Religião

Ressurreição e Vida Eterna, um eterno “Resetar”?

Por Padre Fábio

A Páscoa, celebrada pelos cristãos, traz-nos uma garantia única: a de participar com Cristo de uma nova criação e da Vida Eterna inaugurada pela sua morte e ressurreição.

A carta de S. Paulo aos Romanos no capítulo 6,4-11 nos ilumina quanto a essa nova realidade que se cumpre em nossa vida quando diz que “ nós fomos, pelo batismo, sepultados com Cristo na sua morte para que como Ele ressuscitou dentre os mortos pela glória do Pai, assim também  nós vivamos uma vida nova”

Cristo, então ao assumir toda a realidade humana, numa carne semelhante a nossa,  sendo Deus,  torna-nos iguais a Ele na essência da materialidade do corpo. O pecado, porém, não faz parte da essência divina, por isso fica fora dessa encarnação.

Cristo, portanto, ao nascer de uma mulher, Maria, assume totalmente a realidade humana, menos naquilo que é impossível para Deus, ou seja, o pecar. Pois na origem do pecado está a negação e rejeição de toda a realidade divina. E, assim, Deus não poderia negar-se a si mesmo.

O homem criado a imagem e semelhança de Deus, é um ser revestido de uma dignidade sem igual, até mesmo acima dos anjos, mas, ao ambicionar para si a plenitude de todo o  conhecimento, que pertence apenas ao Criador, e não se contentando com a sua realidade de ser criado, subverte a própria criação e quebra assim a harmonia existente separando-se do Criador.

Viver uma vida nova, não é apenas reviver, retomar a mesma vida,  após a experiência de uma morte. Não se trata portanto de voltarmos a esta vida como seres redivivos, e assumirmos novamente uma vida que se perdeu com a nossa morte. Em Cristo, somos um homem novo. Recriados para uma nova vida que iniciando no nosso batismo perdura para toda a eternidade.

A sociedade, na onda de uma busca de renovação das estruturas, e na busca de um mundo novo, porque acredita que este mundo já se esgotou em todo o seu modelo, propõe “resetar” a humanidade.

O que significa para tal tendência este novo termo proveniente da era dos neologismos da técnica da informática?

Apagar tudo como se apaga uma linha traçada numa folha de papel ou uma letra escrita com um simples e ultrapassado lápis de grafite.

“Resetar” o mundo, porque propõe começar de novo, negando tudo o que existe de costumes e dos valores atuais adquiridos ao longo dos milênios vividos pela humanidade, sobretudo provenientes da cultura judeu-cristã.

Os propositores desta nova ordem e deste novo mundo na tentativa de uma total transformação da humanidade, agem como se pudessem realizar uma nova criação eliminando a memória de tudo o que foi vivido e experimentado por todo e cada ser humano em particular.

Mas, na verdade, ao projetar tal mundo novo “resetando” o antigo, cai na armadilha e no engano de querer tornar-se um deus manipulador que elimina e nega-se a si próprio, pois ao tentar eliminar o que existe da realidade humana se coloca fora da mesma. Torna-se alguém que se arvora do poder, da capacidade e do direito de agir assim sobre o outro.

O homem, carrega dentro da sua essência de ser criado para participar da realidade divina, algo que é indestrutível por qualquer tentativa desta forma, porque traz dentro de si o profundo apelo a eternidade, como uma vocação, ou como  uma via de única direção.

Na realidade, essa eternidade não lhe pertence por si só. Ela é proveniente de Deus, o real Criador e de Cristo, seu Filho, que, sim, recria com a sua morte e ressurreição um novo homem, uma nova humanidade.

A lembrança de S. Paulo, o apóstolo dos gentios, na primeira carta aos Coríntios capítulo 15,37ss, chama a nossa atenção para a comparação da semente que semeada na terra é um simples grão, mas que traz dentro de si algo que já está desenhado e projetado para ser a grande novidade que é todo o corpo da planta que vai nascer. Assim é o homem: “semeado corruptível, o corpo ressuscita incorruptível, semeado desprezível, ressuscita reluzente de glória, semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força, semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual”

Não é possível portanto realizar um processo de “resetagem”.

Portanto, somente em Cristo ressuscitado, o homem pode ser com Ele uma nova criatura, um homem novo, uma nova criação.    (Pe. Fábio)

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