Opiniões

Ameaças lentas e silenciosas…

Nessas últimas semanas, confesso que fiquei um pouco preocupado. Dias agitados! Para além das ansiedades do cotidiano em tempos de pandemia e aquela correria parada do home office, com mensagens e conversas infinitas pelas redes sociais, fomos pegos de surpresa com a troca de todos os comandantes das Forças Armadas de uma só vez, algo inédito em nossa história.

Sem querer entrar em questões ideológicas e em discussões estéreis e mais radicais, lembrei-me das declarações que nosso presidente e seus filhos têm feito ao longo de seu mandato. Sei que esse é um tema complicado, mas vou me arriscar, pois ultimamente não me vejo nem à direita, nem à esquerda, extremos que, em minha opinião, aproximam-se cada vez mais em seus discursos de radicalidade. Com tranquilidade, posso assegurar que tenho buscado um caminho mais equilibrado, no centro desses exageros.

Minha preocupação maior é com a democracia, que apesar de não ser o regime político ideal, historicamente tem se mostrado o melhor espaço para a convivência humana. Se lembrarmos o que a família Bolsonaro tem falado nos últimos anos, penso que deveríamos ficar mais atentos, ou melhor, bem atentos! A todo o momento eles aumentam o tom, ameaçando um possível golpe militar. São frases soltas na imprensa, postagens em redes sociais a qualquer hora e até alguns atos públicos de protesto contra o Congresso Nacional e o STF, que apesar de seus desvios éticos e políticos, são fundamentais para o funcionamento de um Estado democrático.

Com a demissão conjunta dos chefes militares, penso que nosso presidente, para o bem ou para o mal, deu mais um passo em direção ao seu objetivo mais disfarçado, que é o de acabar com qualquer espaço para divergências e debates. E o pior de tudo é que estamos todos calados. A despeito dos poucos e silenciosos gritos da oposição, das críticas e análises de jornalistas e dos panelaços de parte da população, a possibilidade de um golpe autoritário parece crescer em nosso cotidiano já bastante depauperado.

Isso me fez olhar para a história. Quantas vezes o silêncio daqueles que prezavam pela democracia não foi atropelado pela ação mais determinada daqueles que marcharam para o autoritarismo? Assim foi na Segunda Guerra Mundial. Os líderes europeus sabiam o que Hitler estava fazendo, mas fizeram vistas grossas, querendo acreditar que ele não teria coragem de avançar em suas ideias. Porém, o que se viu foi completamente diferente. Quando esses líderes acordaram, Hitler já tinha parte da Europa em suas mãos. Daí foram 6 anos de guerra e milhões de mortes.

Lembrei-me também de parte de um longo poema de Eduardo Alves da Costa, “No Caminho com Maiakóvski”, um poeta não muito conhecido, mas que nos dias de hoje parece bastante profético: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta… e já não podemos dizer nada.”

Quando perguntaram a Peter Drucker, o guru da administração moderna, o motivo porque ele deixou a Alemanha depois que Hitler assumiu o poder, ele foi rápido e taxativo em sua resposta: “eu li Main Kampf”, o livro que Hitler escreveu durante o período em que esteve preso e que já preconizava tudo o que viria a fazer nos anos seguintes.
O problema é sempre esse. Percebemos que o perigo está se aproximando. Sentimos isso, mas preferimos não acreditar, porque isso nos obrigaria a tomar atitudes que nos tirariam da deliciosa zona de conforto em que vivemos.

Então, o que nos resta é torcer para que essa troca de comandantes seja apenas mais uma dentre as tantas que já aconteceram, com homens que estejam mais comprometidos com o país e com a história, do que com um governo e com seus interesses pessoais.

E que o Todo Poderoso nos ajude, seja ele quem for!!!

Mauricio Buffa

Especialista em generalidades. Muitos anos de estudo e trabalho, desafiando ideias e colhendo incertezas. Cada vez mais convicto de que o universo é uma harmonia de contrários!

2 Comentários

  1. Boa análise da situação, Maurício. Concordo com você.
    Mas, penso que o que nos tem mantido em casa (e não nas ruas gritando um :”Fora Bozo”) é a pendemia.
    Talvez seja essa a diferença da nossa sociedade e daquela que descuidou do Hitler.
    Mas penso que mesmo com a pandemia, talvez seja hora de sair às ruas de máscara (por conta da pandemia)
    para mostrar a nossa cara!

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