Um jardim de chuva, você já ouviu falar ou conhece um?
Por Vivian Vianna
Quando ouvi sobre o conceito pela primeira vez, no ano passado, fiquei surpresa ao saber que já é uma técnica bastante utilizada em várias cidades do mundo, como solução simples e de baixo custo para amenizar os problemas associados à drenagem urbana. E como paisagista e urbanista, me fez pensar na obviedade da eficácia dessa solução se ela for incentivada e espalhada pela cidade.
Com o crescimento da área urbana, o aumento da impermeabilização do solo reduz a infiltração das águas das chuvas que passam a correr sobre a superfície e em maior volume e velocidade ocasionando enchentes, processos erosivos e assoreamento dos corpos d´água. Tais problemas são comuns nas cidades e demandam obras de engenharia de alto custo e que sozinhos nem sempre apresentam uma solução eficaz, por serem pontuais e estarem focadas no efeito e não na causa.
A beleza do jardim de chuva está na simplicidade como atua na causa do problema, aumentando as áreas e o tempo de infiltração da chuva no solo. É claro que um único jardim não tem efeito significativo, mas vários pequenos jardins espalhados por toda cidade mudariam o cenário, porque estaríamos criando um sistema de captação descentralizado que contribuiria para auxiliar num plano de prevenção de enchentes.
A diferença entre ele e um jardim comum é que ele é projetado para reter e absorver temporariamente um volume maior de água, ficando alagado durante a chuva e drenado em poucas horas após ela ter caído, podendo infiltrar até 30% a mais de água do que um gramado.
O jardim de chuva pode ser executado de muitas maneiras e formas criativas, vale dar uma olhada na internet como referência para se inspirar, lembrando sempre que você deve estar atento para suas condições locais e não simplesmente reproduzir um modelo.
Para sua execução, basicamente é cavada uma área com uma certa profundidade e colocada uma camada grossa de pedras no fundo, que é coberta por uma camada mais fina de areia que, por sua vez, é coberta por com uma camada mais espessa de terra, misturada como composto orgânico onde é feito o plantio de forrações e arbustos nativos, formando uma bacia ou um caminho sinuoso para onde a água resultante do escoamento superficial de telhados e ruas é conduzida naturalmente, sendo boa parte infiltrada e parte liberada mais lentamente.
Além de usar pedras e gramíneas, para enriquecer o ambiente plante plantas e árvores nativas que atraiam polinizadores e sejam resistentes aos períodos de estiagem e suportem os pequenos alagamentos. Outra dica para a nossa região é executá-lo no início da primavera, assim quando as chuvas iniciarem no verão, as plantas já terão desenvolvido suas raízes de forma a fixarem bem o solo e estes não serão levados pela enxurrada.
Se você for executá-lo na calçada, deve observar o sentido do escoamento da água na rua, para fazer o corte na guia por onde a água entrará e por onde deverá sair seu excesso durante uma chuva forte, bem como garantir que fique livre uma faixa pavimentada de 1,50 metros para o pedestre. Na sua casa ou empresa você pode ainda captar a água da chuva do seu telhado e conduzi-la para uma cisterna e reutiliza-la ou pode destina-la a um jardim de chuva construído embaixo da calha coletora. Podemos pensá-los ainda em estacionamentos, captando parte do escoamento superficial dos mesmos. Temos muitos exemplos de cidades que construíram jardins de chuva em canteiros centrais de avenidas e rotatórias, esses casos requerem um conhecimento maior de drenagem e devem ser executados pelo poder público ou com autorização do mesmo.
Aqui em Franca, no ano passado, o Comitê Verdejar – Grupo Mulheres do Brasil, em parceria com a Empresa Tip Toey Joey, pôs em prática essa ideia, executando na calçada da empresa, na Avenida dos Sapateiros, um dos primeiros jardins de chuva da cidade, que tem funcionado bem e tem previsão para ser ampliado. Quem passa por essa calçada pode ainda ouvir os pássaros que cantam na floresta de bolso que foi plantada ali com espécies nativas, exemplo de paisagismo sustentável que, além de embelezar, presta serviços ambientais.
Gosto de pensar que podemos ser a solução fazendo pequenas escolhas conscientes que estão ao nosso alcance. Se minha cidade sofre com enchentes todos os anos, posso ser solução fazendo um jardim de chuva na minha calçada ou no meu quintal.
E aí? Vamos fazer parte da solução?
Vivian Vianna é arquiteta e paisagista; também atua como voluntária no Comitê Verdejar - Grupo Mulheres do Brasil