Os enfeites também envelhecem…
…mesmo que fiquem guardados vários meses ao ano e tenham um tempo de “vida” útil de mais ou menos 45 dias, eles também perecem com a ação do tempo.
Pensava nisso enquanto tirava de dentro da caixa amarelada, meus penduricalhos natalinos: “como podem estragar se eu nem os manuseio e eles ficam ‘adormecidos’ praticamente todo o ano?”, refletia, enquanto recolhia as pequenas pinhas que se desprenderam do arranjo.
O pequeno Papai Noel perdeu seus olhinhos. As bolas desbotadas pela ação do tempo estavam feias, sem viço e muitas haviam perdido o fecho que as prende à árvore .
Enquanto selecionava o que poderia usar, matutava sobre o tempo: nada e ninguém fica imune as suas consequências. Ele pode ser bom, mas também pode ser impiedoso, cruel, em seu contínuo tic-tac.
Ao longo da minha jornada acumulei um acervo considerável de enfeites. Já fiz as mais lindas árvores quando os meninos eram menores. Eles esperavam ansiosos pelo ritual natalino e a árvore era o símbolo maior de que o Papai Noel estava chegando.
Fazíamos questão de passar adiante a história contada por nossos pais e preparávamos todo o protocolo. Era uma festa!
Hoje, relutei em montar a minha. A casa vazia na maioria dos dias, eu sozinha a maior parte do tempo, desanimei.
Deitei no sofá e travei um diálogo comigo mesma:
Faço ou não faço,?
Ah, que preguiça de montar e depois desmontar; acho que esse ano não quero não!
Faça por você, faça pelo Henrique!
Foi então que me lembrei dos Natais da minha infância; na árvore de galho seco envolvida com fina camada de algodão; nas bolas coloridas de vários tamanhos enfiada na lata de 20 litros encapada com papelão; na animação que reinava na casa; na discussão do cardápio (começava a ser preparado vários dias antes); nos fogõezinhos e panelinhas de plástico que ganhávamos do Papai Noel; na vida simples e descomplicada, mas repleta de amor… tomei coragem!
Pulei do sofá e me pus a arrumar minha árvore. Aos poucos ela foi tomando forma e, entre agulha, linha e cola para fazer os “consertos”, eis que ela ficou pronta.
Em 30 anos, esta é a segunda árvore. Tenho enfeites com a idade do meu filho caçula Pedro Henrique, 21 anos ( o da foto)! Preciso repor algumas peças, porém, esse ano ela fica assim, não tá dando para gastar com supérfluos, não.
Ao final, ao pendurar a última bola, fiquei satisfeita com o resultado e pensava feliz que esse ritual nos aproxima das pessoas que amamos, principalmente daquelas que partiram e que deixaram os exemplos de fé, esperança e amor que permeiam a tradição natalina.