Prefeitos de 1.300 cidades dizem não ter condições de atender casos graves de Covid
Pouco mais de 1.300 prefeitos afirmaram que os hospitais de suas regiões não conseguirão manter os atendimentos aos pacientes mais graves nos próximos dias, entre outros motivos, pela falta do “kit intubação”. O país vem enfrentando há semanas quedas nos estoques de analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares usados na intubação de pacientes com Covid-19 internados em UTIs.
Outros 709 prefeitos também disseram que é iminente o risco de desabastecimento de oxigênio em hospitais e nos centros de atendimento de seus municípios. Esses dois cenários são o retrato do pior estágio da pandemia radiografado em pesquisa realizada pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios) junto aos prefeitos cujos resultados foram divulgados nesta sexta-feira (26).
Dos 5.568 municípios do país, 46,9% responderam à pesquisa realizada entre os dias 23 e 25 deste mês por telefone.
Segundo a entidade, o levantamento será feito semanalmente para monitorar os impactos da pandemia, sobretudo, nos pequenos municípios cujos entraves logísticos também emperram as respostas dadas ao enfrentamento do coronavírus. O Distrito Federal e Fernando de Noronha não participaram da pesquisa porque não são municípios, mas distritos –um é federal e o outro pertence ao estado de Pernambuco.
Entre os 2.611 prefeitos entrevistados, 82% disseram que ainda não receberam nesta semana suprimentos de oxigênio enviados por seus estados para aliviar o impacto da demanda pelo insumo em suas unidades hospitalares. Para Denilson Magalhães, consultor da área técnica de Saúde da CNM, a pandemia tem se mostrado mais forte, agora, devido à falta de estrutura dos municípios -a maioria de pequeno porte e sem atendimento especializado. “Apenas 10% dos prefeitos disseram ter condições de tratar casos graves em suas regiões”, afirmou o especialista à reportagem citando resultado de uma pesquisa realizada pela entidade em 2020.
É esse aumento simultâneo e exponencial de casos graves, segundo Magalhães, que está colapsando o sistema de saúde do país como um todo. “É preciso entender que um hospital não atende um único município, mas uma região”, diz. No desespero, prefeitos têm colocado em prática medidas para forçar a população a cumprir o isolamento e o distanciamento social, única forma de conter o coronavírus no momento em que a imunização não atingiu nem 5% da população brasileira. Quase mil cidades brasileiras (983) implantaram lockdown, o fechamento total das atividades não essenciais e outras 2.127 impuseram toque de recolher à população à noite, segundo a pesquisa da CNM.
A capital paulista e os demais 644 municípios do estado estão sob o que o governo Doria (PSDB) batizou de fase emergencial, que foi prorrogada até o dia 11 de abril. Ela inclui o fechamento de escolas e medidas mais restritivas para o comércio -restaurantes, por exemplo, só estão operando no delivery. Todas as cidades do estado mais rico do país também estão sob toque de recolher noturno, das 20h às 5h. Quase 90% dos prefeitos entrevistados também disseram que restringiram o funcionamento de diversas atividades aos finais de semana (88,4%), diminuíram a circulação de ônibus (41%) e paralisaram as aulas presencias das escolas (89%) para frear o avanço da pandemia.
A antecipação de feriados, medida tomada pela gestão de Bruno Covas (PSDB) e que passou a valer nesta sexta na cidade de São Paulo, não teve muita adesão nos demais municípios nesta semana, segundo a CNM.
Apenas 10,6% dos prefeitos entrevistados que, em números absolutos correspondem a 278 cidades, seguiram o mesmo caminho de Covas. Os resultados da pesquisa, diz Magalhães, serão entregues ao governo federal e ao ministério da Saúde para a criação de estratégias. “O enfrentamento da crise depende de esforços de municípios, estados e da União”.