Linha de cuidado na depressão
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Medicação e terapia são suficientes?
Questionamentos assim comparecem mesmo na mente de pacientes e de profissionais da medicina de saúde das emoções.
Antes de responder, vou contextualizar o tema.
A depressão é a maior causa de incapacidade do mundo e uma das principais contribuintes para a carga global de doenças. Estima-se que 4,4% da população mundial apresente o diagnóstico de depressão, segundo a OMS.
O custo associado aos dias perdidos de trabalho devido à depressão e ansiedade são estimados em US$ 1,15 trilhão por ano (trilhão, você leu corretamente!) e estima-se que esse valor se duplique até 2030.
O impacto brutal social e laboral da condição abre espaço para estudos e discussões sobre os tratamentos mais efetivos. Apesar de ser considerado padrão ouro de tratamento, o que pouco se fala sobre a medicação é que mais da metade das pessoas continuam apresentando sintomas após a primeira intervenção terapêutica e a taxa de remissão ao tratamento na primeira tentativa não é maior que 20%.
É consenso na literatura que a farmacoterapia, associada à psicoterapia, melhore a adesão e a resposta ao tratamento. Mas ao pensarmos em escala, na quantidade de pessoas com a condição, na disponibilidade de profissionais capacitados e no impacto financeiro ao sistema de saúde, em especial às seguradoras e empresas, ter a terapia como único tratamento adjuvante provavelmente será insuficiente. Então, nos resta entender a fisiopatologia da doença, quais os fatores de risco, como obesidade, sedentarismo, uso de tabaco e buscar opções terapêuticas. Dentre elas o exercício físico é a terapia validada para controle de sintomas e remissão da doença.
Na semana passada, foi lançado na BMJ (revista médica internacional de 180 anos de estudos e publicações voltados para um mundo mais saudável) o maior estudo sobre exercício físico e depressão, que envolveu mais de 200 outros estudos e buscou identificar o efeito de diferentes tipos de exercício físico no tratamento da depressão. Algumas formas de exercícios foram mais efetivas, como caminhada e corrida, treino de força e yoga.
O tamanho do efeito do exercício foi comparável ao da terapia cognitivo-comportamental e pareceu superior ao dos antidepressivos. Entretanto, quando combinados exercício + medicação, o efeito dos medicamentos melhorou.
Segundo esse estudo, o sistema de saúde pode recomendar exercício como alternativa independente para adultos com depressão leve ou moderada, sendo o exercício não mais considerado como tratamento adjuvante, mas como tratamento central para a condição.
Agora, sim. Respondendo à pergunta do subtítulo, podemos, mais do que nunca, afirmar que o exercício físico deve ser considerado em linhas de cuidado e programas de saúde para o tratamento de depressão, como uma intervenção central, que reduzirá custo e aumentará escala de tratamento da depressão. Além de prevenir comorbidades associadas, aumentar a qualidade de vida e produtividade de equipes e empresas.
Fica aqui a reflexão para lideranças e suas hierarquias:
– como vocês desenvolvem os programas de saúde de depressão?
Lembro que promover exercício vai muito além de promover acesso a academias. Mas isso é papo para um próximo post.