As Vítimas das Redes Sociais
As redes sociais entram na vida das pessoas como uma janela para o mundo. Velhos amigos voltam a fazer contato, novos são encontrados. Muitos destes com uma tal afinidade de princípios e valores que surpreende aos novos internautas. Aos poucos, muitos dos novos viajores entram num turbilhão sem saída. De visitantes, viram cativos, de agentes de relações, viram controlados. Não percebem. Se são alertados reagem, de modo violento, disparando impropérios, vídeos e palavras de ordem, até ameaças.
O brasileiro é um dos que passam mais tempo nas redes sociais; é no Brasil que se encontra o maior número de influencers, aponta o cientista político Miguel Lago (Revista Piauí, 193, outubro de 2022). Usar as redes sociais não é um problema, ao contrário, é um excelente meio de resolvê-los. Mas é preciso controle. Mais de duas semanas depois do fim das eleições, muita gente que aparentemente até possui algum descortino, continua deslumbrada com as pregações eleitorais. Especialmente as pessoas mais simples, que levam a sério as mensagens recebidas pelas redes sociais, ou ligadas às igrejas e a grupos que se envolveram no processo eleitoral. Há indivíduos desesperados com o fim da propriedade privada, da liberdade religiosa, da liberdade de ir e vir… Gente que nem possui casa própria, que menos ainda saberia explicar o que seria perder a liberdade religiosa ou a liberdade de ir e vir. Aliás, como seria se um governo acabasse com a liberdade de ir e vir?
Claro que quem promove esse clima nos grupos das pessoas simples sabe o que está fazendo, sabe o que quer. São indivíduos que odeiam ouvir falar em distribuição de riquezas, ou em diminuir a pobreza no país. Não podemos nos esquecer que o capitalismo foi o melhor que se inventou para substituir o feudalismo, o trabalho escravo, mantendo as diferenças de classes sociais. É um sistema passável, mas que está longe de ser justo e precisa evoluir para que a sociedade seja um pouco mais igual.
Não é à toa que até hoje há pessoas mobilizadas solicitando a tomada do poder pelos militares, com o cancelamento das eleições presidenciais. Naturalmente, mantendo válida a parte que elegeu parlamentares que apoiam o governo derrotado. Obviamente essas pessoas sabem ou deveriam saber que o Partido dos Trabalhadores governou o País por quase quinze anos e que não houve grandes mudanças na liberdade, no dia a dia dos cidadãos. Houve um pouco de arruaça, por desídia do governo, que andou causando alguns danos a propriedades, principalmente do Estado, mas que acabou contida pela Justiça.
Houve, é certo, um imenso processo de corrupção que, no fim das contas criou a atual rejeição ao PT. A responsabilidade pela roubalheira foi igual ou maior do Congresso, que tinha a missão de fiscalizar o Executivo e acabou se tornando protagonista nos desvios de recursos públicos. Mas, no dia a dia da população não houve mudanças drásticas, ainda que no começo o governo contasse com oitenta por cento de aprovação popular.
Houve alguma tolice também na pauta de costumes, em que o governo petista tentou interferir de modo assertivo, causando atritos e confusão. Realmente, por se tratar de matéria complexa, parece razoável que os governantes respeitem as opções das pessoas e deixem aos seus representantes, os legisladores, a tarefa de ir introduzindo no sistema o seu regramento. Não cabe aos governos eleitos propor ou ditar novos de costumes à sociedade.
O fato é que as mensagens compartilhadas entre grupos de apoiadores dos candidatos influenciaram muito mais do que poderíamos imaginar. As repetições de slogans com alto grau de emoção, acompanhados de imagens eletrizantes, na sua maioria falsas ou fora de contexto, foram capazes de realizar verdadeira lavagem cerebral nas pessoas mais simples, identificadas com certos padrões de comportamentos. Não há dúvida, o grau de polarização que se viu nas eleições brasileiras de 2022 não seria possível sem as redes sociais.
A pauta de costumes, a religião e a liberdade foram os principais temas mais usados para o convencimento. Mensagens repetindo à exaustão que se a esquerda ganhasse seria implantado um comunismo em que famílias seriam destruídas, igrejas fechadas, levaram fiéis seguidores do influencer presidente ao desespero. O tom das postagens evidenciando que o governo atual, que não foi reeleito, era o garantidor de todos esses valores e direitos. Nada mais falso sob o Sol.
Enfim, a preocupação com a implantação de um regime comunista ditatorial no País é uma alucinação sem fundamento e só engana as pessoas mais simples e ignorantes. Por outro lado, propor que os militares tomem o poder para garantir a liberdade do povo, após eleições livres e democráticas em que foram escolhidos os seus representantes, é uma rematada tolice, uma demonstração de absoluta ignorância histórica. Quanto às redes sociais, é um excelente meio de comunicação, ou de mídia individualizada, se se preferir, e não pode ser convertido em instrumento de luta ideológica irracional, de grupos radicais. Cabe ao usuário levantar os olhos e olhar para fora da telinha do smartfone de vez em quando. O mundo passa fora dela também, e com muito mais opções…
Parabéns, Dr. José Borges, pela lucidez em seu olhar sobre as redes, as mídias. E seguimos aqui no limite do adoecimento vendo tanta tolice sendo compartilhada, sempre por “encaminhamentos”, sem filtros ou questionamentos. Parabéns!!!