, ser altamente transparente para evitar ressentimentos. A questão do Custo Brasil, por exemplo, é uma estrutura criada ao longo dos anos; não custa ouvir o que têm a dizer os que por ele se sentem prejudicados e adotar medidas de longo prazo. O que não pode é virar as costas àqueles que, desmotivados, podem enfraquecer e até parar importantes setores da economia. Pense nisso, senhor presidente.
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