Lutos

Doar é se cobrir de bênçãos

“Deem e será dado a vocês: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês. A medida que usarem também será usada para medir vocês”

A exortação de Lucas bem poderia ser o conselho de Salomão, quando ergue a voz e baixa a pena, no papel, embebida de tintas do humanismo, para deixar registrado que aquele que é generoso será abençoado, pois reparte o seu pão com o pobre.

Poderia ser a melhor homenagem póstuma a um amor da minha. Que amor!

Como resumir a longevidade de quem tanto se doou por amor?

Hoje, não quero falar sobre o que você passou ou enfrentou.

Tudo o que quero é enaltecer seu exemplo e legado.

Enveredo pela narrativa dialogada, em que a principal interlocutora já não pode mais me ouvir, se é que não devo dizer, responder!

Seguro o choro, os dos olhos. O do coração abriu comportas.

Todos que a conheceram sabem o quanto você prezava pelo que é correto. Isso é um fato inquestionável, pois, dos netos mais espertos, você conseguia facilmente identificar uma mentira, uma malandragenzinha de moleque. E esse neto sabia bem com quem estava lidando!

Apesar disso, se fazíamos as nossas travessuras, era sempre você que se punha em nossa defesa, mesmo sabendo que nossas mães reprovavam essa sua atitude de protetora sem medidas.

Você sempre nos mostrava que a maior lição dos pais são os seus exemplos. O que plantou, colheu.  Toda a cordialidade com os idosos e com o próximo nós adquirimos observando a senhora. Suas ações nos arrastavam para o respeito e consideração, na transformação do fazer o bem, sem olhar a quem, em realidade.

O seu trato, até mesmo com os que inexperientes, de menor rodagem de vivência que a sua, à sua moda, nivelava por cima, talvez para explicar a nós, e hoje, entendemos, uma tal de empatia, melhor que empadinha, por ser expressão que nunca pronunciou. A sua sabedoria a ajudou a cunhar nas brumas do tempo. A filha da compaixão deve ter nascido daí.

O seu lar, a sua companhia, um verdadeiro recanto dos netos, fazia a nossa rota imutável para as nossas férias. Destino preferido de todos nós.

Tinha que ver os banquetes que a Vó Lena preparava!

Os seus hábitos se tornavam o nosso. Questão de estilo que se repetia na descendência, gostosamente. Acredito que todos de casa, da parentada, assim como eu, acostumaram-se a almoçar tendo uma banana de acompanhamento. Uma vitamina de mamão é irrecusável, aprendemos com ela o sabor da sobremesa do que havia sido feito com amor e calor, dela e do fogão a lenha.

Embora todos os netos tenham atingindo a maioridade e formado suas famílias, é impossível não fazer notório o quanto esses reencontros nos levavam para o mesmo lugar, a sua casa Vó Lena. E com a nossa filharada, anotaria ela se dominasse assuntos de gramática, no seu destravado português das Minas Gerais.

Os que vieram a partir de nós, pesa saber, não tiveram, e não terão, essa oportunidade de serem criados e moldados por uma mulher de caráter e modos irrepreensíveis.

O legado, que vai separado da herança, contudo, nos enche o coração de alegria, por vermos o quanto a senhora amou cada bisneto da mesma forma, com os mesmo gestos e cuidados, ensinando as mesmas lições que recolhia dos bancos da escola das dificuldades e da gratidão a Deus por tudo.

O testamento particular será dado a ser aberto a cada geração, pelo espelho e exemplo de mãe e de ser humano que a senhora foi e perenizou.

Sabemos o quanto a senhora teve que superar de dificuldades. Sua luta que diária não conheceu derrotas. Sustentou os seus filhos com as armas e ferramentas, trabalhando pedras e terras, para os ver de corações puros, honestos e trabalhadores, sendo duas mulheres de fibra e dois homens de palavra, como pai e mãe deles, sim, senhores, sozinha e Deus, não se cansava de falar!

As correções que deu aos quatro eram de menos varas e mais atenção e colo. O que não lhe tirava a autoridade, porque funcionavam como fermento da boa e santa educação.

 Eu, tendo que abrir a alma, neste momento de luto, sobretudo pontuo algo além do seu exemplo por me admirar e mirar a sua fé, me recordo o quanto você dizia que religião não se discute: – o importante é servimos a Deus por meio do maior presente que Ele nos deu, Cristo Jesus!

 Sua caminhada de fé foi inquestionável.

Foram mais de 40 anos somente dedicado ao louvor, no Coral da Santa Cecília …………………,

Tinha que ser agora?

Chego a me arrepiar ao me lembrar de quando a senhora falava de sua amiga Cecília, da estima pela amizade de vocês!

Hoje, nesse misto de saudade dolorida, senti a alegria de poder dizer que conheci essa sua amiga, Vovó. Eu a vi cantando para a senhora. Foi algo divino. Enquanto a ouvia cantar, conseguia nitidamente ouvir sua voz, em canção de plena paz e divinal gozo espiritual.

Fico por essas palavras, as quais finalizo dizendo que nosso sentimento é de pura gratidão, pois a senhora foi, é e continuaria sendo uma eterna dádiva de Deus para nossas vidas.

A sua bênção, Vó Lena, em nome de Jesus.

Josuel Ventura de Oliveira

É empreendedor na área do Marketing Digital, estudante de Publicidade, vendendor comercial e um dos coordenadores da Estação Gospel.

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