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O clima, o abastecimento e as responsabilidades.

A Defesa Civil de São Paulo emitiu alerta para a possibilidade de ocorrerem rajadas de vento que poderão chegar a 100 km/h entre hoje (sexta-feira) e domingo, quando a região será alcançada por nova frente fria. O Centro de Gerência de Emergência (CGE) prevê ventos de 60 a 80 km/h, com a possibilidade de chegarem aos 100 km/h no decorrer da chuva. O Climatempo acrescenta o risco de também ocorrerem raios e granizo.

A Enel alertou que se ocorrerem novos ventos a 100 km/h, o desabastecimento de eletricidade voltará aos pontos atingidos e a recuperação será demorada, como na vez passada, o colapso voltará ao abastecimento porque as condições operacionais são as mesmas. A distribuidora fez sua comunicação ao mesmo tempo em que era noticiada a decisão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), de pedir à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) o cancelamento do seu contrato de distribuição, o que foi feito na quinta-feira (16).

Não tenho procuração, autoridade e nem interesse em defender nem acusar os envolvidos. Mas, como cidadão e consumidor prejudicado, não abro mão do direito de opinar. Considerar que numa região como a nossa, onde os ventos sempre ocorreram entre 40, 60 ou 70 km/h, a chegada de uma massa que sopra a 100 km/h pode ser considerada catástrofe. O testemunho disso está no número de árvores caídas (muitas delas sobre a rede elétrica) e a quantidade de imóveis cujos ocupantes amargaram o desabastecimento que chegou a ser superior a uma semana. Tivessem os ventos soprado como habitualmente, não haveria número tão grande de sinistros e a concessionária, com os recursos que dispõe, colocaria tudo para funcionar em poucas horas, como sempre fez. Mas em se tratando de uma catástrofe, é preciso redimensionar a se aparelhar para a nova situação climática, decorrente da virulência do fenômeno ‘El Niño”, que vem provocando desastres em todo o Brasil, na América do Sul e até nos outros continentes.

Mais importante do que caçar concessões, multar e punir os parceiros é resolver o problema e abreviar o máximo os períodos de interrupção de abastecimento. Penso que, em vez do viés punitrivo, deveriam estar em marcha a reestruturação e sinergia. A distribuidora está sendo chamada pelo administrador do seu contrato a ampliar os recursos de recuperação de sinistros (contratando mais pessoal, equipamentos e veículos de socorro) e a Prefeitura e órgãos ambientais buscando solução para o antigo problema de convivência das árvores que, com o vento, caem sobre a fiação elétrica. Seria o caso de monitorar as árvores ou, até, enterrar a fiação. Salvo melhor juízo, não é hora de se realizar Comissões Parlamentares de Inquérito e muito menos de recorrer à Justiça porque, a rigor, não existem culpados a punir. O ocorrido é a alteração climática e a única coisa que a população e seus órgãos têm para fazer é adaptar-se à nova situação.

Espera-se que o bom senso e a responsabilidade se façam presentes. Que todos os entes relacionados ao problema cumpram à risca suas obrigações e disso se obtenha menores períodos de interrupção de abastecimento nos sinistros e a regularidade dos serviços. Que jamais o evento climático seja usado como combustível para sustentar ou impulsionar o interesse eleitoral ou qualquer outro apetite que não seja o de bem servir a população.

Abordamos, neste texto, a eletricidade. Porém, as mudanças do clima existem muito mais. Governos e órgãos de controle têm de mitigar a seca, o transbordamento dos rios, o trânsito e uma série de outras variáveis. Que cada setor cumpra suas obrigações. Cumpre às autoridades, órgãos controladores e distribuidoras adotar providências saneadoras que evitem prejuízos aos serviços. Num primeiro instante, não devem abrir mão de as prefeituras e órgãos ambientais cuidarem das árvores para que elas não caiam sobre o fio e nem sobre carros ou pessoas na via públicas. E, se houverem recursos para tanto, tirar os fios dos postes e enterrá-los pois, debaixo do solo, eles não sofrerão os acidentes que hoje interrompem o fornecimento da eletricidade. A responsabilidade não é só das distribuidoras mas do poder público e até do consumidor que, entre outras coisas, pode verificar se a árvore da frente de sua casa está sadia ou denunciar anormalidades na fiação. Tudo antes do desastre acontecer.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo).

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