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É sustentabilidade ou lucro?

As chuvas torrenciais e de granizo, terremotos, alagamentos, geadas, calor intenso, períodos de secas longas, e outras questões denominadas em contratos de seguradoras como “desastres naturais”, de fato merece o termo que se tornou parte do cotidiano. Há pelo menos trinta anos atrás, tudo isso não era frequente como em nosso tempo. Lembro de quando era criança: aprendi ao descascar bala e colocar a embalagem no bolso para não poluir a natureza. O tema cuidar do lixo, não poluir os rios, não poluir o ar, fazia parte de todo meu aprendizado de criança. Ainda que o alerta fosse frequente sobre o aquecimento global, sendo do interior paulista não parecia ser uma questão tão alarmante. Soava como exagero, por viver em um ambiente de plantações de café e serrado na cidade de Ribeirão Corrente.
Todavia, hoje com meus trinta e cinco anos apenas, sou testemunho de todos os acontecimentos em todo Estado de São Paulo. Eu e tantos outras pessoas. Não só ver tudo isso, como refletir como em tão pouco tempo tudo tem mudado tanto, no que se refere a natureza no mundo. Junto a isso, a questão da discrepância social, quanto o distanciamento do mais rico ao mais pobre ser latente e, ainda assim não ter ações concretas para solucionar essa desigualdade social. Sem contar que, observa-se um potencial de produção agrícola e pecuária capaz de alimentar toda a humanidade, e mesmo assim nos deparamos com pessoas passando fome.
Ainda, a capacidade que temos de gerar riqueza que não tivesse uma exploração desenfreada dos recursos naturais. Além da reflexão do descarte do lixo, e abuso contra as pessoas que vende seu tempo em prol da aquisição de um produto. Este que não é essencial para a manutenção da sua vida, mas que seu consumo é principal para a manutenção do trabalho. A meta é sobreviver em prol do “ter” e de enriquecer o seleto dez por cento dos mais ricos no mundo.
Todos esses efeitos mencionados, são resultados da ação descompromissada do homem no mundo. No ano de 2012, houve a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro. Ocasião que foi criado os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, representada pela famosa sigla ODS. Estes propósitos foram criados para orientar uma ação ordenada global em busca de um mundo mais sustentável, inclusivo e com prosperidade até 2030. Nós já estamos em 2025, e percebe-se que o desafio não só permanece como aumentou.
Diante de tudo isso, houve a criação de algumas “normas” que buscava pactuar ações capazes de orientar governos, empresas e organizações civis pelo mundo. Então os temas: ambiental, social e governança se tornaram o centro dos debates objetivando o equilíbrio e a sustentabilidade global. Representado pela sigla ESG (Environmental, Social and Governance), torna-se tema do cotidiano de governos, sobretudo em empresas e organizações civis sem fins lucrativos.
No entanto, observa-se que o ESG apresenta uma representação limitada dentro de todas essas urgentes ações globais. A questão é que “o termo ‘é forjado dentro do mercado de capitais’, explica a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas e diretora de mercado de capitais ESG da PwC, Melissa Velasco Schleich. A sigla foi utilizada pela primeira vez no início dos anos 2000, em um relatório do Banco Mundial e do Pacto Global – braço das Organizações da Nações Unidas (ONU) cuja missão é engajar empresas a adotar princípios básicos de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção”.
Enquanto em um primeiro momento entende-se que o ESG é uma ferramenta para contribuir e alcançar os objetivos do Pacto Global da ONU, em uma carta ao mercado, Larry Fink, o CEO da maior gestora de fundos do mundo, a BlackRock, disse que: “Não é uma agenda social ou ideológica. Não é ‘justiça social’. É capitalismo, conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades dos quais sua empresa depende para prosperar. Nós nos concentramos em sustentabilidade não porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e fiduciários para nossos clientes”.
Nesse caso, sabe-se que os temas tratados no “guarda-chuva” do ESG não é novidade global, em relação a sustentabilidade e as responsabilidades das empresas diante as degradações e explorações ambientais e de pessoas. O que é considerado novidade trata-se do interesse dos investidores. Agora, resolveram deliberar em um momento que “alguns dos impactos da crise climática que vivemos atingiram níveis irreversíveis, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)”. Observa-se que essa participação nem é pela misericórdia, mas sim para poder continuar seus lucrativos negócios.
Já no olhar das Organizações Não Governamentais, a finalidade é de fato em sua maioria a tutela do Pacto Global para um mundo mais sustentável e de justiça social. Quando feito a pergunta: O ESG pode nos salvar do apetite das grandes empresas? A resposta é que não seria suficiente. Porém, na via das Organizações Não Governamentais é pilar para garantia e defesa da sustentabilidade. Tudo depende de qual grupo tem o potencial de contribuir com a articulação voltado a construir discernimento e incentivar ação nas massas.

Dione Castro
20/03/2024

Dione Castro

É administrador de empresa, estudante de gestão empresarial pela Fatec, graduado em direito e um eterno curioso.

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