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Ciscando Aventuras

FILME: As aventuras de PI

(2012, filme estadunidense, direção: Ang Lee, 127 minutos).

Baseado no romance de 2001 de mesmo nome por Yann Martel. Em 10 de janeiro de 2013 foi anunciado que Life of Pi havia recebido onze indicações ao Óscar, incluindo Melhor Filme, tendo vencido os prêmios de Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia e Melhores Efeitos Visuais.

Uma família de um dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia, decide se mudar para o Canadá, viajando a bordo de um imenso cargueiro. O navio naufraga e somente Pi, filho mais novo da família, consegue sobreviver em um barco salva-vidas. Perdido em meio ao oceano Pacífico, ele precisa dividir o pouco espaço disponível com um tigre-de-bengala chamado Richard Parker, o qual Pi aprende a domar e tornar seu aliado e que acaba por realizar com ele o resto de sua viagem.

O Pi de verdade existe e seu nome é Aldi Novel Adilang. O jovem, que vive na Indonésia e tinha 18 anos, foi resgatado vivo após passar 49 dias à deriva em alto-mar.  O Pi indonésio tinha uma vida de aventuras até maior que o da ficção (wikipedia 24 de setembro de 2018).

Somos apresentados a esse cativante personagem que subitamente perde tudo — os sonhos, a família, um futuro — após o naufrágio de seu navio. “E o que ele ganha em troca?” Tudo que lhe resta são um vasto oceano, um bote e uma tripulação de sobreviventes composta de uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre-de-bengala, animais do antigo zoológico. Animais selvagens, ferozes e letais.

POR QUE GOSTEI: Somente o cinema, como arte em movimento, poderia fazer este “truque” que nos deixa sem saber se o protagonista vive na realidade o que narra ou criou uma história aludindo, brincando com uma situação extrema, que envolve sua sobrevivência.  Hoje, que falamos de “guerra de narrativas”, e nos confundimos se estamos frente a notícias que são fatos ou fake News, é bom saber que narrativas nos salvam ou nos condenam.  Há narrativas que promovem ódios, desordens de todo tipo, e outras que nos dão esperança e fé no porvir.  Veja o filme, se for como curioso (a)  como eu leia também o livro. Vale a pena. Em tempos de cegueira e confusões, é bom duvidar, e encontrar formas de percepção que sejam lentes confiáveis e amorosas, que permitam ver de longe e de perto as paisagens que nos escapam…

LIVRO: UMA IDEIA TODA AZUL

(Marina Colasanti, 1978, 23. Edição, Editora Global, ilustrações da autora, 62 páginas).

Marina Colasanti (Asmara, 26 de setembro de 1937) é uma escritora, perto de completar 86 anos. Contista, jornalista, tradutora e artista plástica ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritreia. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes, fez gravura em metal e traduziu dezenas de livros.

A vasta produção literária de Marina Colasanti abrange mais de cinquenta títulos de poesia, contos e crônicas, publicados no Brasil e traduzidos em diversas outras línguas. Os temas sobre os quais a autora reflete em suas obras também são os mais diversos, como histórias de amor, o papel da mulher na sociedade, os relacionamentos interpessoais, entre outros. Muitas obras de Marina Colasanti são utilizadas como objetos de pesquisas na área dos estudos literários.

Nasceu na cidade de Asmara, capital da Eritreia. Passou parte da infância em Trípoli, na Líbia, e também na Itália. Em razão da difícil situação vivida na Europa após a Segunda Guerra Mundial, Colasanti e sua família emigram para o Brasil em 1948, fixando residência no Rio de Janeiro. A sua mãe faleceu aos 40 anos quando Marina tinha 16 anos.

Nascida numa família de artistas, esteve sempre cercada por arte. A sua formação como artista plástica possibilitou que ela mesma pudesse, mais tarde, ilustrar suas obras.

É casada com o também escritor, poeta, Affonso Romano de Sant’Anna.

Em 1962 começou a trabalhar como jornalista no Jornal do Brasil, onde trabalhou por 11 anos e em diversas funções: redatora, repórter, editora, colunista e cronista. Depois, foi trabalhar na editora Abril, na Revista Nova, onde passou 18 anos, mas paralelamente foi publicando seus livros. Criou roteiros para novelas da TV.

Conhecida por seus livros infantis, Colasanti já recebeu dezenas de prêmios literários, como o Jabuti em 1993, 1994, 1997, 2009, 2010, 2011 e, em 2014, venceu o prêmio na categoria Livro do Ano de Ficção. Em 2010, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Passageira em trânsito. Em 2017, ela recebeu o 13º Prêmio Ibero-americano SM de Literatura Infantil.

Em 2023, se tornou a primeira mulher vencedora do Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto das obras, prêmio entregue pela Academia Brasileira de Letras.

POR QUE GOSTEI:  TEMOS, devemos como geração que já viveu tantas reviravoltas que andou mexendo em valores básicos como Solidariedade, Compaixão, Amizade, Lealdade, Honestidade e até no que pensamos ser Amor, de tentar pensar e fazer pensar os pequeninos que chegam neste mundo, como nós chegamos: desamparados.

E a melhor forma de pensar mentalidades, pesar valores, sopesar o que queremos para aqueles que mais amamos, que geramos, é através de histórias.  Histórias que não permitam o escape da realidade.  Que permitam o conhecer complexo das interações humanas, da condição humana, mas que despertem o desejo de desfrutar a vida, de respeitar a vida que há em nós e nos outros.  Colasanti consegue, com sua obra, esta proeza de – com leveza e poesia – despertar para estes mundos paralelos que somente nós, humanos, somos capazes de imaginar.  Se não a conhece, urge conhece-la. Comece com esta azulada ideia…   

Em Uma ideia toda azul, reis, rainhas, princesas, príncipes, unicórnios, gnomos, cisnes, fadas são alguns dos personagens dos dez contos, criados pela sensibilidade e imaginação de Marina Colasanti.

Um livro, como fala a orelha do livro, que nasceu clássico. Recebeu muitos prêmios, O melhor para Jovem, 1979;  Grande Prêmio da Crítica, 1979, da Associação Paulista de Críticos de Artes.

As histórias, embora passadas em lugares imaginários – castelos, bosques, reinos distantes -, revelam sonhos, fantasias, medos, desejos e outros sentimentos sempre presentes na alma humana.

A linguagem de uma sonoridade poética narra a história da princesa sem amigos, do rei prisioneiro em seu próprio reino, do unicórnio e sua paixão, da corça aprisionada, da princesa, possessiva, insensível.

Os aspectos simbólicos e os valores contidos nesses contos são básicos para a formação da personalidade da criança. A princesa pegou a rede, o vidro, a caixinha dos alfinetes, e saiu para caçar. Sempre atrás de borboletas, não se contentava com as que já tinha, caixas e caixas de vidro em todos os aposentos do palácio. Queria outras. Queria mais. Queria todas.

Não é um livro apenas para crianças.  A obra revela intenções profundas apreendidas também por adolescentes e adultos. 

Marina

Maria Luiza Salomão

Maria Luiza Salomão é psicanalista pela Sociedade de Psicanálise de São Paulo e mediadora de leituras, participante do projeto Rodalivro, membro da Academia Francana de Letras. Correspondente da Afesmil (Academia Feminina Sul-mineira de Letras).

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