O Futuro da Verdade
Um dia desses eu assistia a um episódio do documentário “Cosmos – Uma Odisseia do Espaço-Tempo”, exibido em capítulos por um canal de TV a cabo. Conforme o apresentador ia expondo as novas concepções da ciência sobre a estrutura do Universo fui, aos poucos, sendo remetido ao passado, ao tempo da minha juventude, a um documentário apresentado na TV do Brasil pelo astrônomo norte americano Carl Sagan, na década de 1980: a série “Cosmos – Uma Viagem Pessoal”.
Foi exibida aos domingos de manhã pela TV Globo, em cores, embora em casa ainda passasse em preto e branco! Muitas vezes, mesmo após atravessar a noite nos bailes da AEC – Associação dos Empregados no Comércio de Franca, eu acordava cedo, alguns minutos antes das oito, para não perder o episódio da semana. Era a coisa mais fantástica do mundo ver um programa de TV que falava de ciência na sua dimensão cósmica, em linguagem acessível, dinâmica, animada com os mais variados efeitos especiais, uma novidade para a realidade de então. E com uma trilha sonora de arrepiar os cabelos de jovens encantados com os mistérios do Universo.
Mas, voltemos ao episódio de “Cosmos – Uma Odisseia do Espaço-Tempo” que assisti recentemente, que é continuação daquela apresentada por Carl Sagan na década de 1980, em nova roupagem, atualizada e com efeitos especiais mais novos ainda. Hoje apresentada pelo astrofísico Neil deGrasse Tyson, tão simpático e convincente quanto o grande Carl Sagan. Mas, o que me chamou a atenção foi a afirmação do apresentador da última série, quando explicava a relatividade do espaço-tempo à velocidade da luz e os seus efeitos sobre a nossa realidade: ele assegurou que em breve encontraremos uma forma de visitar o passado! Esclareceu que ainda que não possamos interferir, poderemos assistir ao seu transcurso, como em um filme. E fiquei a imaginar me vendo na infância, a perambular pela adolescência… Já pensaram, poder ver a infância dos nossos pais, a juventude dos nossos avós, o passado mais recuado no tempo? Os grandes fatos históricos… E os pré-históricos? Já imaginaram, ver dinossauros ao vivo, no seu tempo e espaço? Neil não deu detalhes de como essa viagem poderá ser feita. Mas não importa.
Qualquer que seja o meio, se realizada trará grandes consequências para a humanidade. E requererá grande responsabilidade de quem as fizer. Mas, por enquanto apenas podemos especular: o que diriam os historiadores ao ver suas narrativas e conclusões conferidas nos detalhes? Se bem que nesse caso, talvez nem existam mais historiadores nesse futuro relativo. Mas, se confirmada a possibilidade de rever o passado in loco, muitíssimo incomodada deverá ficar boa parte dos nossos políticos!
Imaginem processos como os da Lava-Jato usando como provas as reprises dos atos e fatos criminosos indicados na acusação? Nada de filmagens ou gravações escusas, clandestinas. Os acordos em que se negociam os apoios políticos, os bastidores dos acertos partidários, tudo poderá ser analisado dentro de uma máquina do tempo. Apenas reprises da realidade nua e crua serão exibidas aos juízes como prova, sem a necessidade de grandes libelos de qualquer das partes. Pobres advogados de defesa! E nossos tribunais? Imaginem a dificuldade para anular os grandes processos por defeitos de forma, por falhas na produção das provas…
Tudo ainda está no terreno da teoria, mas, se algum dia a ciência descobrir o caminho que permita revisitar o passado em toda a sua inteireza, certamente dará um passo definitivo para a humanidade. Pelo menos no terreno moral. Enfim a humanidade poderá evoluir nesse quesito, após milênios de estagnação. A verdade prevalecerá e se tornará realidade cotidiana, um sonho de muitos hoje em dia! Para boa parte de nós será o fim do sucesso na mídia digital, da popularidade, de boa parte dos relacionamentos pessoais, e da carreira política. Mas outros tantos poderão comemorar: viva a verdade! Adeus Fake News!
José Borges da Silva é advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil; especialista em Direito Ambiental. Ocupou cargo de Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016. Foi Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras
Viva a ciência, o que ela nos traz e o que ainda pode trazer!
Excelente texto! Uma viagem no tempo passado e futuro apenas de lê-lo. E viva a verdade e a ciência!