Opiniões

A saúde por trás das telas

Sabe-se, claramente, que a grande maioria dos pacientes, quando indagados sobre a preferência de ser atendido via telemedicina ou presencialmente, pelo menos 80 % deles preferem o atendimento presencial! Esta escolha vai ao encontro das diretrizes e objetivos da Medicina de Família. Alega-se a necessidade da inclusão digital e maior facilidade para pacientes.

Porém, a realidade não é bem essa. É necessário haver uma estrutura voltada à Internet e, esta população, normalmente a que mais necessita, não dispõe desta ferramenta que para muitos é banal, é apenas mais um de seus meios habituais de acesso e uso regular da tecnologia. O direito de poder contar com o que há de modernidade eletrônica, de operações de crédito a processos judiciais e reclamações dos consumidores, não dispensa a presença física do médico, porque ainda não encontra substituto à altura dessa relação direta de médicos-pacientes.

A clínica que exercemos diariamente, com públicos de todos os estratos sociais, recomenda, a olhos nus, seja ainda valorizada, e valorizada de verdade, na apertada sala de consulta desprovida até de um computador de uma UBS a clínicas sofisticadas destinadas aos que podem custear bons planos particulares de saúde. Dar vazão e acolhimento a essa preferência perceptível da unanimidade é como que resgatar o que nunca se propôs a implantar por aqui e que a Inglaterra, França e Portugal, por exemplo, disponibilizam a bem da economia e da saúde de sua gente.

Médico de Família e Comunidade sabe, como nenhum outro, que a maioria dos pacientes não busca apenas uma medicação para aliviar a sua dor física, mas também, uma boa conversa com seu médico de confiança, associada a importância do exame físico presencial. Com alguma decepção, o que vemos é a banalização da telemedicina e a consequente desvalorização do médico, em favor do maior lucro de grandes empresas e “startups”. Pensemos mais em nossos pacientes e em como melhorar a qualidade de vida deles, de carne e osso e sentimentos. Não esqueçamos da Humanização da saúde! A população precisa do contato físico carinhosamente respeitoso e engajado dos bons profissionais de saúde que, ainda, graças a Deus, insistem nesta nobre jornada!

Théo Maia Pedigone Cordeiro

Médico de Família e Comunidade pelo Hospital Israelita Albert Einstein.

Um Comentário

  1. Parabéns pela reflexão! Completo com a seguinte constatação essa nova geração tecnológica tem sérias dificuldades de relacionamento (interpessoal) quer seja no trabalho, em casa, em qualquer círculo social. O distanciamento ao contato humano tem refletido em maiores casos de ansiedade e depressão, principalmente na população idosa. Como enfermeira generalista há 24 anos vejo o quanto é mais difícil nos dias de hoje conseguir uma consulta de qualidade, frente as diversas cobranças administrativas, burocráticas e de metas. Fico me perguntando como será no futuro o compromisso com a população vulnerável, foco essencial da existência da Saúde da Família se cada vez mais estamos distantes de atuar holisticamente e humanizadamente, por questões econômicas, culturais, sociais.

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