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“Se a população não cooperar, entraremos em colapso”, diz Alexandre Ferreira

Por Carolina Ribeiro

Pouco mais de 80 dias após assumir novamente a administração municipal de Franca, desta vez em condições completamente diversas do seu primeiro mandato (2013-2016), o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) recebeu a equipe do Portal Folha de Franca e falou sobre os desafios que tem enfrentado.

Segundo ele, além do problema com a Covid-19 – Franca hoje passa pelo período com medidas restritivas, que vêm sendo impostas desde quando a pandemia começou, no ano passado – a Prefeitura está sucateada e seriam necessários R$ 200 milhões para colocar a casa em ordem. Entre os problemas apontados por Alexandre Ferreira estão a falta de manutenção em todos os prédios públicos, além de frota e maquinários.

Portal Folha de Franca – Prefeito Alexandre Ferreira, como está avaliando este início de governo?

Alexandre Ferreira – Ainda bem que fui prefeito lá atrás, porque trouxe uma bagagem e uma experiência boa para enfrentar isso tudo. Temos duas vertentes a serem administradas, uma delas é o município e a outra é a Covid. São duas coisas que precisam andar ao mesmo tempo. Pegamos uma Prefeitura destruída, completamente. Sem dívidas, é verdade, mas com uma dívida administrativa e econômica muito forte.

FF – Como estava a Prefeitura quando assumiu? Melhor ou pior do que esperava?

Alexandre Ferreira A Prefeitura estava completamente sucateada. Tudo o que eu peguei estava pior do que eu imaginava. Aqui não é para amador de administração pública e quando temos um político puro no comando, o resultado é esse que vimos nos quatro anos anteriores. ‘Ah vou aprender’. Aqui não é um lugar para aprender. É um desafio todo dia. Pegamos tudo sucateado, desde prédios, por exemplo, estou com apenas uma escola, do total de 61 unidades, em condições de receber alunos. Elas ficaram fechadas um ano e não foi feita manutenção. As UBSs não receberam manutenção nos últimos 4 anos, o Pronto-socorro Municipal “Álvaro Azzuz” também. Equipamentos estragados, frota com grande parte dos veículos parados e sem condições de funcionar.

FF – Então, mesmo sem deixar uma dívida financeira para a Prefeitura, o antigo governo deixou problemas que você precisa resolver?

Alexandre Ferreira Por exemplo, dia 05 de janeiro não tínhamos condições de receber as crianças nas escolas. Não tinha merenda, nem licitação. Não tínhamos gasolina para a frota. Faltavam 64 medicamentos na rede, de 120, mais da metade não tinha. Ele (Gilson de Souza) não deixou dívida financeira, mas deixou uma dívida administrativa e econômica, que é o dinheiro que eu vou ter que gastar para colocar em ordem, que chega a R$ 200 milhões. Tenho um déficit de escolas e unidades básicas de saúde, já que em quatro anos não foi feito nada neste sentido, tenho que recompor toda a frota e maquinário da Prefeitura, tenho que reformar todas as estruturas da Prefeitura. As 61 escolas, 28 UBSs, 8 unidades de Assistência Social. Então é um serviço muito grande.

FF – Como está o planejamento da Prefeitura neste momento em relação à Covid?

Alexandre Ferreira – Hoje estamos com um problema sério, não quero chegar ao estado de Araraquara e Ribeirão Preto, por isso tomamos a decisão pelas medidas mais restritivas ao longo destes últimos dias (entre 23 e 31 de março). Se a população ajudar, vai dar resultado e vamos baixar a nossa curva de crescimento. Em janeiro, no auge da curva, estávamos internando 7.8 pacientes por dia, hoje estamos internando 1.3 por dia, então melhorou. Nossa maior dificuldade hoje, não é nem o volume de novos casos que eu preciso baixar ainda mais, mas é não deixar ir para o hospital porque lá eu não tenho mais espaço.

FF – Franca viveu nos últimos dias a fase com medidas mais restritivas desde que a pandemia começou. Por que esta decisão foi tomada?

Alexandre Ferreira – Tomamos iniciativas para barrar o avanço da ocupação das UTIs, para não acontecer como em outras cidades, como Araraquara e Ribeirão Preto. Antes tínhamos entre 12 e 20 dias de média de internação, hoje temos 40 dias (de média). Por vários motivos, entre eles, o fato de o vírus estar vitimando pacientes mais novos e fortes, por outro lado, a medicina também aprendeu sobre a doença neste um ano e mantém mais tempo o paciente vivo. Se antes em um leito eu colocava três pessoas, no mesmo período hoje eu coloco um. Então, por exemplo, se hoje eu tenho 100 leitos eu teria que ter 300 leitos para atender a demanda.

FF – Podemos dizer que a cidade hoje enfrenta uma situação que pode sair do controle?

Alexandre Ferreira – Sim, vivemos o momento mais delicado e se a população não cooperar vamos entrar em colapso. A rede privada, na questão de medicamentos, está pior que a gente. Mas em um longo prazo todos podem enfrentar este problema, a longo prazo o Estado de São Paulo ficará sem medicamento. Hoje não tem capacidade operacional para essa produção, para o volume de medicamentos que precisamos. Então, se perdurar essa condição por mais 40 a 50 dias, na situação que estamos, podemos abrir leitos, mas não teremos medicamentos.

FF – É possível ter expectativas positivas para os próximos meses ou com a situação tão indefinida da Covid ainda é muito cedo para isso?

Alexandre Ferreira – Estamos trabalhando para isso, para ajudar a economia e a cidade a se desenvolver mesmo neste momento. O programa Renda Franca é muito voltado para isso, assim como o Caminhos para o Emprego. As ações de internacionalização da produção de calçado, roupa e alimento em Franca também vem ao encontro disso. Ações de treinamento e capacitação dos empresários, ações de financiamentos para os micros e pequenos empresários que precisam de um suporte.

FF – Hoje o tema central de todas as discussões é a Covid-19 e todas as ações para conter o avanço da doença. Porém, quando tudo isso passar, quais serão as prioridades do prefeito Alexandre Ferreira para Franca? Alexandre Ferreira – Consertar a máquina para começar a crescer. A minha previsão é que sejam necessários os R$ 200 milhões para isso, como eu falei. Não vamos conseguir gastar isso em um ano, até por que não tem, então a nossa intenção é ajustar R$ 50 milhões por ano para consertar o que ficou de estrago nestes anos. Assim eu conserto e começo a evoluir.

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