Opiniões

Déficit de atenção e hiperatividade: diagnóstico x realidade

De cada dez crianças, uma recebeu o diagnóstico da doença!

Será que estamos vivendo uma epidemia do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?

O TDHA é caracterizado por uma tríade principal: desatenção, hiperatividade e impulsividade.

A hipótese atual sustenta que todos estes sintomas estão relacionados com a informação ineficiente em vários circuitos que envolvem o córtex pré-frontal, região cerebral determinada.

Em 2019, o CDC (Centro de Controle de Doenças, EUA) relatou que a prevalência do TDAH em crianças entre 3 e 17 anos era de 9,8%, com 6 milhões de crianças diagnosticadas e 4,2 milhões tomando psicoestimulantes. Esses resultados representam um aumento dramático em comparação com mais de 30 anos atrás, quando a taxa de TDAH era estimada entre 3% e 5%, um aumento de mais de 100%!

O que é mais preocupante é que a prevalência do TDAH aumentou cerca de 35% apenas de 2003 a 2011, e não há indícios de que esse aumento esteja estabilizando. Mais de 20% dos meninos em idade escolar já receberam diagnóstico desse transtorno psíquico.

Realidades

O que está acontecendo aqui e agora, com um quadro estatístico expressivamente ascendente? Dez por cento das crianças tinham TDAH e nós simplesmente não percebemos? Houve alguma mudança genética ou epigenética, fazendo do TDAH a doença infantil mais prevalente, ficando atrás apenas da obesidade?

Acredito que alguns fatores podem estar ligados a esse aumento.

Por um lado:

  • aumento do acesso a serviços de saúde mental, possibilitando o diagnóstico mais precoce;  
  • evolução nos critérios diagnóstico (DSM-5), levando a maior abrangência.

De outra parte:

  • sobrediagnóstico ou superestimativa de diagnóstico e pressão social para tratamento;  
  • um aumento significativo nas exigências feitas às crianças, escolas e famílias no âmbito educacional; tema por si mesmo polêmico.

Precipitação

É importante reconhecer que o diagnóstico preciso de TDAH leva tempo. Não se trata apenas de preencher um formulário padronizado e fazer um teste com medicação.

Os médicos devem descartar outras condições que possam apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH, como distúrbios de aprendizagem, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Resumindo, acredito que estamos vivendo um aumento no diagnóstico, relacionado ao maior acesso aos profissionais e um sobrediagnóstico secundário. O que vocês acham?

Théo Maia Pedigone Cordeiro – CRM 163.843 – Médico, pós-graduado em Psiquiatria e Médico de Família e Comunidade pelo Hospital Israelita Albert Einstein

Contatos: @theopedigone

Théo Maia Pedigone Cordeiro

Médico de Família e Comunidade pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

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