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Ciscando aventuras

UM FILME: Dersu Uzala

(japonês-soviético, 1975, diretor Akira Kurosawa, 141 minutos)

O filme conta a história de um explorador (líder de uma expedição de levantamento topográfico na Sibéria) do exército russo, que é resgatado na Sibéria por um caçador nativo (Dersu Uzala) que passa a servir-lhe de guia, dando início a uma forte amizade. Quando o explorador decide levar o caçador para a cidade, seus costumes se confrontam de forma esmagadora com o modo de vida burocrático na cidade, fazendo-o questionar diversos padrões da sociedade.  Dersu é um exemplo de humildade e sabedoria, e o filme mostra de maneira poética e sensível as diferenças culturais entre ele e o pesquisador russo. O diretor de fotografia aproveitou ao máximo as imponentes paisagens naturais da Sibéria e as registrou em belas imagens. (wikipedia). Oscar 1976, melhor filme estrangeiro.

Dersu Uzala – Wikipédia, a enciclopédia livre

POR QUE GOSTEI – Kurosawa também participa do roteiro; ele desenhava cada “take” (cena) do filme – story board – na linguagem cinematográfica, o diretor fez este filme sobre uma amizade improvável entre um nativo e um militar a mapear a Sibéria. Já assisti mais de 10 vezes. É um filme feito “para sempre”.  O tema humano é o sentimento – talvez o mais nobre  – da amizade. Kurosawa, em entrevista, disse ter feito este filme em homenagem à Amizade, por ter passado um período muito crítico e ter a ajuda de amigos.  No filme, é a amizade, o respeito mútuo, um afeto genuíno, uma admiração, o que liga dois homens com culturas tão diferentes. Ela está acima de qualquer diferença, raça, cor, posição socio-econômica, preconceitos em relação à superioridade-inferioridade por conta da educação e-ou cultura..  Eu choro, e me emociono nas mesmas cenas, a cada vez que vejo o filme. Vale a pena “cevar” sentimentos, como se diz cevar na pescaria para atrair peixes.  Cultive o sentimento da amizade, e terá uma expansão de sensibilidade e crescimento mental em toda a extensão da sua vida.

UM LIVRO: O perigo de uma história única

(Chimamanda Ngori Adichie, SP: Companhia das Letras, 2019. (61 páginas)

Resenha | O Perigo de Uma História Única – Chimamanda Ngozi Adichie – O  Capacitor

POR QUE GOSTEI:  NA verdade este livrinho é uma adaptação de uma palestra no TED talk. Quem quiser pode ver a autora palestrando sobre o que está impresso neste pequeno grande livro. O vídeo, segundo a nota da edição brasileira, de 2019 foi acessado por 18 milhões de pessoas. Ela diz, com sabedoria: “ a história única cria estereótipos, e o problema com estereótipos não é que sejam mentira, mas que são incompletos.”  Em tempo de radicalizações, polarizações violentas, é um chamado importante.  A base de uma boa conversa é a diversidade de opiniões, e a possibilidade de acrescer novos pontos ao conto. Eu acho, e você? Chimamanda é nigeriana, uma linda pessoa, que encanta ao dizer que as histórias “podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada.”  Tudo depende de não querermos ouvir apenas uma e única história, seja do que for.  Ela ainda diz “Nossas histórias se agarram a nós. Somos moldados pelo lugar de onde viemos”.  Ler tem a ver com arejar a mente para tudo aquilo que não sonhávamos existir, mas existe e alguém pode nos contar.

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicóloga, membro efetivo e psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. É membro da Academia Francana de Letras e da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

2 Comentários

  1. ‘Derzu Uzala’ é um filme fantástico! Akira Kurosawa é um dos maiores diretores contadores de histórias do cinema.
    Outro filme do mestre japonês, ‘Viver’ (Ikiru), de 1952, me emocionou demais.

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