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Esperançar

Por Terezinha

Peço desculpas, mas não sei o que falar sobre você
Você que acolheu meus avós, meus pais e minha mãe, todos vindos de Pedregulhos, Cristais e Minas.
E eu que sou, daqui nunca me senti parte
Nem de Santa Luzia, nem de São Sebastião, Raycos, ou Conceição Leite
Nem de suas colinas, nem de seus sapatos, suas borrachas, Cocapecs
Nem de seus Magazines, Hbs, Paragons, Ravellis, Vulcabras, Sândalos, Palermos, Amazonas, Nmartinianos, Samellos e tantos outros
Talvez eu pertencesse ao Pestalozzi e seu lar escola, a creche dos Novelinos, onde entrei aos três e de onde sai aos 11 anos
Ali encontrei amizades, tias, cuidado e desconsolo ao completar a idade de partir
Encontrei livros na Ana Maria que era Junqueira regular e hoje é Junqueira integral. Ao lado de Coleginho, próxima ao Barão e logo atrás da São Judas
Colhi amizades no Cede, o David Carneiro Ewbank e algumas delas, ainda conservo nos dias atuais
Adolescente, dancei em AEC, Contra Mão, DA, Overnight e os passinhos de flashback que ainda conservo
A expoagro e todos os seus shows, os gritos, os risos
Jamais poderia esquecer o Cefam que não fiz, mas quis
Da Industrial, hoje Júlio Cardoso e dos técnicos que carrego, contabilidade e enfermagem
A Santa Casa, o trabalho no PMP, realizou sonhos, mas me levou afetos
O cursinho popular da Unesp, o vestibular, a aprovação e o Adeus
Cinco anos longe e uma saudade do seu frio, lembranças de algo que vivi e que ali ainda aguardava por mim
O casamento, o adeus aos meus mais velhos
O retorno
A realização de um sonho e tantos outros por vir
Mais mudanças e uma que fez toda diferença
O nascimento de uma filha, o afeto que novamente nasceu nessa cidade, o meu maior presente
O adeus à minha mãe
O permanecer em busca de várias histórias que Franca ainda me fará contar

Terezinha, de Franca, SP, 43 anos, mulher preta, gorda, esposa e mãe. Multipla, bailarina de dança do ventre, técnica de enfermagem, professora de língua portuguesa nos ensinos fundamental e médio, escritora e pesquisa de literatura negra. Atua como educadora e mediadora de oficinas de escrita livre e integra o coletivo As Pretas, em Franca, SP. Participa de diversas coletâneas, incluindo um projeto do Sesc RJ com narrativas femininas, Cadernos Negros 44 e 45, além de prefaciar a obra Arrimo.

Esse texto faz parte da série "O que elas têm a dizer" em que escritoras de Franca homenageiam a cidade pelos 200 anos, comemorados no próximo dia 28 de novembro. Será um texto por dia, até o final do mês, de crônica, conto, ensaio, poesia… escrito por mulheres. Se você também quiser participar, envie seu texto para solveloso2008@hotmail.com indicando no assunto: texto para homenagear Franca. Ficaremos felizes com todas participações. Soraia Veloso, escritora e francana de coração, é a idealizadora do projeto.

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