Após 5 meses, público volta aos estádios na Inglaterra com restrições
Evite abraços e contato com estranhos. Se for cantar, gritar ou comemorar um gol, tenha cuidado. Use máscara. Essas recomendações fizeram parte do protocolo da primeira partida de futebol com público na Inglaterra em cinco meses, realizada neste domingo (18).
Em Wembley, 4.000 pessoas –menos de 5% da capacidade do estádio, mas o maior número desde o início da pandemia– assistiram à semifinal da Copa da Inglaterra entre Leicester e Southampton, como parte de um projeto piloto do governo britânico antes do retorno oficial do público às arenas, no mês que vem. Eu fui uma delas.
Depois de mais de três meses de lockdown e uma campanha de vacinação eficiente, casos e mortes por causa do coronavírus despencaram no Reino Unido. Isso permitiu que as autoridades seguissem com o cronograma de relaxamento das medidas restritivas que inclui a volta dos torcedores aos estádios ingleses a partir de 17 de maio.
Desde março do ano passado, o futebol é disputado sem público, com exceção de algumas semanas em dezembro.
Em um primeiro momento, a capacidade será de, no máximo, 10 mil espectadores. Antes, uma série de eventos servirão como testes.
Além da semifinal deste domingo, simulações parecidas serão feitas com 8.000 pessoas na final da Copa da Liga Inglesa entre Manchester City e Tottenham, no dia 25 de abril, e com 21 mil na decisão da Copa da Inglaterra, em 15 de maio, ambas em Wembley. Serão realizados também testes em arenas fechadas, como no Campeonato Mundial de Sinuca, em Sheffield.
Pesquisadores vão monitorar a movimentação e o comportamento do público e testar protocolos de distanciamento social e impacto nas taxas de contágio. Os dados vão virar relatórios e servir de norte para a quarta e última fase de suspensão das restrições, prevista para 21 de junho.
Nesses pilotos, o já organizado futebol inglês tem ainda mais regras. Os ingressos foram distribuídos gratuitamente, mas foi preciso cumprir algumas exigências.
Precisei aceitar um termo de consentimento, fazer um teste rápido de coronavírus no dia da partida e apresentar o resultado negativo para entrar em Wembley.
Também tive que realizar um teste RT-PCR, processado em laboratório e considerado padrão ouro para detecção do vírus, que será repetido cinco dias depois. Tudo sem custo, feito pelo NHS (sistema de saúde público do Reino Unido, similar ao SUS).
O acesso ao estádio foi dividido em zonas para evitar aglomerações. Pessoas de grupos de risco, grávidas e menores de 18 anos foram proibidos de participar.
Do lado de dentro do estádio, não vi ninguém com camisa de clube. Era uma mescla de jovens adultos, sozinhos ou em casal, e idosos.
A área de alimentação estava aberta e vendia até cerveja. Na fila, faixas no piso demarcavam o distanciamento social e, ao redor, havia estações de álcool em gel.
Nas arquibancadas, pelo menos uma cadeira vazia separava cada espectador com assento marcado. A maioria incentivava com palmas, mas, nos momentos de mais emoção, muitos cantavam e gritavam, sem tirar a máscara.
No intervalo, filas no bar e nos banheiros causaram certa aglomeração, mas é justamente esse o objetivo do projeto piloto: testar situações reais, em escala menor. Em campo, o Leicester venceu por 1 a 0 e enfrentará o Chelsea na final.
A experiência de entrar em um estádio depois de mais de um ano, com tanta gente em volta, e de forma segura, é empolgante. Além disso, todo o processo foi fácil e eficiente.
As novas regras não incomodaram Mark McDonagh, que comemorou a volta a uma partida de futebol depois de quase um ano e meio. “Temos que cuidar das pessoas. Minha mãe é vulnerável, temos que ter certeza que todos estão seguros. Estou feliz de poder ajudar”, disse o torcedor.
“Da última vez que vim a Wembley, havia uma multidão, todos entrando ao mesmo tempo. A atmosfera hoje é diferente, mais relaxada.”
Uma proposta polêmica estudada pelo governo britânico ainda não aplicada nos testes é o uso de um certificado de imunização, que permitiria a entrada em locais com aglomerações de quem foi vacinado, teve resultado negativo no teste de detecção para coronavírus ou tem anticorpos.
A ideia, defendida pelo primeiro-ministro Boris Johnson, enfrenta críticas não só da oposição Trabalhista, mas também
No entanto, entidades como a Federação de Futebol da Inglaterra, a Premier League e o All England Club, responsável pelo torneio de tênis de Wimbledon, escreveram uma carta endereçada ao premiê e a outros políticos apoiando o possível uso de certificados no futuro. Mais de 60% dos adultos já receberam a primeira dose da vacina no Reino Unido.
“Todo o esporte vê o benefício que um certificado de Covid oferece para termos um número maior de torcedores de volta de forma segura o mais rápido possível”, diz o comunicado, que lembra que “a decisão final não pode ser discriminatória, precisa proteger a privacidade e ter um critério claro para o seu fim.”
O plano divide os torcedores. “Neste momento, sou contra. Me deixa desconfortável. É preciso cuidado na hora de exigir um certificado para que as pessoas possam ir aos lugares. Aumenta qualquer desigualdade que já possa existir”, disse Louise Edis, que também foi ao jogo em Wembley. “É uma decisão difícil.”