O presidente Lula reúne nesta terça-feira (30), em Brasília, os presidentes de Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname, Uruguai e Venezuela; estarão todos os governantes do continente, exceto a presidente do Peru, que tem problemas para sair do seu país, mas será representada. O encontro deverá inaugurar uma nova fase de convivência entre as nações sul-americanas e servir para a discussão e possível encaminhamento de problemas comuns como o combate ao crime organizado, as relações comerciais, a segurança nas fronteiras e outras pautas que interessem a dois ou mais parceiros.
Em tempo de economia e interesses globalizados, é importante o cultivo de boas relações entre os países. Primeiro para a defesa das aspirações regionais e, também, para evitar problemas com nações de outras regiões – especialmente as de alto poder econômico – quanto a conflitos e retaliações. As relações entre os países sul-americanos enfraqueceram na última década em função da diversidade ideológica dos governos eleitos em cada uma delas. Por isso, é interessante que encontros dessa natureza não tenham objetivo ideológico e que, ao contrário disso, cada participante respeite as diferenças de seus interlocutores. Cada povo, é bom lembrar, tem o direito à autodeterminação e não deve ser por isso censurado e muito menos reprimido.
Como o país mais industrializado da região, o Brasil tem grande interesse no mercado dos vizinhos. Um exemplo disso é o acordo automotivo com a Argentina. O vizinho país já foi um dos maiores compradores dos automóveis, utilitários e caminhões montados no Brasil e também aqui vendeu os de sua montagem. Hoje esse mercado está parado em função da crise econômica do nosso vizinho. Encontros como esse de Brasília poderão abrir portas para soluções. Assim como a Argentina, os demais vizinhos têm relações comerciais com o Brasil e entre eles próprios. Reunindo-se periodicamente, poderão administrar suas diferenças, o que é bom para ambas as partes.
A presença do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chama a atenção. Com ordem de prisão internacional, ele tem deixado de sair de seu país, mas confirmou a vinda ao Brasil. Oxalá as pendências tenham sido administradas e não resultem em incidente internacional em solo brasileiro. Não interessa ao nosso país que o visitante tenha problemas em solo brasileiro, independente de seus problemas com outras nações e organismos internacionais.
O fortalecimento das relações regionais é interesse de todos. O Mercosul – organismo tipicamente econômico – seria melhor se não houvessem divergência entre as nações da area ou, pelo menos, se as diferenças tivessem sido resolvidas no devido tempo. O mesmo teria ocorrido com a Unasul, outro organismo sul-americano, que quase fechou suas portas por desencontro dos países-membros.
Espera-se que os chefes de Estado presentes a Brasília se entendam e respeitem as diferenças para poderem continuar se encontrando e avançando naquilo que for do interesse comum. O que não pode – ou pelo menos não deve – ocorrer é a repetição do sonho utópico do Foro de São Paulo – criado em 1990 por Fidel Castro e pelo próprio Lula – que pretendeu criar na América Latina uma federação de esquerda nos moldes da inviabilizada União Soviética. Devem olhar para a frente, jamais para o passado que não deu certo.
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