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The Flash: Aprecie com moderação

Filme do herói velocista é divertido, mas perde o sentido num universo cinematográfico prestes a ser extinto

O atual universo dos super-heróis da DC Comics no cinema acabou, literal e metaforicamente. E o filme The Flash, em cartaz nos cinemas de Franca nesta quinta-feira (15) é a pá de cal.

Começando pelo aspecto literal, o da vida real, fora das telas. Dez anos atrás, o estúdio Warner lançou um filme do Superman (O Homem de Aço, 2013) e inaugurou o que seria uma franquia de filmes interconectados com os famosos heróis dos quadrinhos. A ele se seguiram longas-metragens estrelados por Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Shazam e outros.

Porém, as produções milionárias, recheadas de efeitos especiais e apoiadas por fortes campanhas de marketing, não conquistaram o resultado esperado. O único filme a ultrapassar a casa do bilhão de dólares nas bilheterias foi Aquaman (2018) – a título de comparação, o concorrente Marvel Studios tem 10 filmes nesta condição – e alguns deles mal se pagaram.

Para reverter esta situação caótica, em outubro do ano passado a Warner entregou o comando de seus filmes de super-heróis para o diretor James Gunn e o produtor Peter Safran. A dupla recebeu a missão de apagar tudo que havia sido feito antes e reiniciar o universo dos heróis da DC Comics no cinema. O filme de estreia desta nova fase já foi anunciado para 2025: Superman: Legacy.

Por conta disso, produções que estavam prontas e programadas antes da chegada da nova chefia simplesmente perderam o sentido: Shazam! Fúria dos Deuses, The Flash, Besouro Azul e Aquaman 2.

Final simbólico

É neste sentido que The Flash representa também um final simbólico para o atual universo da DC no cinema. Na trama, o herói (interpretado por Ezra Miller) descobre que sua supervelocidade permite a ele viajar no tempo. Mesmo desaconselhado por Batman (Ben Affleck), Flash volta ao passado para evitar o assassinato de sua mãe.

O problema é um fato alterado no passado não afeta o futuro da mesma linha temporal, mas sim dá origem a uma nova realidade. Ao fazê-lo, Flash cria um mundo em que não existem super-heróis. A nave kryptoniana que chegou à Terra anos atrás é de Kara Zor-El (a Supergirl, vivida por Sasha Calle) e não a de Kal-El (o Superman).

Batman (Michael Keaton) é um herói aposentado, e Flash encontra sua contraparte do passado, o então universitário Barry Allen, que ainda não sofreu o acidente que lhe conferiria superpoderes. É este restrito e improvável grupo que terá que impedir a destruição da Terra pelo vilão kryptoniano General Zod (Michael Shannon).

The Flash chega aos cinemas no rastro de críticas e expectativas. No primeiro caso, Ezra Miller nunca foi bem aceito pelos fãs e seu Flash vinha servindo mais como alívio cômico. Além disso, o ator envolveu-se no último ano com uma série de acusações de assédio, invasão, roubo e agressão, pelas quais se retratou.

Em relação às expectativas, o principal fator é o retorno de Michael Keaton ao papel que o consagrou nos filmes Batman (1989) e Batman: O Retorno (1992), que viraram uma verdadeira Bat-mania mundial. Há também a presença da Supergirl em sua primeira aparição no moribundo universo cinematográfico atual, a primeira vez em que a personagem é interpretada por uma atriz de origem latina.

Devo assistir?

The Flash tem, sim, qualidades. A dinâmica sequência de abertura é um misto de homenagem e despedida à atual Liga da Justiça; rever Keaton como Batman numa época em que os efeitos digitais evoluíram enormemente desde aqueles filmes dos anos 1980/90 é um presente para os fãs.

Miller dá conta do recado ao interpretar dois papéis ao mesmo tempo. Mais que isso, imprime uma evolução ao seu personagem do presente, que precisa abandonar o papel de engraçadinho e assumir a responsabilidade de adulto frente à sua versão mais jovem e displicente do passado. 

A sequência final, na qual o Flash bagunça como nunca o multiverso (ou seja, a infinidade de realidades alternativas que ele criou por acidente), é o momento em que o filme se entrega de corpo e alma ao chamado fan service e enche a tela de referências e versões antigas e alternativas de conhecidos super-heróis.

O problema de The Flash é que ele vai de nada a lugar nenhum. Parte de um universo que poucas vezes empolgou a audiência, chega a outro que obrigatoriamente precisa deixar de existir e retorna a um terceiro que não tem futuro.

The Flash é o melhor filme da Warner/DC nos últimos anos – o que não chega a ser um grande mérito. É divertido e deve ser apreciado como mais uma aventura de super-heróis entre tantas outras que invadiram os cinemas na última década. Comprar o ingresso com uma expectativa maior que essa pode resultar em frustração.

Jota Silvestre

É apaixonado por cultura pop, é jornalista especializado em cinema, séries, animação e histórias em quadrinhos, com mais de 15 anos de experiência em publicações especializadas.

3 Comentários

  1. Assisti ao filme ontem. Havia desistido dos filmes de heroi, eles viraram mais do mesmo e só os fãs incondicionados ficam eufóricos. The Flash só vi pelo Batman do Michael Keaton.
    Apesar dos efeitos especiais dos primeiros 20 minutos serem péssimos, no geral o filme é uma boa diversão.
    Uma pena que os spoilers sobre o filme infestaram a internet, pois isso atrapalhou um pouco a experiência.

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