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A pressa da fome

Ao som de Cazuza, inicio essa escrita com o entendimento do ponteiro oprimindo o horário, “o tempo não para” e como já dizia o poeta Mario Quintana “quando se vê já são seis horas, já é sexta-feira, já é Natal (…)”, o momento presente se mostra essencial, e por vezes sufocante.

São tantas tarefas para serem cumpridas que o sentir fica “anestesiado”, enquanto isso a roda da vida gira diferente para cada pessoa, quando há tempo para observar e entender a realidade, fica nítido que o acesso à vida digna não chega para todos.

A realidade da fome está cada vez mais aparente, agora há um nome mais “bonito” para esse problema social – insegurança alimentar -, mas a barriga da criança periférica ronca alto e ela sabe nomear o seu sentir: FOME!

Conforme divulgado no site oficial do Senado, o Brasil havia saído do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas  (ONU) no ano de 2014, mas voltou a partir do ano de 2015, com especial agravamento com a pandemia da Covid-19, sendo que um estudo da Rede Penssan (olheparaafome.com.br) estimou 6,8 milhões de pessoas em situação de fome só no estado de São Paulo, e um total de 33,1 milhões no Brasil, dados esses entre novembro de 2021 e abril de 2022.

A fome não é de hoje e exige medidas rápidas, porque o tempo na fome tem um andar diferente, lento e torturante, cito a escritora Carolina Maria de Jesus que descreve seu sentir no livro “Quarto de Despejo”: 

“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”.

Enquanto seres humanos únicos, não podemos expressar uma indignação tímida perante um problema social tão cruel, é necessário também buscar os porquês, mobilizar para cobrar políticas públicas de enfrentamento e unir na empatia e solidariedade com ações efetivas!

Referências:

-Retorno do Brasil ao Mapa da Fome do ONU preocupa senadores e estudiosos. Senado, Brasil, 14 de out. de 2022. Disponível aqui.

-Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil. Olhe para a Fome, Brasil, 2022. Disponível aqui

-JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Francisco Alves, 2004.

Ana Beatriz Junqueira Munhoz

É advogada especialista em direito previdenciário, pós-graduanda em direito do trabalho, diretora adjunta e coordenadora da comissão de combate à violência contra a mulher da OAB Franca, conselheira e secretária no Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência. Ativista social desde 2015 e escritora de seus sentires na página do instagram @coisasquetodocidadaodevesaber.

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