Flávia Lancha sobre as eleições: “Foi Franca que perdeu”
Depois de, durante semanas a fio, liderar com folga as pesquisas para as eleições municipais de 2020 no primeiro turno, Flávia Lancha viu seu sonho de ser prefeita desfeito como num piscar de olhos. No segundo turno, a poucos dias da eleição, o cenário já parecia mudar e se confirmou o inesperado: Flávia Lancha perde a eleição para Alexandre Ferreira.
Para Flávia e equipe, dois fatores foram determinantes para a derrota: o machismo e fake news. Depois de diagnosticado os problemas e chorada a derrota, Flávia disse que a lamúria acabou aí. “Sempre soube lidar com frustração. Isso me ajudou e em poucos dias, já estava de pronta para novos desafios”.
Falante, energizada e acelerada como sempre, Flávia recebeu a reportagem e contou com entusiasmo dos planos e novos projetos, sem fugir de nenhuma pergunta sobre as eleições. E foi justamente por esse tema que começamos a conversa.
Portal Folha de Franca – Como foram seus dias no segundo turno, inclusive o dia da eleição?
Flávia Lancha – O segundo turno pra mim foi muito sofrido. Não estava preparada para o tanto de fake news que aconteceu. Na última semana acabei ficando até doente. Minha pressão que é 12×8 foi a 17×10! Acho que estava fragilizada por todo esse contexto que veio de uma eleição na qual me destaquei logo no começo e acabei virando o alvo de 7 candidatos. Então, já fui ficando um pouco atingida por essa questão de ser o foco de todos.
FF – Mas não é inocência política imaginar que adversários vão “pegar leve” numa campanha eleitoral?
Flávia – Pode ser, mas eu tinha feito um planejamento de que seria uma eleição mais propositiva, mais construtiva. Ainda assim, nos saímos bem no primeiro turno, só que não montamos uma estratégia diferente para o segundo turno. E o segundo turno é outra eleição. Mas confesso que não esperava essa violência.
FF- Como foi pra você o momento em que as urnas foram abertas?
Flávia – Me preparei 4 anos para ser a gestora da cidade. Tinha muita esperança, muita vontade. Quando veio o resultado, me atingiu bastante e à toda a família. Não vou negar, você tem aquele momento de frustração, de luto mesmo, de uma perda. É a perda de um sonho, a perda da chance que eu tinha de contribuir naquele momento, de fazer uma coisa diferente.
FF – Quanto tempo durou esse luto?
Flávia – Logo depois das eleições tirei alguns dias de folga com meus filhos e fomos pra um hotel. E tudo vai passando, você vai analisando o contexto geral e superando.
“Eu tinha feito um planejamento de que seria uma eleição mais propositiva, mais construtiva. Ainda assim, nos saímos bem no primeiro turno, só que não montamos uma estratégia diferente para o segundo turno. E o segundo turno é outra eleição. Mas confesso que não esperava essa violência”
FF – Você liderou as pesquisas com folga durante o primeiro turno. O que aconteceu para chegar nesse resultado?
Flávia – Vejo que ainda existe um machismo muito forte. Franca é muito conservadora. Não tenho uma clareza do quanto esse conservadorismo poderia ser superado ou não. Mas quando faço uma leitura que atrás de mim, no primeiro turno, eram 3 candidatos com perfis muito parecidos – Alexandre, João Rocha e Adérmis – você pode observar que os votos que o Alexandre teve no segundo turno é a soma dos votos que os três tinham. Não digo que todos votaram no Alexandre, mas pra mim revela um certo machismo. E isso se repete na maioria esmagadora das cidades do Brasil. Temos apenas 12% de mulheres nos cargos executivos.
FF – Sabemos que não é apenas um fator que fator que define uma eleição. Você concorda com a análise de alguns especialistas que dizem que você perdeu pra você mesma?
Flávia – Acredito que o peso do conservadorismo foi o maior problema. Durante a campanha, eu falava muito para as pessoas que qualquer homem com meu currículo, ganharia no primeiro turno. Eu sentia claramente que tinha uma barreira. Quando a gente fazia as pesquisas, aparecia que minha rejeição pessoal era baixa, mas tinha uma rejeição mais geral, do tipo “não voto em mulher”. Mas concordo que são vários fatores que definem uma eleição.
“Me preparei 4 anos para ser a gestora da cidade. Tinha muita esperança, muita vontade. Quando veio o resultado, me atingiu bastante e à toda a família. Não vou negar, você tem aquele momento de frustração, de luto mesmo, de uma perda. É a perda de um sonho, a perda da chance que eu tinha de contribuir naquele momento, de fazer uma coisa diferente”
FF – Quais os outros fatores que você enxerga como responsáveis pelo seu resultado?
Flávia – Um outro ponto que teve muito peso foi a questão das fakes news. Elas vieram com muita força. O primeiro turno foi no domingo e, já na segunda-feira, às 7 horas da manhã, já começou a circular assim: “ela é a favor do aborto” “é a favor da ideologia de gênero” “é a favor da legalização das drogas…”. Isso pegou em algumas igrejas e todo mundo começou acreditar. Nesse caso eu que pergunto, como as pessoas podem ter acreditado nisso?
FF – Cada dia tinha um grupo de pessoas falando que eu ia fazer uma coisa diferente. Foi muito complicado.
Flávia – Mas não vejo como tendo perdido pra mim mesma. Vejo que um grupo foi muito competente na disseminação das fakes news. Vejo, também, um erro nosso de não ter criado uma estratégia para lidar com isso se devíamos responder, ignorar… Por fim, decidimos fazer um panfleto esclarecendo, mas essas fakes news já estavam com muita força.
FF – E seu desempenho nos debates, você não avalia como um fator de peso? Ninguém da equipe sinalizou que talvez fosse melhor não ir a debates?
Flávia – Ficou muito na cabeça das pessoas a questão dos debates, mas eles foram só na última semana. E no debate de sábado eu fui melhor que o Alexandre. Mas no debate de domingo, eu mesma não queria. Eu não estava bem. Já estava estressada, com pressão alta. Mas como era o debate da EPTV, a equipe avaliou que era importante e fui. Mas, depois disso, pegaram minhas frases e usaram fora de contexto. Ficaram parecendo sem sentindo e aí começaram a falar “É Dilma de Franca”. Então, o debate teve, sim, seu peso, mas ficou a impressão na cabeça das pessoas que foi por conta disso que perdi. Mas não acho que foi o fator determinante.
FF – Não ficou uma sensação de amargor, um arrependimento por ter ido aos debates?
Flávia –Hoje vejo que eu não devia ter ido em nenhum. Porque infelizmente eu estava lidando com um adversário que não ia pro debate pra discutir ideias, ele ia pra descontruir. Era só pancada e ele usou isso muito bem.
FF – E depois que saiu o resultado do segundo turno, como ficou a Flávia naquele momento?
Flávia – Estava todo mundo com muita esperança, uma semana antes tínhamos feito uma pesquisa, eu aparecia em primeiro e não achamos que ia inverter. Então foi uma frustração. Não tem jeito de falar que não. Todo mundo ficou triste. A família, os amigos, os apoiadores… Foi um choque, porque a gente não esperava esse resultado. Mas eu tenho uma coisa boa comigo mesma. Eu sempre fui uma pessoa muito proativa e sempre lidei bem com frustração. Não fico chorando. Você tem o momento de luto, porque todas as perdas trazem isso, mas logo eu já penso ‘o que vou fazer agora? Quais são os próximos passos?’. Isso me ajudou a lidar com essa perda.
“Um outro ponto que teve muito peso foi a questão das fakes news. Elas vieram com muita força. O primeiro turno foi no domingo e, já na segunda-feira, às 7 horas da manhã, já começou a circular assim: “ela é a favor do aborto” “é a favor da ideologia de gênero” “é a favor da legalização das drogas…”. Isso pegou em algumas igrejas e todo mundo começou acreditar. Nesse caso eu que pergunto, como as pessoas podem ter acreditado nisso?”
FF – Como avalia os primeiros meses do Alexandre à frente da Prefeitura?
Flávia – Tenho muito cuidado pra falar sobre isso. Porque qualquer coisa que eu fale, as pessoas vão dizer que é porque perdi a eleição. O que posso dizer é que somos muito diferentes. Minha maneira de fazer gestão é diferente. Sempre fui muito agregadora, de ouvir e de dar autonomia. Também no caso da escolha do secretariado do Alexandre, é um secretariado ‘ok’, mas não tem ninguém que surpreenda e que você possa dizer ‘nossa, que máximo’. Eu já tinha os nomes do meu secretariado que trariam um olhar muito diferente pra gestão. Mas sou uma pessoa que torce muito pela cidade e espero que ele faça uma boa gestão, que a experiência que ele tanto enfatizou, realmente faça diferença.
FF – Quais são os planos na área política
Flávia – Em 2018 fui convidada por alguns partidos para ser candidata a deputada. Eu falei ‘não’ com muita certeza, porque tinha muito claro que queria ser prefeita. Agora, depois dessa eleição, vejo que existe, sim, uma possibilidade de eu vir a ser candidata, vejo que tem um caminho, mas não é definitiva minha decisão. Hoje não digo nem sim nem não.
FF – De zero a dez, quais as chances de um ‘sim’?
Flávia – O que que mais me faz hoje pensar nesse ‘sim’ é o número de pessoas que acreditaram em mim. Foram 56 mil pessoas nas quais despertei uma esperança, e isso é muito forte, mexe comigo. E muitas mulheres se espelharam em mim e isso me leva a pensar a respeito, me motiva muito. Inclusive isso foi um dos motivos que me fizeram entrar na política há 4 anos; foi as pessoas acreditarem em mim e dizerem que eu podia fazer diferença. E isso tem me feito parar para pensar… Se eu posso realmente contribuir, por que não no Legislativo?
FF – A campanha é uma experiência intensa. O que mudou na Flávia depois das eleições?
Flávia – Realmente foi uma experiência intensa com pontos negativos e positivos. Um aspecto que considero negativo é que infelizmente eu descobri o que tem de mais baixo nas pessoas. Eu, que sempre fui uma pessoa de confiar muito nos outros, fiquei mais cautelosa. É duro olhar nos ser humano e ver o que ele tem de pior. Isso foi muito dolorido. Me machucou muito. Lidar com essa questão do ser humano me fez ficar mais cética, coisa que eu não era. Por outro lado, essa experiência me trouxe, também, um amadurecimento muito grande em política. Você acaba se fortalecendo mais também, você entende que a vida é essa, que as pessoas são assim e aprende a lidar com isso e não se abalar tanto.
FF – Então você já superou esse episódio da derrota nas eleições?
Flávia – Sim. No final, fui analisando e enxergando que foi Franca que perdeu. E já estou focada em novos projetos. Tenho meu instituto, então vou me dedicar a ajudar pessoas através do instituto, da capacitação. Minha empresa já está com meus dois filhos, que estão atuando diretamente; eu estou no conselho. Então, posso mergulhar de cabeça nessas minhas ações e trabalhar a pleno vapor… e isso é interessante, porque a partir dessa postura, foram surgindo coisas novas e outras oportunidades, também.
FF – Foi nessa toada que você recebeu o convite da Fiesp?
Flávia – Foi exatamente nesse período. Fui convidada para ser a diretora adjunta na regional de Franca da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Foi surpreendente, mas fiquei muito feliz. Falei direto com o Paulo Skaf (presidente da entidade) e ele me disse coisas estimulantes. Ele falou assim “acredito muito em você, na sua competência, na sua capacidade de articulação, quero você junto conosco”. Esse é o último ano dele como presidente e ele quer deixar um legado e o legado dele são essas regionais bastante fortes, com condições de estar inseridas na comunidade.
FF – Quais serão suas atividades nesse cargo? Qual é a função da diretoria adjunta?
Flávia – Primeiro vamos organizar a criação de cursos de capacitação e levar esses cursos para Franca e região. Vamos articular junto ao setor industrial e saber como a Fiesp pode atuar para ajudar em questões como a do ICMS, por exemplo.
FF – E como estão os trabalhos da regional nesses tempos de pandemia?
Flávia –Temos feito reuniões online de 15 em 15 dias com o Skaf e ele tem passado linhas gerais sobre como a Fiesp está se organizando no todo, mas não tem ainda ações efetivas. A própria vinda do Skaf a Franca, prevista para o final de março, foi prorrogada e não tem ainda uma data definida.
FF – E por falar em cursos, como estão as ações do Icol?
Flávia – Nós começamos o ano com muita perspectiva com relação as essas ações. No Icol (Instituto de Capacitação e Orientação Livre) começamos em fevereiro com aulas e cursos on line, com parcerias com Senai, Senac e Sebrae. Gostaríamos de ter começado as aulas presenciais, mas, dada a situação da pandemia, não pudemos fazer isso e tivemos, na verdade, que parar com tudo. Agora estamos planejando retomar as atividades dia 12 de abril. Vamos oferecer cursos por meio dos quais as pessoas tenham condições de ser empreendedora, e, também, oferecer capacitação para quem quer trabalhar em algum lugar.
“No final, fui analisando e enxergando que foi Franca que perdeu. E já estou focada em novos projetos. Tenho meu instituto, então vou me dedicar a ajudar pessoas através do instituto, da capacitação. Minha empresa já está com meus dois filhos, que estão atuando diretamente; eu estou no conselho. Então, posso mergulhar de cabeça nessas minhas ações e trabalhar a pleno vapor… e isso é interessante, porque a partir dessa postura, foram surgindo coisas novas e outras oportunidades, também”
FF – E quanto à Gima, foi possível realizar algo?
Flávia – Sim! A Gima (Gincana Intermunicipal pelo Meio Ambiente) se transformou, ao longo dos anos, numa feira cultura. Mas, por conta da pandemia, desde o ano passado não pudemos realizar as atividades presenciais. Surgiu, então, a ideia da Gima Digital. Fizemos uma parceria da Labareda com patrocinadores e compramos 130 smartphones +pacote de internet e doamos para escolas da região, participantes da Gima. Cada escola criou uma espécie de ‘celularteca’ e fez um empréstimo para os alunos que tinham mais necessidade. Foi emocionante! Entregamos em outubro do ano passado e esse ano já entregamos também. É a inclusão digital. Estamos trabalhando para conseguir ampliar esse programa.
Parabéns pela matéria. A Flávia é uma Mulher de garra que faz toda diferença.
Parabéns Flávia 👏👏👏 Você é guerreira e competente! Com certeza vai continuar a ajudar a nossa Franca com suas idéias e atitudes! E como você disse, amiga, foi Franca quem perdeu!
Parabéns Flávia 👏👏👏 Você é guerreira e competente! Com certeza vai continuar a ajudar a nossa Franca com suas idéias e atitudes! E como você disse, foi Franca quem perdeu!
Joelma e Flávia, que bela entrevista! Parabéns!! Um forte abraço!
Ela não entendeu a derrota, preferiu culpar os outros a aceitar suas limitações evidentes. Terá o mesmo destino do Dr Ubiali na política, que quis começar por cima e acabou por nada conseguir, nem mesmo a vereança.