Ouro Verde
Por Adriana Mendonça Ribeiro
Circulou pela Internet uma foto que mostrava de um lado a floresta Amazônica exuberante e do outro um descampado arado, típico da agricultura em larga escala. As duas imagens ocupam todo o quadro, sendo uma de um verde profundo e a outra poeirenta e ocre, não há margem ou borda e estão divididas ao meio como por régua. Sobre as imagens, inúmeros comentários, mas não imaginei que alguém dissesse que do lado ocre tem-se trabalhadores, e do lado verde, meia dúzia de índios vagabundos sustentados por nós – o estupor não passa. Precisamos com amor e paciência espalhar por aí que aquele verde dito “obsoleto” onde moram “meia dúzia de índios” é uma riqueza tão grande que pode salvar o planeta. E não esquecer de mencionar: estamos falando de dinheiro também!
O Brasil é um dos países chamados de Mega Diversos, por sua flora e fauna, pela quantidade de idiomas falados (274 línguas!), pelo seu povo (305 etnias!). O corpo diplomático brasileiro é cortejado porque o mundo quer ouvir o Brasil sobre o que faremos para manter a riqueza que ninguém mais tem. Estima-se que nós não conhecemos nem 10% de nossas florestas. Imagino que ela contenha a resposta para muitos males que vivemos, mas é preciso falar baixo, sem machado ou máquinas, porque ela é tímida. Uma história engraçada ouvi entre um professor de francês e outro de português. O francês, querendo humilhar o brasileiro, acusava-o de não pegar uma cestinha e sair ao bosque atrás de cogumelos e frutas silvestres, o brasileiro, debochado, lascou: mon chér, nossos “bosques” têm é onça, vocês só conhecem esquilos. É isso…
No entanto, o que já conhecemos justifica a preservação, temos um imenso ativo nas mãos! A busca por novos princípios ativos nos faz chefe de qualquer cúpula, porque esses ativos estão nas nossas florestas. A biomimética, área da Ciência que estuda os princípios criativos e estratégias da Natureza, visando a solução dos problemas atuais da humanidade, só pode se desenvolver na floresta.
Falar só não adianta, temos números atraentes. No Alto Rio Negro, populações tradicionais cultivam mais de 100 tipos diferentes de mandioca, 56 de batata-doce, 78 pimentas, 17 de algodão. Isso interessa? Muito. A Irlanda quase morreu de fome porque seu tipo de batata foi atacado por um fungo no século XIX. O caso é famoso e exemplar: a agrobiodiversidade é o nome para segurança alimentar. Outro: a “Terra Preta de Índio” é um mistério que deveríamos conhecer. São faixas pretas de terra que constituem o solo mais fértil do mundo, e é obra dos índios desde a era pré-colombiana até hoje.
Não é novidade considerarmos o índio um entrave ao desenvolvimento. Nos anos 70, eles “impediam” a integração da Amazônia, por exemplo. Mas um observador normal pode ver que eles conseguem viver em equilíbrio, a existência deles não desgasta o meio em que vivem, parece sonho.
Acho que para nossa salvação precisaremos das florestas de pé e vivos os seus intérpretes, os índios. A mineração é safra de colheita única, vão-se embora o fruto, a planta e a terra.
E dinheiro na mão é vendaval, não tem raízes.
Adriana Mendonça Ribeiro é advogada, empresária do ramo de restaurantes e apaixonada pela natureza