Flávio Bolsonaro, o querido de Lula

Há quem diga que política é a arte do possível. Eu prefiro outra definição: política é a arte de transformar o improvável em inevitável — e depois fingir que sempre foi assim. A mais nova coreografia do tabuleiro brasileiro envolve Jair Bolsonaro, Lula, Donald Trump, Nicolás Maduro, Tarcísio de Freitas e, surpreendentemente, Joesley Batista.
Eis a tese que ninguém quer dizer em voz alta, mas todos pressentem: Flávio Bolsonaro é o candidato escolhido por Lula e por Donald Trump para disputar a Presidência em 2026. Não por afinidade ideológica — mas por um acordo muito maior, que envolve geopolítica, sobrevivência familiar, vacas, tarifas, Mar-a-Lago e o futuro da direita brasileira.
Sim, parece ficção. Mas sigamos os fatos.
O Gancho: Venezuela fechada, Joesley pousando e o mundo girando
A cerca de duas semanas, Donald Trump ordenou o fechamento total do espaço aéreo venezuelano. Uma manobra agressiva, anunciada no Truth Social, como parte de uma operação de cerco a Maduro. Ao mesmo tempo — e isso não é coincidência — Joesley Batista viajou à Venezuela, em 23 de novembro, para se reunir com o ditador e pedir sua renúncia.
A pergunta de qualquer observador minimamente atento é: como um empresário brasileiro pousa em espaço aéreo bloqueado pelos Estados Unidos?
A resposta é tão improvável quanto simples: Joesley não foi apenas como empresário — foi como emissário.
Emissário de quem? De Lula e de Trump ao mesmo tempo.
A realidade, às vezes, supera qualquer ficção.
O Novo Itamaraty: Joesley Batista S/A
Joesley, nos últimos anos, tornou-se um gigante do mercado bovino. Não só no Brasil, mas nos Estados Unidos. Ele transita por Mar-a-Lago – resort de Trump, localizado no estado da Flórida – como quem circula na sala de estar. Joesley virou lobista, articulador de tarifas e diplomata não oficial.
Foi ele quem resolveu a questão tarifária que irritava o agronegócio brasileiro. Foi ele quem mediou aproximações entre Trump, Lula, setores do empresariado e até o entorno de Jair Bolsonaro. Joesley virou aquilo que Brasília finge não existir: um Itamaraty terceirizado.
E foi justamente nesse papel que ele se tornou a ponte de um acordo que, ironicamente, beneficia todos os envolvidos — inclusive os que juram se odiar.
O Acordo: Maduro, Magnitsky, terras raras e… Flávio Bolsonaro
Trump tem uma obsessão: a Venezuela.
Quer a queda de Maduro e a eliminação da influência de Rússia e China no país vizinho. Para isso, precisava de um beneplácito do Brasil — o único país capaz de mediar a transição sem incendiar o continente.
Lula, por sua vez, queria o fim das sanções do pacote Magnitsky, que atingiam seu entorno e o STF.
Trump precisava de Lula. Lula precisava de Trump. Joesley foi o fio que amarrou esses nós.
Daí nascem três entregas simultâneas:
- A questão Maduro se encaminha.
- As sanções Magnitsky começam a ser afrouxadas — notícia já ventilada na imprensa.
- A exploração de terras raras volta ao radar com interesse americano.
E o que Bolsonaro ganha nessa história? Tempo, proteção e a manutenção de seu bloco político.
Flávio Bolsonaro: o candidato perfeito para perder
Agora chegamos ao ponto mais sensível: por que Lula quer Flávio candidato? Porque, na cabeça do presidente, não existe cenário mais confortável do que enfrentar um Bolsonaro enfraquecido e carente de carisma próprio.
E por que a família Bolsonaro quer Flávio candidato? Porque ele é a chance de manter a propriedade da direita brasileira sem entregar o bloco político a Tarcísio e, consequentemente, ao Centrão.
É perder as eleições… vencendo no que realmente importa: o controle.
Não é coincidência que Eduardo Bolsonaro tenha publicado, no X, uma nota surpreendentemente amistosa sobre as conversas entre Lula e Trump:
Isso não é discurso de quem está sendo atropelado.
É discurso de quem está sentado à mesa.
O que fazer com Tarcísio? Usar, descartar e repetir
Tarcísio aparece mais uma vez como figurante de luxo da própria biografia. O “nome forte” que espera autorização de Jair Bolsonaro para decidir se será candidato — o que, por si só, já desmente seu próprio mito.
A verdade é que Tarcísio Gomes de Freitas sempre tocou projetos alheios, sendo um funcionário dos outros. Foi assim no Governo Dilma, no Governo Bolsonaro e agora com o Centrão. Não há nada de errado nisso, ele é um excelente funcionário, No entanto, é evidente que quem vive como executante, nunca será líder de seu tempo.
E, neste acordo global, Tarcísio não passa de um ativo facilmente substituível.
A peça fora do tabuleiro: Renan Santos e a nova direita
Enquanto lulistas, bolsonaristas e trumpistas se entendem por conveniência, uma candidatura surge como ameaça real a esse “acordão”: Renan Santos, fundador do MBL, hoje pré-candidato à presidência pelo partido que ele mesmo articulou, a Missão.
Disruptivo, antiarranjo, inimigo natural da política de bastidores, Renan é a única peça que não participa do jogo — justamente por não dever nada a nenhum dos envolvidos.
Sua entrada num cenário polarizado abre uma brecha que pode reconfigurar a direita, retirando o monopólio político da família Bolsonaro.
É a variável que Lula, Bolsonaro e Trump não controlam.
Se há uma lição nessa história toda, ela é filosófica, irônica e dura:
– na política, o adversário às vezes é apenas um parceiro de ocasião — e o conflito, muitas vezes, é só um método elegante de organizar o acordo.
2026 está aí para provar!





