“Mães que florescem”: artesanato que muda vidas
“Quando mães florescem, sementes de amor são plantadas”
Fernanda Martinez da Costa
O Mães que Florescem é um empreendimento social e sustentável que transforma sobras da indústria calçadista em produtos de artesanato. Mas para entendermos melhor essa história, vamos voltar um pouco no tempo. Mais especificamente para a metade dos anos 90, quando a nossa personagem de hoje, Fernanda Martinez da Costa, de 40 anos, com apenas 14 anos, já começava a mostrar que era feita de luta e vontade.
Com essa idade, ela conquistou seu primeiro emprego na famosa rede de fast-food McDonald’s. Não demorou muito até Fernanda iniciar sua história no empreendedorismo e pouco depois, com apenas 17 anos, ela inaugurava sua primeira lojinha de calçados. Simples e com 50 metros quadrados, foi com essa loja que Fernanda deus seus primeiros passos no ramo dos negócios.
A partir daí a evolução e expansão de sua carreira era só questão de tempo. Natural de São Paulo, Fernanda se consagrou no ramo de varejo calçadista e no segmento de sapatos para uniformes de escritórios e grandes marcas. Teve clientes renomados como o Cinemark, Cacau Show, Bradesco e entre outras grandes empresas, se tornando referência na área. Com a trajetória tão ligada ao ramo calçadista, o destino tratou de encaminhar Fernanda uma cidade com forte DNA para o assunto: em 2015, Fernanda desembarcava em Franca para abrir sua fábrica de calçados na cidade. A Calçar Bem.
Na Terra das 3 Colinas, Fernanda encontrou oportunidade de trabalhar com outra paixão: a assistência social em projetos e ações solidárias. Em 2018, Fernanda começou a realizar um trabalho voltado para crianças em vulnerabilidade social. Ela promovia passeios, realizava festas de aniversário e distribuía presentes para essas crianças no Natal, junto com amigos voluntários vestidos de Papai Noel. “Eu tinha um sonho de levar alegria para as crianças que enfrentavam diversos desafios no seu dia a dia”, conta ela.
Foi assim que começou a semente que se transformaria no Mães que Florescem. E, mais uma vez, o calçado estava na história. Utilizando sobras de couro de calçados, Fernanda fez uma flor, conseguiu vendê-la e com o dinheiro arrecadado na venda desse artesanato, ajudou uma mãe em situação precária. A partir dali ela percebeu que ajudando uma chefe de família, ela também estaria ajudando as crianças. A inspiração bateu forte e ela decidiu ampliar a ideia que, pouco a pouco, se transformou no projeto que é baseado no lema: “Quando mães florescem, sementes de amor são plantadas”.
Mães que florescem
Com uma equipe de seis funcionárias, sendo duas coordenadoras, uma voluntária, uma auxiliar jovem aprendiz e duas artesãs, a empresa teve início em 2018 com o propósito de colaborar com essas mães e consequentemente ajudar as crianças das famílias. Apesar de ainda ser um projeto de pequena proporção, que hoje ajuda cerca de 20 pessoas, existe a vontade de se tornar cada vez maior. “O projeto tem como base o apoio a essas mães, com o objetivo de ajudá-las a se tornarem protagonistas de suas próprias vidas, gerando autonomia emocional e financeira, para que, dessa forma, ciclos de violência e exclusão se quebrem. Damos apoio emocional reconhecendo suas potências, capacitação profissional resgatando e valorizando suas habilidades e trazendo novos aprendizados. Geramos oportunidade de renda através da venda dos produtos feitos por elas artesanalmente (produtos da marca do projeto, feitos com resíduos). E oferecemos essa mão de obra delas para outras marcas que querem gerar impacto social”, explicou Fernanda.
A venda dos produtos tem o lucro revertido para as mulheres, seus filhos e netos, e 10% são destinados para as despesas administrativas do projeto. “Agora temos o objetivo de expandir a ação e poder beneficiar cada vez mais mães em vulnerabilidade social”, disse Fernanda, fazendo questão de destacar que o Mães que Florescem não é apenas um projeto que vende bolsas, tapetes ou qualquer outro tipo de artesanato sustentável. “É , um projeto voltado para o desenvolvimento profissional, sendo esse um ato de resistência e solidariedade”, disse.
Para ampliar a atuação, o projeto aceita doações de resíduos da indústria e colaboração financeira. “Interessados em ajudar podem também doar seu tempo. Precisamos de profissionais voluntários para apoio na área da saúde (terapeutas, psicólogos, nutricionistas, ginecologista, dentista e, também, assistente social); para a parte administrativa (gestor de projetos, financeiro, captação de recursos) e da marca (estilistas, profissionais de produção de produtos, marketing, comercial, especialista em posicionamento digital) e outros” disse Fernanda.
Outra forma de colaborar é sendo uma empresa apoiadora e contratante da mão-de-obra das mulheres. Além, de, é claro, poder ajudar comprando os produtos artesanais que incluem, além dos já citados, um charmoso cachepô que pode vir com sabonete e hidratante, também artesanais e se transforma num kit que é uma ótima dica de presente.
A rotina de uma mulher empreendedora
Casada com o também empresário Ricardo Nascimento da Costa, Fernanda, além de cuidar da empresa, dedica boa parte do seu tempo aos seus dois filhos pequenos, Lucas, de 8 anos e Cauê, de 7. E, embora sua agenda esteja cheia de compromissos, ela sempre encontra uma maneira para dar conta de tudo e para fazer mais pelo outro e por seu próprio crescimento. “Eu acabei de fazer uma especialização de empreendedorismo social e vou iniciar uma MBA em gestão de empreendedorismo social”, conta ela, feliz por conseguir realizar um dos muitos planos que a motivam.
Fernanda conta que para conseguir fazer tudo nas 24 horas do dia, não tem segredo. Ela acorda cedo. Muito cedo. “Eu inicio meu dia fazendo meditação, às 4h40 da manhã. Depois eu faço o planejamento do meu dia, que inclui estudos logo pela manhã e, também, cuidar dos meus pequenos. Em seguida, vou para o Mães que Florescem. Lá eu participo de reuniões, faço a parte da gestão da equipe, cuido da marca do projeto e resolvo toda sorte de questões e trabalhos que vão aparecendo ao longo do dia”, conta ela.
Entre esses trabalhos adicionais, Fernanda fala animada de mais um projeto que está começando agora; uma incubadora de impacto socioambiental chamada “Estufa”. “Além disso, faço gestão de outros projetos de impacto social e ambiental e estou atuando na questão da sustentabilidade dentro da indústria do calçado”, conta. É só no começo da noite que Fernanda volta para casa, para ficar com os filhos e o marido e quando, também, começa o famoso terceiro turno, momento em que ela cuida do jantar e de outros afazeres da casa. “Depois, eu tiro um tempo para mim, eu vou ler um livro ou vou assistir algum conteúdo focado e empreendedorismo”, disse ela, que é apaixonada pelo tema e agora vem se aprofundando nos conhecimentos sobre empreendedorismo de impacto. De sua trajetória familiar e no mundo do empreendedorismo, Fernanda tirou uma lição importante que compartilha com todos que a conhecer. “Tudo tem seu tempo. Sonhe, planeje sempre e realize. Uma ação bem planejada tem mais chance de dar certo. E planejamento sem ação não vale nada”.