Opiniões

O centro do atendimento é a pessoa

É entendendo a importância da comunicação clínica e da abordagem centrada na pessoa humana e, portanto, não apenas na doença, que surgem novos modelos de consulta, com a intenção de ajudar os médicos a conduzirem adequadamente os encontros com os pacientes.

Por falar em encontros e não em consultas, você já teve a curiosidade de conferir quanto tempo demora a sua passagem por um consultório de um NGA (Núcleo de Gestão Assistencial), destinado a oferecer serviços de assistência médica especializada, de um ortopedista a um psiquiatra, por exemplo?

Vai dizer que nunca teve que ir a uma UBS (Unidade Básica de Saúde)?

No primeiro, NGA, a média de demora de seu atendimento não atinge 5 (cinco), eu disse cinco, cinco minutos! Prontuários seus, aos quais você tem direito de solicitar uma cópia, comprovam esse desprezo pelo paciente.

Seja no SUS ou na ampla rede de planos de saúde particulares que, diga-se a bem da verdade, pode e vem participando do sistema em caráter complementar, o foco e o modo de consultar é por demais contraproducente, contraprodutivo, nas duas pontas: prestador de serviços e usuários-pacientes.

O que leva alguém à consulta médica pede para ser compreendido por todos; e pela sociedade, evidentemente. A lei do SUS, ao elevar o dever do Estado, não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade.

Um dos mais conhecidos recursos, para se alcançar o primordial objetivo que empresta título ao presente e despretensioso artigo para a Folha de Franca, é o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP), que se destaca por se adaptar às necessidades específicas dos pacientes e às características dos entendimentos atuais que as pessoas possuem sobre saúde e sobre doença.

O Portal Pebmed abordará esse método em uma série de textos, discutindo cada um de seus quatro componentes:

  • – Explorando a saúde, a doença e a experiência da doença.
  • – Entendendo a pessoa como um todo — o indivíduo, a família e o contexto.
  • – Elaborando um plano conjunto de manejo dos problemas.
  • – Intensificando a relação entre a pessoa e o médico.

Mas o que torna o MCCP especialmente adequado para as consultas de hoje? Por que ele é importante para que o médico tenha sucesso no cuidado de seus pacientes?

O método em destaque parte da mudança na mentalidade sobre a relação médico-paciente, considerado o que reside no imaginário dos pacientes. É inegável que o profissional da Medicina é visto como detentor do conhecimento; o paciente, nesse raciocínio tradicional, é um simples receptor de informações.

Modelos assim vão cair, contra a vontade dos agentes e atores do essencial setor de saúde.

 O MCCP traz a proposta de modificação suavemente profunda dessas relações de poder, reconhecendo a consulta como um encontro de especialistas: o médico, especialista em medicina; e o paciente, especialista nele mesmo.

A abordagem e o planejamento terapêuticos; características do contexto de vida, ideias, expectativas, medos e até preferências do paciente, face a face com o melhor conhecimento técnico e científico disponível, são tomados em consideração no standard que se vislumbra.

Em tempos de extremadas e instantâneas formas de captação, trato, produção e troca de informações, nas redes sociais também, por suas múltiplas plataformas, em que a telemedicina espertamente avança, com a força e inevitabilidade da pandemia não vencida de todo, a horizontalização da relação das partes fica aplainada, muito facilitada e acessível, realmente.

Mudar sua primeira impressão, quando necessário, nem sempre é tarefa simples. É papel do médico convencer (e como é difícil!) o paciente a seguir o plano terapêutico, pois dessa adesão depende o sucesso do tratamento. E isso geralmente não se dá de outra maneira que não seja através de uma construção pactuada com ele.

A valorização do conhecimento e os entendimentos prévios que o paciente traz consigo à consulta, mesmo que por seu acompanhante, em situações especiais, para, a partir deles, construir uma conduta que faça sentido para o paciente, é que garantem assim a sua adesão.

Fatores externos não podem ser deixados de lado pelo médico.

O MCCP deve ser incorporado para valorizar os aspectos biopsicossociais que influenciam na saúde do paciente, não somente os orgânicos e biológicos.

A descoberta dos micro-organismos em meados do século XIX revolucionou a medicina, permitindo a prevenção e o tratamento de doenças para as quais anteriormente não se sabia a causa. Do mesmo modo, o reconhecimento do impacto de fatores relacionados à saúde mental, a questões sociais, familiares e emocionais, surge mais recentemente como um novo paradigma para ajudar a tratar melhor da saúde dos pacientes. Soma-se ao conhecimento biomédico a abordagem integral da pessoa em seus mais diversos contextos de vida para garantir o melhor cuidado à saúde.

 O Método Clínico Centrado na Pessoa foi construído para levar todos esses aspectos em consideração.

A relação médico-paciente terá de superar os contratos e normais legais que levam essas partes, inclusive, à indisposição e pontos de vista negativos de um para com o outro, manipulados, sem perceberem, ou por questão de sobrevivência, pelos que detêm poderes para invisivelmente os subordinar.

A esperança se apega à aplicação desse método, com o reconhecimento da confiança mútua entre profissional e pessoa para o sucesso dos acompanhamentos e tratamentos de saúde. Desde o ambiente seguro de consulta à essencial postura de escuta e empatia pelo médico.

Para encerrar, por hoje, digo que são essas propostas que sistematizam o fortalecimento dessa relação como um passo fundamental para um cuidado em saúde significativo e de bons resultados.

Conversaremos sobre os quatro componentes do MCCP, bem como sobre as tarefas e etapas de cada um deles em próximos textos aqui no Portal FF. Até lá!

Saúde!

Théo Maia Pedigone Cordeiro

Médico de Família e Comunidade pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

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