Começar é sempre mais desafiador
Por Maurício Buffa
Dia desses caiu-me um convite inesperado. Fui chamado para contribuir nesse interessante projeto que agora se abre para Franca e região, o Portal Folha de Franca, para os mais íntimos Portal FF. Espaço novo para agitar ideias, divergir. Espaço para opiniões e oposições, sempre o melhor caminho para se construir novos olhares. Confesso que fiquei lisonjeado. O sorriso se abriu por dentro, insinuando-se por trás dos óculos. Mas a preocupação não demorou muito, ultrapassou o sorriso e tomou conta dos olhos e dos óculos. Afinal, já se vão quase 8 anos que não escrevo nada para jornal, portal ou revista. Ainda mais em tempos de podcast, pressa e vídeos ilimitados.
Mas não pude resistir. Aceitei na mesma hora, já pensando em qual seria o tema de minha primeira coluna. E rapidinho a pandemia invadiu meus pensamentos. Palavras como quarentena, gripezinha, lockdown, máscara, isolamento social, quebra de empresas, vacina e cloroquina invadiram minha mente. Dadas as condições emocionais do momento, seria possível tecê-las em tons de radicalismo e intolerância, assim como envernizá-las nas cores mais amenas da gentileza, solidariedade e emoção, falando de novo normal, superação e aprendizado.
Enfim, me pareceu um terreno fértil para compor um texto de múltiplas sonoridades, mas, para além da obviedade, fiquei com medo de um arranjo silencioso, quase mudo, com palavras fáceis e preguiçosas, carimbadas de cansaço e mesmice.
Corri então em outra direção. Falar sobre empreendedorismo e gestão de negócios, temas com os quais venho convivendo nesses últimos 8 anos dentro do Sebrae-Franca. Porém, novamente a pandemia se acomodou em meu raciocínio. Pensei nos empresários com quem tenho conversado, nas dificuldades que têm vivenciado e na luta diária para reinventar-se. Mais uma vez, pensei nas múltiplas sonoridades dessa realidade. Há empresas que estão faturando até mais do que faturavam antes da Covid-19. Há outras que conseguiram se reinventar e pelo menos deram um jeito de sobreviver até tudo passar. Mas há também aqueles que acabaram desistindo, não por falta de coragem ou persistência, mas por não terem as mínimas condições de continuarem.
Por fim, acabei fechando esse primeiro texto de apresentação com a pandemia mesmo. Queria começar essa coluna marcando aquele golaço, é claro! Aquele sentimento meio juvenil de estar começando alguma coisa nova com o pé direito. Mas, tudo bem. Vou tentar colher esses frutos pelo caminho, nas semanas que virão e que espero serem muitas. Semanas em que pretendo conversar com vocês sobre empreendedorismo, gestão, desenvolvimento econômico, micro e pequenas empresas e economia criativa (já há grupos em Franca trazendo propostas muito interessantes sobre esse tema).
Por ora, vou dizer então o que penso sobre a pandemia. Estamos em uma batalha com inimigos invisíveis. Uma batalha em que todos somos soldados, todos estamos soltos no campo de batalha. Soltos, isso mesmo! Porque não temos liderança, nem estratégias bem definidas para a luta. Além disso, como não podemos ver esses inimigos, concentramos os ataques em nós mesmos, pois sempre precisamos de um inimigo para aplacar nossos demônios, nosso egoísmo, nossa inocência ou até mesmo nossa ignorância.
Dentro desse cenário, estamos perdendo a batalha. Mais triste ainda é que não adianta arriar a bandeira e se render. O inimigo não liga para isso. Ele parece ter um único objetivo, o de escancarar a nossa incompletude, nossa desigualdade e nossa injustiça social.
De qualquer forma, apesar dessa derrota, é certo que não morremos todos. Os vírus, assim como as árvores, não crescem indefinidamente até o céu. Em breve eles perderão sua força. Espero apenas que o susto e a vergonha por essa batalha perdida nos façam sair mais preparados para as outras que ainda virão nos desafiar.
Maurício Buffa é especialista em generalidades. Muitos anos de estudo e trabalho, desafiando ideias e colhendo incertezas. Cada vez mais convicto de que o universo é uma harmonia de contrários!
Mauricio, grata pelo texto , gostei muito, sou empreendedora do segmento de turismo, e vi minha empresa de 16 anos derreter…. foquei no essencial, na vida, mesmo sabendo da perda material. Depois de um ano longo de perdas, lágrimas, apatia, desânimo, descrença e tentativas de novas possibilidades, ainda não desisti. Desenvolvi um projeto em outubro de 2020 que se chama Viagem Essencial, uma imersão de 3 dias meio a natureza com facilitadores da arte, da música, dança, artes orientais, antropologia que levam o participante para uma viagem interna, e realizei essa presencial em novembro com os protocolos exigidos, quando parecia o vírus ter dado uma trégua, foi lindo e realizador, no entanto o projeto parou pois não é possível o presencial que é o ápice da experiência, depois da resistência e do negar, aceitei desenvolver esse projeto on line, e há 6 dias estou mergulhada nesse próposito de criar esse novo formato para viagem essencial.
O momento é muito desafiador para todos, e ao mesmo tempo percebo uma possibilidade de encontrarmos nossa flor de lótus meio ao pântano, mas precisamos nos permitir a vida nos moldar e nos transformar em seres humanos mais amorosos meio a esse caos. Parabéns pela coragem e sensibilidade na sua escrita. Que seja luz seus textos para o nosso povo nesse momento escuro. 😊🙏