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Sem dinheiro, Francana pode ficar fora do campeonato, diz presidente do Clube

Aos 50 anos de vida, o presidente da Francana, Anderson Pereira Silva, vive um momento delicado à frente do seu time do coração. Não é de hoje que a Veterana convive com problemas de ordem financeira, mas, segundo Anderson, a situação tem ficado cada vez mais complicada. “O time não tem apoio. Todo mundo ama a Francana, mas ninguém quer ajudar”, desabafou o presidente, que já antecipou que se não conseguir arrecadar o valor necessário para cobrir as despesas, a Francana vai ficar fora do Campeonato 2021. Diante do desgaste pessoal trazido pela função, Anderson cogita até deixar a presidência do Clube antes do fim do mandato.

Nos últimos anos, desde que assumiu a presidência do time, Anderson disse que lida com a pressão da sociedade por bons resultados e que isso é normal e esperado. O grande problema é que não tem ajuda para o time. “Temos um pequeno grupo de empresários que contribuiu, mas não é o suficiente. Eu e os demais membros da diretoria sempre temos que colocar dinheiro do bolso no time. Nos últimos 4 anos foram quase R$ 700 mil”, disse ele.

O empresário da área comercial é pai de três filhos e é um homem de hábitos simples. Seu principal hobby é curtir um bom sofá com séries de TV. Para ler, escolhe normalmente algo relacionado a empreendedorismo. O livro de cabeceira nesse momento é “Na raça”, a história do fundador da XP, corretora de valores. Nessas leituras, além de ensinamentos para seu próprio negócio, busca encontrar inspiração para atuar em benefício da Francana. Em que pese sua fala sobre sair da presidência, ele deixa claro um desejo que tem para 2021: “conseguir levar a Francana para um patamar melhor”.

Apaixonado por esporte, que define como “Energia, vida, educação, socialização e principalmente um fator de transformação na vida de vulneráveis”, Anderson conversou com o Portal FF e contou um pouco da sua história com a Francana e como tem sido enfrentar os desafios e dificuldades na presidência do time do qual gosta desde criança.

“Se não arrecadarmos o valor necessário para as despesas, Francana fica fora do
campeonato 2021” (Foto: Acervo Pessoal)

FF – Como começou sua relação com a Francana?

Anderson: O início foi como torcedor quando criança. Eu ia sempre ao estádio. Às vezes meu pai não podia ir, e lembro que eu pedia para um adulto me colocar pra dentro (risos). Na época era só pegar na mão de um adulto e as crianças entravam no campo.

Muito tempo depois disso, quando voltei da temporada em que morei em São Paulo, fui convidado pelo Michel a participar do conselho da Francana e foi aí que começou a relação institucional com o Clube.

FF -Quando e por que quis se tornar presidente da Francana? Até quando vai esse mandato?

Anderson – Na verdade eu não buscava ser presidente. Em 2014, o presidente da época renunciou ao mandato após uma campanha trágica, onde o Clube foi rebaixado para a divisão que se encontra hoje. Naquela ocasião, o Clube foi notificado pela Federação Paulista de Futebol que se, em 90 dias, não apresentasse um novo Presidente, ele seria desfiliado da Instituição. Diante disso, o Conselho passou a buscar um nome que não foi encontrado. Depois de um tempo, resolvi aceitar o desafio. Meu mandato vai até 2022.

FF -Como é sua rotina enquanto presidente, associando com suas atividades normais?

Anderson – A rotina depende do momento. Quando o Clube está em competições, o tempo fica direcionado ao Clube chegando a tomar mais de 70% das atividades do meu dia. Quando está sem competição, a coisa fica mais tranquila, só com atividades corriqueiras administrativa.

FF -Quais você considera as principais conquistas desse período à frente da Francana?

Anderson – Infelizmente não temos muito a comemorar, sempre o que buscamos foi o acesso no futebol, que não veio, mas posso dizer que hoje o Clube tem sua vida burocrática em dia, um jurídico atuante, passou a ter representatividade na Federação Paulista de Futebol e o principal: a confiança dos patrocinadores e torcedores.

FF-Quais você considera os principais desafios em seu mandato?

Anderson – A pressão para levar o Clube a divisões superiores foi o que movimentou o norte do trabalho, mas após 4 temporadas sem o acesso, o desafio é formar jogadores da cidade, mais comprometidos com a história do clube. O outro desafio é deixar um clube sanado financeiramente.

Todo mundo ama a Francana, mas ninguém quer ajudar. Essa é a grande realidade

FF -Você já falou a respeito das dificuldades de financiamento do time e que a diretoria põe dinheiro do próprio bolso na Francana. Como está essa situação?

Anderson – Apesar de conseguirmos mais de 120 apoiadores nestes 4 anos, infelizmente o orçamento nunca fechou no positivo ou mesmo zerado, sempre houve déficits e estes valores são cobertos através de empréstimos dos diretores ao Clube. Os 7 integrantes da diretoria já colocaram quase R$ 700 mil no clube nos últimos anos e não temos condições de colocar mais dinheiro do nosso próprio bolso. Cabe dizer que estes déficits são causados exclusivamente devido ao Futebol.

FF -Diante disso e do desgaste pessoal que a condução do time lhe trouxe, você já cogitou a possibilidade de sair do clube antes do fim do mandato. Ainda pensa nisso?

Anderson –Olha, se pintar um outro nome que o Conselho aprove ou mesmo algum investidor, sim. Claro que não vou vamos abandonar o clube, faço questão de ajudar um novo nome, novos ares, novas ideias. No momento, o desgaste pessoal faz com que recue nas ações necessárias para o futebol profissional, mas, como eu disse, não iremos abandonar o Clube, caso não pinte este nome vamos trabalhar para mostrar para a cidade que o Clube não é nosso e, sim, da cidade. E todos têm que se movimentar para dias melhores.

“O desgaste pessoal é grande, mas a gente pega um amor danado desse negócio” (Foto: Acervo Pessoal)

FF -Qual seria seu “ultimato”? Ou seja, quais as condições necessárias para que você fique e, se decidir realmente sair, isso seria quando? Como a diretoria vê sua situação?

Anderson – Não existe ultimato, só não tenho mais a mesma energia, disponibilidade financeira para fazer o futebol profissional. O caso é discutido com os diretores, torcedores, imprensa abertamente, acho que a solução terá que ser construída com todos pensando juntos.

FF -Você também já antecipou que nesse ano, diferente de anteriores, só vai participar do campeonato se conseguir captar o dinheiro necessário para as contas. Se não conseguir, pede licença e não participa. Essa decisão se mantém? Ou seja, se não tiver financiamento, a Francana está fora do campeonato? Isso já aconteceu antes?

Anderson – Aconteceu quando assumi o Clube, na época não tinha condições financeiras de disputar e foi pedido licença, este ano vamos buscar os patrocinadores novamente só que desta vez só entraremos caso o orçamento seja realmente captado.

FF- Qual seu prazo final para conseguir captar esses valores?

Anderson – O prazo vai depender do calendário da Federação Paulista de Futebol. Pelo que se desenha no atual cenário, me parece que o campeonato será no segundo semestre. Precisamos do dinheiro antes disso, para termos tempo de montar o time. Normalmente em março já entramos na pré-temporada, montando o time, por exemplo.

FF -Quem tiver interesse em patrocinar a Francana como deve proceder?

Anderson – Para patrocinar o Clube é só entrar em contato com a sede, no Centro, ou mesmo diretamente comigo, através das redes sociais ou do e-mail anderson@lorella.com.br. Vale lembrar que as empresas patrocinadoras têm suas marcas estampadas na camisa, no estádio, nas ações de marketing do Clube; procuramos sempre dar a melhor visibilidade ao patrocinador.  É o patrocínio permanente de algumas empresas que mantém o Clube vivo até hoje.

FF -Você disse que o valor/mês do campeonato é de 150 mil para montar um time com chance de subir. Considerando um campeonato mais curto (de quatro meses) seriam necessários 600 mil. Já conseguiram algum percentual desse valor?

Anderson – O patrocínio permanente dessas empresas que citei cobre cerca de 15% desse valor. O restante vamos tentar captar.

Os 7 integrantes da diretoria já colocaram quase R$ 700 mil no clube nos últimos anos e não temos condições de colocar mais dinheiro do nosso próprio bolso

FF -Por que é tão difícil conseguir patrocínio para a Francana? Afinal, é o único time de futebol profissional da cidade

Anderson -A verdade é que todo mundo ama a Francana, mas ninguém quer ajudar. Temos uma cidade de 350 mil habitantes a maioria se diz apaixonada pelo Clube, mas a realidade é que apenas umas 100 pessoas (entre empresas e físicas) é que seguram as pontas. O Clube precisa de mais pessoas colaborando.

FF-Além da colaboração de empresários, você já falou da necessidade de criar uma fonte de receita permanente para o Clube. Como poderia ser isso?

Anderson – O Clube tem um ativo, um imóvel no Centro da cidade avaliado em cerca de R$ 30 milhões. Esse imóvel poderia ser a solução permanente com receitas de aluguéis. A ideia é trazer um empreendimento imobiliário para o local. O investidor ficaria com 1/3 do imóvel e, com o pagamento, conseguiríamos quitar a dívida de R$ 11 milhões que o Clube tem em impostos e pendências trabalhistas. Depois faríamos um outro empreendimento comercial e, a partir deste, o Clube teria participação nos aluguéis auferidos no empreendimento, que pode ser um shopping, um centro comercial… A ideia já tem a aprovação do Conselho Deliberativo, agora é discutir com a sociedade e buscar um empreendedor investidor para colocar em prática. Estou trabalhando forte neste assunto.

FF -Como estão as negociações com o poder público para o auxílio aos times de base? De quanto seria e como funciona esse apoio?

Anderson – As categorias de base sempre tiveram o apoio da Prefeitura através de projetos de alto rendimento; os valores giram em torno de R$ 250 mil / ano. Mas ano passado, por conta da pandemia, isso ficou suspenso. Agora já tivemos um papo com a nova administração e fomos muito bem recebidos pelo prefeito Alexandre Ferreira e pelo presidente da Feac, Mateus Caetano. A Prefeitura já sinalizou com a possibilidade de ajudar. Agora precisamos apresentar o projeto para a Feac. Acho que o nosso futuro está na Base. Seja como presidente ou no Conselho, quero continuar ajudando e fazer virar esses projetos para a Francana, mesmo que leve um tempo. A gente pega um amor danado nesse negócio.

Joelma Ospedal

É jornalista e apaixonada por comunicação.

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