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Foi a água que bebi!

Por Rita Mozetti

Eu tinha medo dela

Ela era história

Mas, para mim mistério.

Eu era criança

Curiosa e exploradora.

Todas as vezes que eu tinha que passar por ela

Confesso que era misto de medo com encantamento.

Naquela época, para mim,

Ela era feia,

Séria

Tinha cara de brava

E ainda se chamava “careta”.

Não tinha como evitá-la.

Quem quisesse ir do Centro à Estação, no caminho, antes da ponte,

Encontrava-se com ela ali, toda imponente.

Eu passava, parava, lia a placa e observava a água que dali escorria.

Minha mãe insistia: “Bebe um pouquinho”

Ela se deliciava,

Eu nunca quis arriscar

Preferia não tomar!

Eu tentava encará-la, mas nunca fui corajosa o bastante.

O olhar dela me vencia, era penetrante, ofuscante

Mamãe parava para se refrescar e nunca saia de lá sem uma história para me contar.

E na minha cabeça ficava: “Nunca sairá daqui” “Nunca sairá daqui…”

Mas, eu queria sair, conhecer outros lugares, mesmo que depois eu voltasse, mas eu queria ir.

Me negava a beber, pois a água que dali vinha, podia me deter.

Eu acreditava nela, acredita naquela careta!

Um dia, de tanto medo e mistério que a envolvia, sonhei com ela

Sonhei que bebi toda a água que dela escorria.

No sonho, me debrucei na fonte, na pontinha dos pés, fechei os olhos para não ver a cara dela, juntei as mãozinhas e bebi da água.

Agora não tinha mais jeito, encarei a careta, bebi a água e de Franca não mais sairia.

Não contei o sonho para ninguém, mas mamãe logo percebeu que minha cama estava molhada.

“Gente, a Rita fez xixi na cama!”

Tentei explicar:

“Não é xixi, mãe. É a água da careta que bebi”

Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia… escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.

Rita Mozetti

É Mestra em Desenvolvimento Regional, Doutoranda em Serviço Social, Pedagoga, professora do Ensino Fundamental e Ensino Superior, Gestora de Formação Continuada e Vencedora do Prêmio Educador Nota 10.

4 Comentários

  1. NÃO atoa eu vim a franca, bebi água da careta em “1982” e não sai mais, aqui estou eu há exatamente (42) quarenta e dois anos, sou francano de coração, amo essa cidade desde sempre, tenho o maior orgulho de ser ” Francano sim, se sou o qui sou, e tenho o que tenho devo à esta cidade linda e maravilhosa, Obrigado franca, Obrigado, Rita Mozetti, você é culpada de tudo isto, você me fez apaixonar por você e também pela à nossa franca do Imperador, parabéns franca pelos seus “200” duzentos anos, do qual eu fasso parte à “42” anos, Obrigadoooooooo…..frannnnnnnnnncaaaaaaaaaa……só tenho muita gratidão por você.

  2. Bebi muito da água da careta, por isso saí por 18 anos mas voltei… Não via a hora de morar novamente em Franca. Terra abençoada!!!
    Linda história Rita! Parabens!!!

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