Geopolítica e capitalismo: Brasil e o protagonismo na manutenção do capitalismo
Desde que o Brasil ganhou as dimensões continentais no século XVIII, ganhou certo protagonismo internacional, sobretudo no que se diz respeito ao fornecimento de matéria-prima para a produção econômica mundial. Podemos nos gabar de que temos a maior área agricultável do mundo, uma das maiores biodiversidades do planeta e somos literalmente a tabela periódica.
Nesse sentido, todas as grandes potências mercantilistas e capitalistas tiveram relações diretas com o nosso país: Portugal, Espanha, Inglaterra, EUA e agora a China. Lula foi recebido com honras em terras orientais, pois a China sabe exatamente o tamanho da importância do Brasil, tanto para o seu projeto de influência global de potência emergente quanto para o BRICS.
Na década de 70, surgiu e se consolidou uma teoria chamada de teoria da dependência. Em resumo, a teoria colocava que o Brasil tem uma burguesia associada ao capitalismo internacional e, assim, seu desenvolvimento econômico depende diretamente do desenvolvimento das grandes burguesias internacionais. Assim, havia uma relação dialética entre o “capitalismo central” dos países desenvolvidos e altamente tecnológicos e o “capitalismo periférico”, onde a centralidade da economia estaria na produção de commodity.
Sendo assim, nessa leitura sobre a economia, somente seria possível para os países periféricos se desenvolverem caso rompessem com o capitalismo e fizessem revoluções socialistas. Essa teoria da periferia do capitalismo tem sua validade histórica e ajudou diversos países a repensar suas ações no mercado internacional.
Contudo, a China e a Índia contrariaram essa teoria. Países periféricos do capitalismo e do socialismo que construíram seu desenvolvimento a partir de sua força social, baseados no início em tecnologias reversas e que agora desenvolvem suas próprias tecnologias. Investiram pesado em modernizações da educação, da pesquisa e do seu parque industrial.
A questão que se coloca no capitalismo é que os investimentos burgueses não têm nacionalidade e não observam a lógica de investimento a partir da periferia ou do centro, apenas observam o lucro e, nesse momento, esses países e blocos por eles formados dão sinais de maiores realizações de lucro.
Desta forma, e com os EUA em crise, o capitalismo está começando a ser multipolar, ou seja, estamos vendo a fase em que potências emergentes vêm para liderar novos polos de influência. A formação do BRICS segue essa tendência, de mudança de poder dentro do sistema. A China, obviamente, lidera os BRICS, tanto economicamente como militarmente e tecnologicamente. Mas, para que o BRICS possa ter sucesso, a participação do Brasil é fundamental e essencial. O Brasil dentro do bloco é o único que dispõe em quantidade e qualidade recursos que são essenciais para uma indústria de ponta. Essa mudança de poder dentro do capitalismo pode nos beneficiar; contudo, não é algo que aparece no horizonte. Se não houver dois pontos fundamentais nas negociações, podemos ficar mal posicionados dentro do bloco, mesmo sendo essenciais para o sucesso.
Nas negociações, é necessário barganhar a transferência de tecnologia e ampliar o acesso à riqueza por parte da classe trabalhadora. O MST, por exemplo, vem desenvolvendo uma agricultura poderosa baseada em tecnologia, com menos impacto ambiental e alimentação sem agrotóxicos, podendo servir de modelo para outros setores.
Construir uma força econômica interna baseada na distribuição de riqueza pode nos tirar da condição apenas de fornecedores de comodity e insumos para a indústria, possibilitando-nos ter protagonismo e gerar a riqueza necessária para fazer o povo e a classe trabalhadora viver bem.
Sendo assim, é importante que o Brasil se posicione de forma estratégica e consciente em relação à sua participação no cenário geopolítico e econômico mundial, buscando não apenas manter sua posição como fornecedor de matéria-prima, mas também buscando desenvolver sua própria indústria de ponta, com tecnologia e inovação, e buscando uma distribuição mais equitativa da riqueza gerada, beneficiando toda a população, e não apenas uma pequena elite.
Para isso, é necessário investir em educação, pesquisa, desenvolvimento tecnológico e infraestrutura, além de políticas públicas que estimulem o desenvolvimento de uma indústria nacional forte e sustentável. Também é necessário buscar alianças estratégicas e negociações que possibilitem uma transferência de tecnologia e ampliação do acesso à riqueza por parte da classe trabalhadora.
Com essas medidas, o Brasil poderá não apenas manter sua posição de protagonismo na economia mundial, mas também se tornar uma potência econômica e tecnológica de fato, capaz de gerar riqueza e bem-estar para toda a sua população, e contribuir para um mundo mais equilibrado e justo.