Superdinamite caseira acionada por celular vira padrão em mega-assaltos
Quando agentes do Gate (Grupo de Operações Táticas Especiais) foram acionados para analisar um explosivo deixado para trás pela quadrilha que invadiu a cidade de Jarinu (SP), na terça (13), eles já davam como certo o tipo de material que encontrariam: um Metalon.
Dito e feito. Metalon é o nome dado pelos policiais para um explosivo caseiro, muito usado por quadrilhas ligadas ao PCC, capaz de romper portões, caixas eletrônicos e até cofres bancários. Seu emprego vem sendo cada vez mais comum nos mega-assaltos em São Paulo e em outros estados.
De acordo com Valmor Saraiva Racorti, comandante do Batalhão de Operações Especiais, esse tipo de explosivo já foi usado em ao menos sete ataques criminosos: Araraquara, Botucatu, Ourinhos, Mococa e Jarinu, em São Paulo, além de Criciúma (SC) e Uberaba (MG).
O Metalon é, basicamente, uma estrutura metálica oca (como um pé de mesa de cozinha, de carteira escolar ou esquadria de metal) preenchida com pólvora (preta ou branca) ou emulsão. As duas extremidades são fechadas, geralmente com durepox. Em uma delas, é colocado um barbante detonador e uma espoleta. O tamanho varia de 20 centímetros a meio metro de cumprimento.
Quando o Metalon é preenchido com emulsão, os criminosos conseguem produzir uma explosão capaz de despender até 150% mais energia do que uma dinamite convencional com pólvora, segundo especialistas.
Na maioria dos ataques verificados pela polícia paulista nos últimos dois anos, utilizou-se o preenchimento com emulsão.
Outra característica importante do Metalon é que os criminosos conseguem direcionar a energia para pontos específicos e, com isso, abrir caixas eletrônicos e cofres bancários sem destruir todo o prédio.
A carga explosiva, segundo a polícia, é adquirida no comércio ilegal, geralmente material desviado de pedreiras ou obras em rodovias.
Ainda de acordo com o comandante Racorti, o Metalon vem sem usado em ataques desde 2018, mas os explosivos encontrados nos últimos dois têm tecnologia superior.
“Principalmente nos últimos dois anos, analisando os explosivos, você consegue perceber algumas marcas, características, a forma de ser produzida mais técnica. E isso preocupa um pouco mais a gente. A gente já ligou o sinal de alerta, o MP [Ministério Público]. Não é qualquer um que faz”, disse.
Uma das evoluções mais preocupantes detectadas pela polícia foi o acionamento à distância. “Através de um celular, o criminoso manda uma mensagem e, à distância, explode o Metalon. Isso já teve alguns casos sim, o que foge da normalidade. Isso é novo”, disse.
O surgimento desse tipo de explosivo coincide com dados obtidos pelo Ministério Público de São Paulo que detectou, em 2018, conversas entre criminosos do PCC sobre a criação de cursos para montagem de bombas.
Em setembro deste ano, a Polícia Civil prendeu na zona norte da capital o carnavalesco Tiago Tadeu Faria, conhecido por “Gianechini”, sob a suspeita de participação nos ataques às cidades de Ourinhos e Botucatu, em SP, além de dois ataques a agências bancárias no Rio Grande do Norte.
Nessas duas cidades paulistas, atacadas em 2019 e 2020, foram encontrados os explosivos mais sofisticados apreendidos pela polícia.
A polícia afirma ainda que, três meses antes, foram apreendidos quase 200 quilos de emulsão utilizados pela quadrilha da qual ele faz parte. Suspeita-se que Faria era um dos especialistas do PCC na montagem dessas superdinamites.
“Gianechini” é tido pela polícia como um dos cinco principais explosivistas que atuam no país para organizações criminosas que detonam caixas eletrônicos.
Há outros criminosos capazes de montar explosivos, mas, segundo os policiais ouvidos pela Folha, seus métodos são mais rudimentares.
Após ser preso, Faria foi enviado para a penitenciária 2 de Presidente Venceslau, unidade destinada a abrigar chefes da facção criminosa PCC.
Já em maio deste ano, equipes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) apreenderam 280 quilos de explosivos em uma casa em Paraisópolis, na zona sul. O material seria compativel com o Metalon de maior impacto. “O que foi apreendido ali não é brincadeira”, afirma o tenente-coronel.
Além dos explosivos, foram apreendidas 2.500 munições de diversos calibres, entre elas de metralhadoras .50 (capazes de derrubar aeronaves), além de carregadores e porções de maconha, cocaína, crack, ecstasy e LSD.