Opiniões

1° de maio é do Trabalhador

O 1° de maio é, com certeza, uma data que, juntamente com o 8 de março, foi deturpada pelo tempo e apropriada pelas elites e pelo estado para mudar seus significados. Originalmente, o 1° de maio foi uma data instituída pela 2ª Internacional Socialista em 1889, em homenagem aos trabalhadores massacrados em Chicago em 1886.

No 1º de maio de 1886, aproximadamente 80 mil trabalhadores de Chicago participaram de uma greve histórica, reivindicando condições de trabalho mais dignas. Esse movimento surgiu em meio a uma época marcada pela intensificação da exploração e da desigualdade social, onde os trabalhadores eram submetidos a longas jornadas de trabalho, baixos salários e péssimas condições laborais.

No entanto, o conflito real ocorreu em 3 de maio, quando trabalhadores em greve pela redução da jornada de trabalho de 13 horas para 8 horas entraram em confronto com trabalhadores temporários contratados pelas empresas. A polícia interveio na situação, atirando contra a multidão e deixando mortos e feridos.

Os líderes dos trabalhadores convocaram um ato na Praça Haymarket para o dia 4 de maio, com o objetivo de protestar contra a violência policial. A manifestação começou pacífica, mas quando a polícia chegou para dispersar a multidão, um homem não identificado atirou uma bomba contra os policiais. Em seguida, os policiais abriram fogo contra a população, resultando na morte de sete policiais e até oito civis, além de deixar cerca de cem pessoas feridas.


Oito ativistas, incluindo August Spies, um dos líderes dos trabalhadores, foram julgados pelo ocorrido na Praça Haymarket, embora alguns deles nem sequer tivessem estado presentes no local no dia 4 de maio. Spies e três outros foram condenados à morte por enforcamento, enquanto outro réu cometeu suicídio. Os demais foram posteriormente perdoados em 1893 pelo governador de Illinois, que reconheceu que o julgamento não havia sido justo. O episódio ficou conhecido como a “Rebelião de Haymarket” e teve um grande impacto na luta pelos direitos trabalhistas nos Estados Unidos.

A situação da classe operária nesse momento histórico era degradante. Havia locais em que o horário de trabalho era de 16 horas, sem folga ou descanso, crianças de 6 anos trabalhando e nenhum direito, como férias remuneradas ou licença saúde ou maternidade.

Assim, a luta internacional dos trabalhadores passou a ser por melhores condições de trabalho. Neste sentido, em homenagem à luta dos operários de Chicago, a 2ª Internacional Socialista em 1889 instituiu o 1° de maio como o Dia do Trabalhador.

No início do século XX, os trabalhadores, depois de muita luta, conquistaram as 8 horas de trabalho, com um dia de descanso semanal remunerado e férias. Essas conquistas nos influenciam até hoje, e só temos alguma qualidade nas condições graças a essa luta enorme que os trabalhadores fizeram.

A data, por se tratar da conscientização da classe trabalhadora, foi aos poucos apropriada e transformada no Dia do “Trabalho”. Tiraram o sujeito e a luta do dia, para colocar apenas a ação que gera lucro para o capital.

Assim, a data passou a ser comemorada como um movimento cívico organizado pelo Estado. Vargas, depois que voltou ao poder, anunciava suas medidas, como por exemplo, o reajuste do salário-mínimo, no dia 1° de maio.

As elites e o Estado fizeram essa apropriação com o intuito de tirar o caráter da luta nesse dia e para diminuir a conscientização da classe trabalhadora, pois uma classe trabalhadora unida e consciente é capaz de conquistar seus direitos e melhores salários.

Vivemos em um tempo em que é fundamental lembrar dessa data como um dia de luta. Estamos perdendo direitos, trabalhando mais e com salários menores. Talvez seja a hora de nos inspirarmos novamente naqueles que sonharam com um trabalho digno e uma vida melhor.

As opiniões aqui publicadas não refletem necessariamente a opinião da Folha de Franca. 

Carlos Machado

É Professor Historiador e Militante do PCB.

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