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O silêncio

Em maio de dois mil e dezenove, ocorreu um fato que me deixou perplexo como brasileiro. Nunca passou pela minha cabeça que após a redemocratização haveria a imposição do silêncio na fala daquele homem. Ainda que tenha força na voz, persuasão através de uma linguagem popular, cheio de erro de concordância de quem não lia – porém entendia das entranhas brasileiras – arrastava multidões. Em momentos difíceis houve o imperativo do Estado para manter a sua mudez. A democracia contempla virtudes, todavia a maior dentre elas é a liberdade de poder falar com seu povo, abraçar e beijar no rosto de seus verdadeiros camaradas.

Diante deste fato, ambientes democráticos que perdem a liberdade de expressão, torna-se esta perda um motor para causar convulsões sociais. É preciso lembrar que nos anos de chumbo, bombas eram lançadas em bancas de jornal contra conteúdos alternativos. Nosso país passou por dolorosas chagas, e mesmo os compadres insistindo em apagar os fatos contemporâneos da época, os movimentos organizados sociais impediram e tomaram as ruas em defesa da voz do povo. Lamentavelmente a história se repete de outro modo com efeitos parecidos. Não se silencia apenas a fala, há movimentos autoritários para “amordaçar” inclusive a capacidade de pensamento.

Novamente condenam o conhecimento. Condenam o amor ao saber. As medidas racionais advêm de um singelo e nobre ato de indagar. O questionamento, os sensos críticos são verdadeiras “armas” sociais. Entender, contextualizar fatos, possuir discernimento é uma ameaça para quem não tem compromisso com a Democracia. Compreender o “porquê” das coisas é um ato de inteligência assim como a consciência de que não sabemos tudo. O apreço pelo conhecimento é a razão de ser da humanidade.

Filosofar é uma arma, uma voz contra aqueles que possuem má intensão. Universalizar o senso da indagação é contra o desejo dos dominantes, que sempre quiseram, somente para si, a virtude do ócio. Lembremos que ter o tempo livre para pensar na Grécia antiga era privilégio divino dos escolhidos. Lembremos também do “crime” imputado a Sócrates na ótica dos homens públicos de sua época. Democratizar o ensino é diminuir a discrepância social imposta há séculos.

Precisamos ler textos, discutir política cara a cara, olho no olho em espaços públicos como nas antigas “ágoras” da Grécia. É preciso enfrentar a escuridão do fascismo frente a frente. Censura e Democracia não combina. Digamos não ao silêncio do “Carcará do Sertão” nordestino. Ele tem muito que falar a seu povo. Digamos não a “criminalização” da filosofia.

Dione Castro

É administrador de empresa, estudante de gestão empresarial pela Fatec, graduado em direito e um eterno curioso.

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