Colunas

EUA apreendem o avião de Maduro. E a eleição, como ficará?

A justiça norteamericana apreendeu na segunda-feira o avião que era utilizado por Nicolás Maduro. O aparelho – um jatinho Dassaut Falcon 900EX – encontrava-se “escondido” na República Dominicana e foi removido para o aeroporto de Fort Lauderdale (Flórida). Segundo as autoridades estadunidenses, o veículo foi adquirido por uma empresa de fachada, pelo equivalente a R$ 73 milhões, contrabandeado dos Estados Unidos para o país da América Central e servia ao governante venezuelano em seus deslocamentos ao exterior. A transação, segundo Washington, violou o bloqueio negocial dos EUA para com a Venezuela. Daí o seu arresto. Ao ser informado da ação, Maduro classificou-a como pirataria internacional cometida pelos EUA.

O episódio da aeronave é significativo e ganha mais importância ao se considerar que foi precedido pelo não reconhecimento do resultado da eleição venezuelana (e da anunciada vitória de Maduro) e de observações de violações de direitos humanos naquele pais. Recorde-se que além dos EUA, também recusam-se a reconhecer o resultado da eleição a União Européia, 11 países latinoamericanos e organismos internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e a ONU (Organização das Nações Unidas). Noticiou-se que a primeira já denunciou Maduro ao Tribunal Penal Internacional e pede a sua prisão. Só Brasil, Colômbia e México – embora também não reconheçam a vitória de Maduro, não condenaram o ocorrido na Venezuela. O presidente Lula limitou-se a dizer que Maduro deve enfrentar os resultados de sua opção.

Todo o problema está na falta de transparência na apuração da eleição de 28 de julho. O mecanismo eleitoral venezuelano anunciou a vitória do ditador mas não fez provas de que ela realmente teve mais votos. Pelo contrário, não divugou os boletins de votação, mesmo todos pedindo que o fizesse. Daí a conclusão de que o suposto ganhador não tenha obtido a maioria dos votos e possa ser declarado perdedor se os números forem conhecidos ou – o pior – que a Venezuela e seu governo, embora se qualifique como democrático, faz pouco do resultado de uma eleição porque o objetivo único é continuar no poder.

A nova complicação está na ordem de prisão emitida contra Edmundo González Urrutia – concorrente que se considera vencedor do pleito com mais de 60%. O Ministério Público, cuja chefia é vinculada a Maduro, acusa o opositor de ter violado o processo eleitoral ao divulgar informalmente uma parte dos boletins de urnas. Semana passada até crianças foram encarceradas na Venezuela de hoje que possui mais de 2 mil presos políticos decorrentes do inconformismo com o resultado eleitoral anunciado. Denuncia-se, agora que 700 dos detidos foram transferidos para prisões de maior segurança com seus prontuários acrescidos de novas acusações.

O quadro venezuelano é caótico mas nada diferente do que se estabeleceu há 25 anos, quando o falecido Hugo Chávez assumiu o poder. Sua política – seguida por Maduro – levou o país à crise econômica e agora poderá levá-lo ao “banho de sangue” que o próprio ditador ameaçou durante a campanha eleitoral. Já que rejetam o resultado eleitoral e os métodos empregados no pleito, a comunidade internacional tem o dever de mobilizar-se em vez de apenas produzir protestos. Na nossa opinião, cabe à OEA, ONU e ao TPI, como entidades supranacionais adotarem providências para evitar o pior e devolver a tranquilidade ao povo.

Durante o chavismo, 8 milhões de venezuelanos deixaram o país para fugir da fome e de perseguições. 500 mil deles vivem no Brasil, que os acolheu como refugiados. Pensamos que o governo brasileiro deve ter um posicionamento claro pela democracia e pelo resultado eleitoral, independente de quem seja comprovado vencedor. Se continuar em cima do muro como até agora, o presidente Lula corre o risco de – nessa questão – restar como a clássica mulher de malandro, que apanha todos os dias mas continua amando o seu algoz. Assim não dá…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo