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Cartões de Natal: uma saudade eterna

Minha alegria nos anos 1980/90 era receber cartas e cartões da família. No século XX, a melhor comunicação que existia era via Correios (o telefone era caro e não era acessível para todos) e receber cartas, telegramas, cartões era sempre uma alegria, pois éramos informadas de todos os acontecimentos da família como nascimentos e aniversários, formaturas e outras alegrias. Se a carta viesse acompanhada de uma foto, era melhor ainda, lembranças a serem guardadas com carinho. Muitas cartas foram trocadas desde que meus pais decidiram mudar para Franca em 1979 e minha avó ainda incentivava guardar os selos, hábito cultivado durante muito tempo.

As cartas vinham durante todo o ano, mas três datas eram mais especiais: aniversário, Natal e Páscoa, porque certeza que chegariam belos cartões enviados por minha madrinha de batismo, pela madrinha de crisma de minha mãe, além das tias e primas. Para os aniversários, as opções incluíam personagens como Garfield ou Piu-Piu; para a Páscoa, lindos coelhinhos; no Natal, brilhos, presépios, árvores de natal, e belos cartões musicais.

Como não poderia deixar de ser, tenho uma caixa cheia destas boas lembranças que me fizeram refletir que, também cabia às mulheres lembrar dos aniversários da família. Os únicos cartões que tenho assinado por homem são os que meu marido me deu durante nosso período de namoro e também nestes 32 anos de casados que completamos neste dia 07 de dezembro de 2023.

No século XXI, as novas tecnologias deixaram as relações mais frias e a troca de cartões perdeu espaço – entre as pessoas que enviam, entre a empresa que entrega que não prioriza a entrega das cartas simples nesta época, e um cartão de Natal pode chegar só no Carnaval (já aconteceu comigo infelizmente).

Mas mesmo assim, sou teimosa e arrisco. Arrisco fazer alguém feliz em receber um cartão sem estar esperando. Arrisco a persistir em uma tradição que perdeu espaço. Arrisquei enviar meus cartões neste ano e outros entreguei pessoalmente. Você pode fazer isso também. Porque não? A ONG Pintores com a boca, com sede em São Paulo, ajuda a manter viva a esperança de receber mais um cartão de Natal. Todos os anos, junto com o calendário anual, eles enviam alguns cartões e fico esperando que um deles seja da artista francana Maria Goret Chagas, pela beleza da obra e oportunidade de deixar sempre um guardadinho.

Com certeza esta seria uma corrente maravilhosa de se fazer, pois são gentilezas muito diferente das redes sociais, dos e-mails ou das figurinhas do whatsapp que vamos trocando ao logo do ano. Se para o Natal não dá mais tempo de enviar, posso esperar meu aniversário… fevereiro é logo ali.

PS: A campanha do Jamil Borsari em prol do Natal das crianças continua. Você já ajudou? Pode colaborar? Entre em contato com ele e conheça este trabalho maravilhoso.

Soraia Veloso

Doutora em Serviço Social, especialista em estudos sobre mulheres e escritora. @soraiavelosocintra

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