Colunas

O Cefam e o Champagnat

Por Rutinéia Cristina Martins

Pensar os 200 anos de Franca significa pensar em pessoas e lugares que fizeram parte de sua história. Nesse sentido, cito o CEFAM, o Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério, curso de nível médio criado em 1988, pelo governador Quércia visando a melhoria da qualidade de ensino na época. Em 1989, Franca recebeu um núcleo, da qual anos depois, tive a oportunidade de fazer parte.

De início, o curso destinado a futuros professores não tinha prédio. À minha época, funcionou nas dependências do Colégio Champagnat, prédio histórico que abrigava também uma escola de Educação de Jovens e Adultos e a Secretaria de Educação. Para ingressar, havia idade determinada: 14 a 21 anos. Éramos professoras adolescentes.

Lembro do primeiro dia, da chamada da coordenadora Zenaide Guagneli, no topo da escada. Eu vinha da Escola Hélio Palermo, extrema periferia há três décadas atrás. Me deslumbrava com tudo que via: professores, colegas…

A vida não era fácil: estudo em período integral, merenda ruim (muito diferente do capricho da merenda atual), a maioria de nós vinha de famílias pobres e se não fosse a bolsa de estudos de um salário mínimo que recebíamos, o destino seria o trabalho nas fábricas de calçado, desperdiçando nossos talentos.

Rita Batista, Renata Canuto, Zelinda Jacinto e tantas outras profissionais de respeito hoje dividiram marmitas conosco. Quantas vezes, fui ao ponto de ônibus na Vila Rezende sem dinheiro para o ônibus e a Alcione, Henriete, Maria Arlete ou a Rosângela dividiram os seus passes de ônibus (não havia cartão). Quanto enriquecimento cultural nas aulas e até com as colegas, como a Christiane Ferrari, que fluente em inglês e francês, já havia morado no exterior. Quantas vezes cantamos O velho e a flor! Quantas tardes de sextas-feiras, em que após 10 horas-aula, junto com a Kátia, a Myrna, os poucos rapazes, sendo dois falecidos (o Clayton e o Edmílson) e outras colegas ainda jogamos vôlei na quadra lateral!

Muitas histórias para contar, tendo como pano de fundo o velho Champagnat, que nos viu chegar meninas, a maioria com 14, 15 ou 16 anos e nos viu sair professoras e professores. Éramos as meninas dos olhos do Paulo de Tarso (secretário de Educação em 1990), como dizia dona Edna Haber e hoje, sem modéstia, profissionais de referência por onde passamos. E o velho Champagnat, infelizmente, esquecido após a mudança da Secretaria de Educação, sem os nossos projetos, as nossas risadas e a nossa juventude….Mas nada apaga a beleza de tudo que vivemos.

Rutinéia Cristina Martins é graduada em História e Pedagogia e é gestora escolar na Rede Municipal de Franca

Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer", idealizado pela colaboradora Soraia Veloso, em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Publicamos um texto por dia ao longo de mais de 40 dias, escritos por mulheres.

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