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“Não vejo perspectiva de solução a curto prazo”, diz médico sobre pandemia

Pouco mais de um ano depois do primeiro caso positivo e a primeira morte em decorrência da covid-19 em Franca, muitas são as dúvidas sobre o vírus e o que o futuro nos reserva acerca da pandemia. Depois de um início de ano assustador – do dia 1º de janeiro até ontem, 17 de abril, foram registrados mais de 13 mil casos positivos e 258 mortes na cidade em decorrência do coronavírus – Franca vive uma situação mais confortável e, assim como todo o Estado de São Paulo, entrou hoje na Fase de Transição do Plano SP. Apesar disso, a população não pode descuidar e a orientação é que todos sigam as regras sanitárias para evitar um novo colapso na rede de atendimento.

Para falar um pouco sobre as perspectivas para a cidade na luta contra a covid-19, a reportagem da Folha de Franca falou com o médico hematologista e assessor médico do Hospital São Joaquim/Unimed, Marco Benedetti. O profissional faz parte da equipe responsável por todo o planejamento para o enfrentamento à pandemia no hospital. Durante a conversa, que durou cerca de 40 minutos, o médico afirmou que não enxerga perspectiva de solução da pandemia em curto prazo, mas também disse não esperar nenhum agravamento da doença ou mesmo repetir os números alarmantes dos primeiros meses de 2021. A grande preocupação, segundo ele, é com a possibilidade da falta de medicamentos.

Segundo Benedetti, Franca, assim como todo o País, viveu um momento mais crítico em janeiro. “Vivemos um período crítico em janeiro, com um aumento muito grande nos atendimentos. Em um primeiro momento acreditava-se que esse crescimento teria sido provocado pelas reuniões de fim de ano, mas depois se notou que na verdade era a nova variante do vírus, que ficou mais forte. Houve nitidamente uma mudança no perfil de atendimento”, explica.
Em janeiro, até 330 pessoas passavam por dia pela triagem no Hospital São Joaquim com sintomas da covid-19. Hoje, a média gira entre 90 e 100 pacientes. “Notamos a mudança no perfil, com pacientes mais jovens e com quadros mais graves. Também cresceu a necessidade de intubação.”

Hoje, de acordo com o médico, quase 60% dos pacientes atendidos pelo hospital tem menos de 60 anos. E mais de 50% desses pacientes chegam a precisar de intubação. “Há 30 dias a situação era mais crítica. O número de pacientes internados, que chegou a 30 em janeiro, agora caiu e gira em torno de 20. Os casos agora são mais graves. Se em janeiro menos de 30% dos pacientes internados estavam intubados, agora mais de 50% estão intubados. E essas pessoas são mais jovens, com 30, 40, 50 anos”, disse. “Não esperamos nenhum novo agravamento ou situação parecida com a vivida nesses primeiros meses do ano, a não ser que surja uma nova variante. Vivemos um momento de grande instabilidade, mas acreditamos que vá melhorar um pouco sim e não teremos maiores problemas”, completou.

A perspectiva, porém não é das mais otimistas para a volta da normalidade. “Nós trabalhamos com a perspectiva de que essa situação atual perdure até janeiro ou fevereiro de 2022 quando é a expectativa de que ao menos 70% da população esteja vacinada. O Hospital São Joaquim tem um plano de contingência em que trabalhamos com a possibilidade de ter até 72 pacientes internados com 30 pacientes intubados. Chegamos até a etapa 3, que era até 39 pacientes internados, onde tivemos 30 pessoas internadas, mas hoje voltamos para a etapa 2”, explicou o médico. “Agora não vejo perspectiva de uma solução a curto prazo, acho que a solução vem a médio prazo com a vacinação e na medida que a imunização for se estendendo… E daí a coisa vai abrandando e a vida tende a voltar para o seu normal.”
Medicamentos
O médico afirmou que neste momento a principal preocupação segue sendo a medicação, já que está em falta tanto no Brasil como no exterior. “A grande preocupação hoje é com medicamentos. Os pacientes intubados com covid utilizam uma quantidade muito grande de medicamentos. E eles estão em falta no País todo e no Mundo todo. Vemos que em muitos centros já não têm esses medicamentos para manter esses pacientes sedados. Aqui ainda não passamos pela experiência de não ter, mas a gente não tem uma autonomia para muitos dias. Temos medicamentos para manter toda a nossa estrutura por até 15 dias”, disse.
O hematologista explicou que o preço destes medicamentos subiu, mas a dificuldade para comprar esses produtos vai além, já que as próprias fábricas não se prepararam para a demanda que é gerada pela atual situação da pandemia. “Aumentou a demanda devido aos pacientes com covid, que precisam de uma quantidade maior de medicamentos, mas ainda existem os pacientes de UTI com outras doenças. E a fábrica não consegue produzir. Vivemos um momento de grande instabilidade e a todo o momento temos notícias de centros que estão com falta de medicamentos.”
Apesar da situação relatada pelo profissional, o mesmo afirma que as perspectivas neste sentido são boas já que o número de internações tem diminuído e, com isso, também deve cair a procura por medicamentos dando um fôlego a mais para a indústria produzir os mesmos.
Números
A taxa de mortalidade de pacientes em decorrência da covid-19 no Hospital São Joaquim é menor que a taxa da rede privada em todo o Brasil: 20% ante 28,3% que é a média alcançada pelos serviços privados no País.
Desde o início da pandemia o Hospital São Joaquim/Unimed Franca já realizou mais de 40,5 mil testes de covid, sendo que somente entre janeiro deste ano e até a última semana foram feitos 19,5 mil. Do total, 7.894 testaram positivo e 506 precisaram de internação.
“No início da pandemia ninguém sabia como lidar com esse vírus e todos foram se preparando. É muito diferente de uma pessoa que era internada no início e que é internada hoje. As equipes se desenvolveram, viu-se que alguns medicamentos realmente não funcionam e outros que funcionam. Novas tecnologias foram incorporadas e as equipes aprenderam”, disse.
Para finalizar o médico reforçou a importância da vacina, já que nos últimos dias surgiram alguns questionamentos sobre os imunizantes disponíveis. “Na prática a vacinação confere uma proteção grande, tanto que temos menos idosos sendo internados, assim como profissionais de saúde. É preciso tomar a vacina, independente de qual delas, todas são eficazes”, explicou.

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