Opiniões

O Capitalismo a Fome e o Senso Comum

Como o título acima indica, farei algumas observações ao sistema de produção de alimentos e outros bens em vigor no Brasil. Naturalmente poderei ser tachado de comunista por parte das pessoas que lerem essas observações. Posto isso, antecipo minha defesa – o direito de defesa é fundamental numa democracia e não há impedimento de que seja prévio – e digo desde logo que o sistema capitalista me parece um dos melhores nos tempos atuais para gerar riquezas. Até porque os sistemas totalitários não têm obtido êxito nessa tarefa, como podemos ver da história recente, ressalvando o sistema Chinês atual, ainda em estudo, que não é uma democracia…

A minha opinião é do cidadão comum, posto que não seja cientista político, nem filósofo, economista ou jurista importante. Os tempos atuais nos permitem ter todos esses especialistas escrevendo em blogues, jornais, revistas, ou opinando como comentaristas de jornais da televisão. Por isso mesmo, manifesto a impressão do cidadão comum sobre tudo que acontece e é notícia nos dias atuais e que pouco entende da opinião dos especialistas… não vejo mal nisso, porque não é fácil ter uma visão completa da complexa sociedade atual.

Começo citando notícias que vi na televisão em, 10.11.2021, no Jornal da TV Cultura, o seguinte comentário do historiador Marco Antônio Villa: “De que adianta o Brasil ser o maior produtor de alimentos do mundo, se o preço interno desses produtos é dolarizado e a maioria da população não os pode comprar?”

Consideremos o preço da carne bovina: é o mais alto da história. E o Brasil é detentor do maior rebanho bovino do mundo! Ora, de que adianta o País ser o maior produtor de carnes do mundo, se os pobres mal conseguem comprar ossos nos mercados? Mesmo com o dinheiro distribuído pelo governo, por que o preço é proibitivo?

Muitos especialistas dizem que a culpa é do governo, porque a política econômica e outros fatores fazem subir o do dólar e com ele o preço dos combustíveis e dos alimentos… Ora, o nosso dinheiro não é o dólar, mas o Real. Por que os combustíveis vendidos aqui têm de ter cotação em dólar? Quem ganha com isso? A Petrobrás é uma empresa estatal, detentora do monopólio da produção e venda de gasolina e óleo diesel no Brasil, não é? E que vantagem o Brasil tem nisso? Sabemos que os seus acionistas ganham muito. Mas e os pobres do País? Todos os especialistas criticam duramente o presidente quando ameaça interferir na Petrobrás para controlar o preço dos combustíveis… Por que isso? Se a gasolina for vendida um pouco mais em conta, quem terá prejuízos? Sendo o preço dos combustíveis dolarizado a causa do aumento de preços dos alimentos, será que não dá mesmo para se pensar numa solução? Na Argentina, os combustíveis custam a metade do produto brasileiro. Há alguma coisa mais importante para o nosso sistema de geração de riquezas do que a vida das pessoas que passam fome?

Até o álcool combustível, produzido no entorno das nossas cidades – ao custo de um desmatamento que mudou clima da região – está dolarizado e também é causa do aumento dos preços em geral! Por que é tabu falar em controle do preço de bens que produzimos em volta das nossas casas, como o álcool, da carne e do petróleo, dos alimentos, que também produzimos no nosso território?

Mas, em vez de falarmos em controle de preços, que ofende de morte os economistas, que tal falar em impedir o controle dos mercados? Ou de subsídios? Por que não se permite que as usinas de etanol da nossa região vendam o etanol aos postos de venda a varejo, como cogitada pelo presidente? Mas, tanto no caso da interferência na Petrobrás e na possibilidade de venda de combustíveis pelas usinas aos postos, o Presidente foi duramente criticado. Claro que intervenção é coisa truculenta, inadequada… Mas e os especialistas? As leis do capitalismo são, mesmo, inexoráveis, de sorte que uns fiquem podres de ricos e outros de miséria e fome?

Enfim, como leigo em economia, parece-me um absurdo que haja carnes correndo o risco de apodrecer em containers esperando a reabertura dos mercados asiáticos. Ou que haja imensa produção de grãos alimentícios vendidos lá fora, e que haja produção de combustíveis no Brasil, e que estejamos carentes de todos esses bens por causa dos seus preços proibitivos à grande massa da população. Enfim, que haja pessoas passando fome enquanto vendemos comida para o mundo inteiro – em dólares!

Dr. José Borges

Advogado (Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca); especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil e em Direito Ambiental. Foi Procurador do Estado de São Paulo de 1989 a 2016 e Secretário de Negócios Jurídicos do Município de Franca. É membro da Academia Francana de Letras.

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