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O bairro Maria Rosa

Por Regina Ribeiro

Bairro simples era o jardim Maria Rosa, que até hoje muita gente nem sabe que existe. Tinha lá uma zona boêmia, que fez crescer os olhos e o espanto nas crianças da região que, querendo ou não acabavam presenciando cenas peculiares, tinha também as árvores do ponto de ônibus, hoje tombadas, o parque Fernando Costa e tão mais importante pra nós crianças a linha do trem, que apesar de não funcionar mais, trazia nela as histórias dos nossos pais sobre o ir e vir, sobre viajar, sobre o novo que chegava por ela.

Basicamente em torno disso girava o bairro, a vida e as esperanças de todos nós.

As ruas de terra batida sem perspectiva de asfalto tornavam a infância dali um paraíso sem dimensão, tudo era mundo de brincar, e tudo podia até as seis horas da tarde quando as mães gritavam os seus e cada um voltava para casa satisfeito e pronto para o próximo dia, o próximo jogo e a conversa olho no olho.

As voçorocas que se formavam quando chovia eram como pequenos presentes de Deus para alegria geral, e ninguém se preocupava com o chinelo que ia embora na enxurrada, com a roupa que se sujava de barro, ou se molhava o cabelo, micróbios acredito eu que foram criados só depois da minha infância.

Naquele tempo a linha do trem guiava meus irmãos, eu, primos e colegas, nem sei quantos, até a escola. Caminhávamos com sol ou chuva na linha até dobrar a esquina da escola Otávio Martins. Não tinha van carregando alunos, nem mães em fila dupla na porta atrapalhando o trânsito. Não tinha celular, a comunicação com os de fora era antes ou depois da entrada, no mais a conversa era real e boa. Os professores ainda eram respeitados, a diretora temida, e a vida seguia num curso normal e seguro.

Saudade que hoje me aperta o peito é a de andar equilibrada na linha do trem de ferro, de guardar o lanche para comer na saída da escola, e correr livre pelo bairro até chegar em casa, sem nenhum motivo, só mesmo ser feliz.

Regina Ribeiro é artista plástica, escritora, sonhadora e teimosa em acreditar no ser humano…

Esse texto faz parte da série “O que elas têm a dizer” em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia… escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.

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