Opiniões

Onde estará nossa República?

Ontem perguntei a meu filho o que estaríamos comemorando no dia de hoje. Totalmente concentrado no play, ele balbuciou entre dentes um rápido “não sei”. Num primeiro momento, fiquei assustado!!! Escola particular, 15 anos de vida, não é possível que não saiba! Insisti outra vez, agora em tom de espanto. A resposta saltou fácil, com uma entonação ainda mais concentrada no jogo Fifa que estava rolando no play: “sei lá”.

Fiquei sem saber o que dizer. Passados alguns minutos e o espanto, fiquei pensando em quantos garotos, quantos adultos e quantos brasileiros não saberiam o que significa o dia de hoje. E, de repente, junto com um novo espanto, veio também um pouquinho de angústia e tristeza.

Lembrei do artigo do líder republicano paulista Aristides Lobo, publicado em 16 de novembro de 1889. Isso mesmo, no dia seguinte à Proclamação da República. Aristides escreveu: “eu quisera poder dar a esta data a denominação seguinte: 15 de novembro, primeiro ano de República; mas não posso infelizmente fazê-lo. O que se fez é um degrau, talvez nem tanto, para o advento da grande era”. Para o líder paulista, estava claro que aquele acontecimento não era uma evolução de nossa sociedade, rumo ao espírito mais livre e democrático proclamado pelos republicanos. Não tinha substância, era apenas um espetáculo encenado na calada da noite para brilhar aos olhos de uma plateia sem voz e sem poder de reação. Ainda nas palavras de Aristides, “o povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava”.

Para alguns historiadores, o acontecimento na verdade foi um golpe militar feito quase às escondidas, afinal o Imperador Pedro II tinha uma boa imagem junto ao povo brasileiro. Dizem que o Marechal Deodoro da Fonseca foi tirado de sua casa durante a madrugada. Como o principal chefe militar, o brado precisava vir de sua boca. Ainda segundo esses relatos que correm pelos corredores da história, Deodoro chegou à Praça da Aclamação a pé, subiu em um cavalo e gritou: “Viva a República!”. Depois desceu do cavalo e voltou para sua residência, enquanto outros militares se encarregavam de tomar as rédeas do país e, claro, avisar o imperador que ele já era.

Obviamente, ninguém nunca saberá exatamente o que aconteceu. A história é sempre contada por alguém, muitas vezes alguém que nem estava lá. Mas lembrando o poeta francês, Celine, “tudo que é interessante se passa nas sombras, nós não sabemos nada da verdadeira história dos homens”.

Entre angústia e tristeza comecei a pensar no atual momento de nossa República, considerando o populismo que tomou conta de nossa última eleição, o orçamento secreto, as indicações políticas para cabides de emprego, a desigualdade social e a nossa miséria secular, a situação triste de professores e escolas e o peso dos impostos para sustentar a elite obesa de nosso funcionalismo público. 133 anos se passaram e parece que poucas coisas mudaram.

Confesso que desanimei, mas logo consegui recuperar um pouco de esperança ao me deparar com outra frase de Aristides Lobo: “em todo o caso, o que está feito, pode ser muito, se os homens que vão tomar a responsabilidade do poder tiverem juízo, patriotismo e sincero amor à liberdade”.
Que nossos políticos e toda a nossa sociedade tenham juízo!

Mauricio Buffa

Especialista em generalidades. Muitos anos de estudo e trabalho, desafiando ideias e colhendo incertezas. Cada vez mais convicto de que o universo é uma harmonia de contrários!

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