O Diabo na Internet
Eu ouvi algumas vezes que havia influenciadores na internet que lançam desafios aos seus seguidores, no sentido de vencerem obstáculos perigosos, como saltar de pontes, beber água fervente, até realizar automutilações. Fiz uma pesquisa rápida e fiquei assombrado. São adultos que fazem a abordagem de jovens e crianças dentro dos seus lares, muitas vezes bem próximo dos seus pais. Há um grande número de lesionados e de mortes decorrentes dessa loucura. O problema ganhou visibilidade ultimamente porque chegou ao Congresso, fazendo com que o PL das Fake News, parado há três anos, fosse retomado. Trata-se do projeto de lei número 2623/2020, que objetiva regulamentar as publicações pela internet, através das redes sociais. O fato que chamou a atenção foi o projeto encontrar grande número de detratores no Parlamento Brasileiro, especialmente dos oposicionistas do Governo atual, que o chamam de PL da censura! Repetem o falso mantra de que se pretende institucionalizar a censura! Trata-se de um erro grave, para não dizer, uma mentira. Não é possível a liberdade de expressão sem limites. Esses influenciadores que estão matando crianças provam isso.
Parece inacreditável, mas no primeiro quarto do século XXI ainda temos pessoas que se prestam a isso: influenciar jovens e crianças, sem qualquer objetivo relevante, com a finalidade de as prejudicar apenas. Claro que ganham dinheiro com isso. Mas é uma forma criminosa de vender publicidade. Mas, o mais absurdo é que haja legisladores que não se preocupam com o problema! Não é que estejam contra a forma de controle proposta no PL das Fakes News, mas dizem que votarão contra porque preferem que a internet fique como está, um universo sem lei. Na verdade, a regulação das mídias não visa apenas proteger crianças dos influenciadores perigosos. Há vários golpes e crimes que são praticados pela rede mundial de computadores, porque as empresas que prestam o serviço não têm controle nem se preocupam com o que é veiculado. Todos sabemos disso. Mas, muitos desses nossos representantes no Congresso são contra a regulamentação porque se valem das redes sociais para dar vasão aos seus instintos e interesses pouco republicanos, para dizer o mínimo. Basta analisar a campanha que alguns deles fizeram contra a vacina, ou dando estímulo à invasão das casas em que funcionam os Poderes Federais do Brasil em 08 de janeiro de 2023.
Há pouco mais de duas semanas eu voltava a Franca, vindo de Minas Gerais pelo lado Oeste, através da Rodovia Tancredo Neves. De repente, surgiu uma nuvem de poeira ao lado da pista e notei que estava formando um funil, levantando pedaços de papel, capim seco, e terra, obrigando-nos a fechar os vidros do automóvel. Lembrei com saudades de minha mãe, que se estivesse conosco teria se persignado, com o sinal da cruz e repetido o seu mantra de proteção dessas horas: “cruz credo, cruz credo, cruz credo”! Lembrei-me também de Guimarães Rosa e do seu personagem jagunço que, como minha mãe, também via “o diabo na rua, no meio do redemoinho”, no romance Grande Sertão: Veredas.
Riobaldo, o jagunço personagem de Guimarães Rosa, confessa ao seu interlocutor meio invisível, que não acredita no diabo. Esclarece: “o diabo vige dentro do homem…” Afirma que deviam se reunir em assembleia os sábios, os políticos para definirem de uma vez, com força de lei, que não existe diabo nenhum, “para dar tranquilidade à boa gente…” Pelo que se nota, no romance, a ideia não foi adiante. Será que o mesmo diabo que vige nessas pessoas que se dedicam com exclusividade a fazer o mal, não mais no redemoinho, mas nas redes sociais, não merecem a atenção dos nossos já não tão sábios legisladores? Embora não pareça, não se trata de brincadeira a comparação do problema das redes sociais com os dilemas do personagem de Guimarães Rosa. É apenas uma forma mais leve de tocar num assunto de grande importância. O PL das Fake News ainda está parado… É preciso que todos nos conscientizemos que temos de fazer alguma coisa. Não para que instituam censura às formas de expressão, mas que criem um meio de coibir crimes pelos meios de comunicação. Que tal usarmos as redes sociais para esse fim?
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