Tragédias
Mal correram sete meses
Da partida da mãe ativa e jovem.
Como madres não vêm siameses,
Quem as têm, não esnobem!
Deixou suas filhas pequenas
Pela praga de vírus mutante.
As perdas maiores ficam amenas
Com a ida do marido, em instante.
É que sua saída pelo infarto,
De dor indescritível e fulminante,
Inverte a lógica e perspectivas do parto
Com sua reação desconcertante.
Assim me fez a inesperada condução,
De transporte de cargas e passageiros,
Ao parar na esquina; e o meu coração;
Batimentos sentidos puseram-se ligeiros.
O mal estava feito, é verdade.
A irmã, cunhada e titia, da tragicomédia,
Para, me interrogando, fiando irmandade:
– Viu? Nossa família, outra tragédia!
Duas ou mais palavras, arrasado,
Balbuciar consegui, com peito arfante.
À enlutada amiga no volante, inspirado,
Recorri os mistérios da vida passante.
Pela vontade de chorar vencidos,
E porque ela reengatava a primeira.
Mas para fugir do acontecido,
E eu, voltar pra casa, com olheira.
Os últimos passos se tornaram leves,
Pelos conselhos de conforto de Naum.
As dificuldades terríveis são neves
Ao que no Senhor confia, a cada um.
Théo Maia
05/12/2021, às 12h05.
À amiga Luciana Rezende, vizinha, amiga.