Mãe que me pariu
Sou filho da mãe que me pariu.
Fui expulso de sua madre.
Caí aqui como um dia ela também caiu, para vir à luz e fazer-se luz dos nossos caminhos.
Os menos de trinta anos que nos separavam de estrada nessa estada vieram escritos para nos unir vida a dentro e afora.
Mulher comum, dessas do povo, que desconheceu títulos de honra e diplomas de doutores. Se algum desavisado a tivesse agraciado com um trem desses, daria com os seus burros n’água. Deus o livre!
A concorrência era bruta. Dois acima e seis abaixo. Tinha que se haver com nove. Noves fora, zero, pois tinha meu pai na parada, Raimundo. Brabo que só ele, de gogó. Fora disso, uma moça. Digo melhor, também podia reunir todos os mais elevados e sublimes adjetivos de mãe.
As dificuldades nos fizeram forte porque ela era o nosso norte. A coisa apertava, lá vinha a sua fé empinada nos pés do trono de sua alma: Deus proverá!
Um a um criou. Deve ter inventado a profissão de cuidadora, aquela que cuida e é abençoadora dos que se alimentam dos seus afetos.
Ainda não entendi por que o tempo correu tanto contra a nossa relação de cumplicidade extremosa, abandonando-nos à orfandade como o náufrago em alto mar.
Outros postam que a sua é rainha, heroína, forte feito os imortais das telas de vídeos e desenhos que, sem ela, ficam desanimados.
Poucos a valorizam quando estão em sua tranquilizadora presença, usando o crédito rotativo de um cartão que tem limites e prazo de validade. Estão arrumando pra cabeça, a estourar suas consciências com débitos impagáveis de sentimentalidade firme qual badalos de sinos. As badaladas do seu bronze soam a remorso.
A sorte persegue um filho da mãe, não duvide.
Os que se veem no enquadramento deveriam agora estar rachando de dar risadas, pela inesgotável maravilha de ter avós, sogras, noras, filhas e suas esposas e companheiras, as fontes da decência e da descendência.
Afortunado, tive tantas e delas tenho sido fisicamente privado. A mãe dos meus filhos e avó do meu neto resiste.
Que bobagem, resistência é um treco que elas têm a dar com as suas mãos e a nos ensinar com proficiência!
Mãe é mãe!
Essa frase é includente e niveladora da metáfora da vida nascida de mulher. Oxe! Olha o seu gênero generalizando amor e bondade, da hora do parto ao colo quentinho, ao seu fruto bendito!
O presente que eu daria a ela neste segundo domingo de maio, 12, procurei e não encontrei. Faltariam recursos para o comprar ou não o acharia em nenhum lugar.
Pego-me a conversar com as emoções e, em um rasgo de inteligência racional, encontro um lugar indescritível, à maneira de um céu, do que vem no plural nos evangelhos de Jesus, cada vez mais convicto de que maternidade é dom de dar vida, mesmo depois de sua ida para o intangível da eternidade.
O nome dela faz diferença alguma.
Mãe, mãezinha, mãezona, mama, mamis. Pode ser Maria, …